Hora de lutar pelos direitos
O Dia, 26/05/2007:
VIRANDO O JOGO
HORA DE LUTAR PELOS DIREITOS
Portadores de deficiência não estão dispostos a aceitar passivamente as mudanças propostas pelo novo Estatuto. E no ano do Parapan, convocam a sociedade para debater a sua exclusão social.
POR ANA CARLA GOMES E JANIR JÚNIOR
No ano em que o Parapan-Americano será realizado no Rio, os portadores de algum tipo de deficiência física decidiram virar o jogo e lutar para que seus direitos como cidadãos não sejam suprimidos. Ontem, um grupo deles reuniu-se com políticos na sede da OAB-RJ para debater o Estatuto da Pessoa com Deficiência, que já tramita em Brasília e é considerado por eles uma ameaça.
No fórum, os participantes destacaram a importância do esporte para o deficiente vítima ou não de violência urbana, especialmente para a inclusão social e recuperação do trauma.
"Os deficientes que praticam esporte são exemplos formidáveis, e a prova do que a natureza humana é capaz. Espero que no Parapan todos se mirem nesses exemplos", afirmou o deputado federal Otávio Leite (PSDB-RJ), elogiando a série que O DIA vem publicando desde domingo e encerra hoje, com exemplos de superação através do esporte.
O também deputado federal José Sarney Filho (PV-MA) analisou a questão do Estatuto. "Existe o risco de a nova legislação anular as causas já ganhas pelos deficientes. As leis atuais devem ser respeitadas. O Estatuto está ultrapassado", afirmou o deputado.
VOLUNTÁRIO DEFICIENTE
Ricardo Dutra, presidente da Câmara Municipal de Angra dos Reis, ficou paraplégico aos 15 anos, depois de levar um tiro quando trabalhava na loja dos pais. Hoje, ele é peça importante na luta pela reintegração social através do esporte e responsável pelo projeto Núcleo de Referência na Educação, Cultura e Esporte da Pessoa com Deficiência, em Angra dos Reis. "O esporte é de suma importância para o deficiente, além do prazer que proporciona. É uma forma de mostrar as potencialidades das pessoas deficientes e reintegrá-las socialmente", afirmou Ricardo Dutra.
Até a seleção de voluntários para trabalhar no Pan-Americano e no Parapan foi elaborada de forma excludente. O Projeto de Lei 400/2007, mensagem do Executivo, não previa a participação dos deficientes. A deputada Sheila Gama (PDT), presidente da Comissão de Defesa dos Pessoas com Deficiência, lutou pela emenda e adicionou o inciso IV, do artigo 5º, com a seguinte redação: "A adoção de medidas, a fim de que seja garantida a contratação temporária das pessoas portadoras de deficiência".
A técnica de ginástica Georgette Vidor, que ficou paraplégica num acidente, debate em torno do Estatuto: "Sei por experiência própria que o esporte é o maior fator de inclusão. O Parapan vai mostrar do que os deficientes são capazes".
Atenção a atletas do Parapan
Dietmar Samulski, coordenador do departamento de apoio psicológico do Comitê Paraolímpico, afirma que será feito um trabalho direcionado com atletas que tenham alguma deficiência por conta de violência para o Parapan do Rio.
O fato de a cidade estar constantemente envolvida com episódios de violência é um fator a ser considerado.
"Vamos prepará-los mentalmente, mas com cuidados para não dar muita ênfase e aumentar o trauma. Não podemos, porém, subestimar a situação que encontrarão no Rio. Como a cidade estará na vitrine do mundo, esperamos que corra tudo bem por aqui", afirma Dietmar.
Durante o Parapan, um grupo com quatro psicólogos ficará instalado na Vila Pan-Americana para atender atletas que necessitem de auxílio. "Estamos com projeto que servirá de modelo. Os resultados estão aparecendo e são refletidos na conquista de medalhas", afirma Dietmar, que é formado em Psicologia do Esporte.
Para Dietmar, a preparação para o Parapan não depende apenas de psicólogos, mas também do apoio dos familiares.
TRAGÉDIA NA ESTRADA
FAMÍLIA DESTRUÍDA EM ACIDENTE
Rosângela Dalcin pede para sua história não ser contada de uma forma trágica, por mais dolorosa que tenha sido. Em 1985, aos 21 anos, ela se tornou uma vítima do trânsito, ao sofrer um acidente em Caxias do Sul (RS). "Meu marido era caminhoneiro e iríamos para São Paulo, quando nos deparamos com outro caminhão capotado na nossa pista. Não conseguimos desviar e acabamos despencando de uma ponte de 80 metros de altura. Meu marido ficou preso nas ferragens e eu, com o impacto, acabei caindo numa árvore", relembra Rosângela.
Seu marido ainda ficou três dias hospitalizado antes de falecer e Rosângela, que estava grávida de sete meses, perdeu o bebê e ficou paraplégica. "Demorei muito tempo para conseguir aceitar tudo o que aconteceu", relembra ela.
Rosângela, que já havia praticado várias modalidades antes do acidente, entre elas natação, tênis e arremesso de dardo, ficou 11 anos afastada do esporte.
"Havia tentado competir no basquete, mas tinha pouco equilíbrio e fiquei com medo. Só em 1996 é que percebi que o deficiente poderia realmente praticar esporte. Participava de congressos para discutir os direitos dos deficientes e, num deles, em 1996, um professor me convidou para competir no tênis de mesa", conta.
Comandada pelo técnico Luciano Possamai, Rosângela treina atualmente três horas por dia em Bento Gonçalves (RS), onde mora e trabalha na Secretaria de Desenvolvimento Econômico. A mesa-tenista já esteve no Parapan da Cidade do México, em 1999, e agora vive a expectativa pelo Parapan do Rio, em agosto. "Sempre treino em busca de alguma coisa e vou ao Rio para buscar uma medalha, sim", antecipa.
Hoje, aos 43 anos, Rosângela conta como o esporte lhe faz bem: "Minha vida mudou totalmente. Antes, ficava em casa esperando a morte chegar. O esporte é tudo na minha vida, não me imagino sem ele".
VIRANDO O JOGO
HORA DE LUTAR PELOS DIREITOS
Portadores de deficiência não estão dispostos a aceitar passivamente as mudanças propostas pelo novo Estatuto. E no ano do Parapan, convocam a sociedade para debater a sua exclusão social.
POR ANA CARLA GOMES E JANIR JÚNIOR
No ano em que o Parapan-Americano será realizado no Rio, os portadores de algum tipo de deficiência física decidiram virar o jogo e lutar para que seus direitos como cidadãos não sejam suprimidos. Ontem, um grupo deles reuniu-se com políticos na sede da OAB-RJ para debater o Estatuto da Pessoa com Deficiência, que já tramita em Brasília e é considerado por eles uma ameaça.
No fórum, os participantes destacaram a importância do esporte para o deficiente vítima ou não de violência urbana, especialmente para a inclusão social e recuperação do trauma.
"Os deficientes que praticam esporte são exemplos formidáveis, e a prova do que a natureza humana é capaz. Espero que no Parapan todos se mirem nesses exemplos", afirmou o deputado federal Otávio Leite (PSDB-RJ), elogiando a série que O DIA vem publicando desde domingo e encerra hoje, com exemplos de superação através do esporte.
O também deputado federal José Sarney Filho (PV-MA) analisou a questão do Estatuto. "Existe o risco de a nova legislação anular as causas já ganhas pelos deficientes. As leis atuais devem ser respeitadas. O Estatuto está ultrapassado", afirmou o deputado.
VOLUNTÁRIO DEFICIENTE
Ricardo Dutra, presidente da Câmara Municipal de Angra dos Reis, ficou paraplégico aos 15 anos, depois de levar um tiro quando trabalhava na loja dos pais. Hoje, ele é peça importante na luta pela reintegração social através do esporte e responsável pelo projeto Núcleo de Referência na Educação, Cultura e Esporte da Pessoa com Deficiência, em Angra dos Reis. "O esporte é de suma importância para o deficiente, além do prazer que proporciona. É uma forma de mostrar as potencialidades das pessoas deficientes e reintegrá-las socialmente", afirmou Ricardo Dutra.
Até a seleção de voluntários para trabalhar no Pan-Americano e no Parapan foi elaborada de forma excludente. O Projeto de Lei 400/2007, mensagem do Executivo, não previa a participação dos deficientes. A deputada Sheila Gama (PDT), presidente da Comissão de Defesa dos Pessoas com Deficiência, lutou pela emenda e adicionou o inciso IV, do artigo 5º, com a seguinte redação: "A adoção de medidas, a fim de que seja garantida a contratação temporária das pessoas portadoras de deficiência".
A técnica de ginástica Georgette Vidor, que ficou paraplégica num acidente, debate em torno do Estatuto: "Sei por experiência própria que o esporte é o maior fator de inclusão. O Parapan vai mostrar do que os deficientes são capazes".
Atenção a atletas do Parapan
Dietmar Samulski, coordenador do departamento de apoio psicológico do Comitê Paraolímpico, afirma que será feito um trabalho direcionado com atletas que tenham alguma deficiência por conta de violência para o Parapan do Rio.
O fato de a cidade estar constantemente envolvida com episódios de violência é um fator a ser considerado.
"Vamos prepará-los mentalmente, mas com cuidados para não dar muita ênfase e aumentar o trauma. Não podemos, porém, subestimar a situação que encontrarão no Rio. Como a cidade estará na vitrine do mundo, esperamos que corra tudo bem por aqui", afirma Dietmar.
Durante o Parapan, um grupo com quatro psicólogos ficará instalado na Vila Pan-Americana para atender atletas que necessitem de auxílio. "Estamos com projeto que servirá de modelo. Os resultados estão aparecendo e são refletidos na conquista de medalhas", afirma Dietmar, que é formado em Psicologia do Esporte.
Para Dietmar, a preparação para o Parapan não depende apenas de psicólogos, mas também do apoio dos familiares.
TRAGÉDIA NA ESTRADA
FAMÍLIA DESTRUÍDA EM ACIDENTE
Rosângela Dalcin pede para sua história não ser contada de uma forma trágica, por mais dolorosa que tenha sido. Em 1985, aos 21 anos, ela se tornou uma vítima do trânsito, ao sofrer um acidente em Caxias do Sul (RS). "Meu marido era caminhoneiro e iríamos para São Paulo, quando nos deparamos com outro caminhão capotado na nossa pista. Não conseguimos desviar e acabamos despencando de uma ponte de 80 metros de altura. Meu marido ficou preso nas ferragens e eu, com o impacto, acabei caindo numa árvore", relembra Rosângela.
Seu marido ainda ficou três dias hospitalizado antes de falecer e Rosângela, que estava grávida de sete meses, perdeu o bebê e ficou paraplégica. "Demorei muito tempo para conseguir aceitar tudo o que aconteceu", relembra ela.
Rosângela, que já havia praticado várias modalidades antes do acidente, entre elas natação, tênis e arremesso de dardo, ficou 11 anos afastada do esporte.
"Havia tentado competir no basquete, mas tinha pouco equilíbrio e fiquei com medo. Só em 1996 é que percebi que o deficiente poderia realmente praticar esporte. Participava de congressos para discutir os direitos dos deficientes e, num deles, em 1996, um professor me convidou para competir no tênis de mesa", conta.
Comandada pelo técnico Luciano Possamai, Rosângela treina atualmente três horas por dia em Bento Gonçalves (RS), onde mora e trabalha na Secretaria de Desenvolvimento Econômico. A mesa-tenista já esteve no Parapan da Cidade do México, em 1999, e agora vive a expectativa pelo Parapan do Rio, em agosto. "Sempre treino em busca de alguma coisa e vou ao Rio para buscar uma medalha, sim", antecipa.
Hoje, aos 43 anos, Rosângela conta como o esporte lhe faz bem: "Minha vida mudou totalmente. Antes, ficava em casa esperando a morte chegar. O esporte é tudo na minha vida, não me imagino sem ele".
1 Comentários:
bom comeco
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