20.2.08

Causa real e efeito prático

Jackson Vasconcelos

A revista Veja, edição desta semana - 18 de fevereiro - traz uma entrevista do deputado federal por São Paulo, José Eduardo Cardoso, Secretário-Geral PT de São Paulo, ao jornalista Otávio Cabral. A entrevista é matéria nas folhas amarelas e recebeu o título de “O mensalão existiu”.

A revista traz também, a partir da página 66, o trabalho do jornalista Thomaz Favaro, da Sucursal de Helsinque, sobre a educação finlandesa, com o título “A melhor escola do mundo”.

As duas matérias, de certo modo, se completam.

O deputado José Eduardo Cardoso é um político de qualidade, pouco conhecido no quadro nacional. Um Dom Quixote, sem Sancho Pancho para importuná-lo com a realidade, na luta que move contra a corrupção.

Na entrevista, o deputado José Eduardo Cardoso repete um comportamento que percebi nele no tempo da CPMI dos Correios. Eu, por conta de um contrato de trabalho com a Denise Frossard, participei intensamente dos bastidores e estive bem perto das cenas da Comissão Parlamentar de Inquérito de mais significado, a CPMI dos Correios. O deputado José Eduardo Cardoso bateu duro nos companheiros do PT e nos aliados do governo, mas, com maturidade e equilíbrio suficientes a não permitir que a sua imparcialidade fosse instrumento de ação política do pessoal do PSDB e do DEM.

O deputado terminou a entrevista a Otávio Cabral com uma declaração interessante, que demonstrou seu desalento com o modo como se pratica a política no Brasil. Otávio Cabral perguntou: “… ser político hoje é motivo de orgulho?” José Eduardo Cardoso respondeu: “As pessoas entram na política por idealismo, por vaidade, por carreirismo e alguns até pela perspectiva do enriquecimento. Enquanto esse sistema prevalecer, aqueles que entram buscando agir de forma séria sofrem um ônus pessoal tão grande que vão deixando a política (…). (…) cada vez mais vejo pessoas honestas saindo da política. E cada vez mais tende a aumentar a participação de pessoas desonestas, do crime organizado, de setores sem nenhum compromisso com o interesse público. Sem a reforma política, os éticos correm o risco de serem derrotados definitivamente pelos desonestos”.

Discordo. Não será a reforma política o instrumento essencial para melhorar a qualidade dos políticos. Pode, quando muito, melhorar um pouco a qualidade da representação, mas nunca o conceito de ética e honestidade como condições essenciais para o exercício de mandatos e poder. A resposta correta está embutida na outra matéria da VEJA, a que comenta a educação finlandesa e a compara, em resultados, à educação brasileira.

A matéria de Thomaz Favaro demonstra dados. Na Finlândia, os alunos permanecem mais tempo nas escolas; 995 horas por ano, contra 800 horas por ano. 100% dos professores finlandeses do ensino fundamental possuem curso de mestrado. No Brasil somente 2% dos professores do mesmo nível possuem o mesmo grau de qualificação. A Finlândia queima 6,1% do seu PIB nos gastos com a educação de qualidade; o Brasil queima 3,9% com uma péssima estrutura de educação.

Thomaz Favaro faz uma relação de causa e efeito, entre a qualificação dos professores e a qualidade da educação e como argumento, ele apresenta na matéria os resultados das avaliações feitas pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), em 2006, sobre a qualidade do ensino em 57 países. A Finlândia encabeça o ranking e o Brasil disputa as últimas posições.

“A melhor escola do mundo”, de Thomaz Favaro, sinaliza ao entrevistado por Otávio Cabral em “O mensalão existiu”, que tem bem mais da necessidade de uma reforma educacional do que de uma reforma política nessa nossa estrutura onde a ética é pura retórica e o roubo uma prática compensada pelo fazer qualquer coisa que nos agrade.

O sinal inserido na matéria “A melhor escola do mundo” se confirma como dado real nos dados oferecidos ao mundo inteiro pela Organização Transparência Internacional, que avalia periodicamente 145 países do mundo sob a ótica da percepção de existência de corrupção em suas estruturas administrativas. Lá, a Finlândia ocupa o primeiro lugar, como ocupa no ranking de 56 países avaliados no quesito “qualidade de ensino”. O Brasil ocupa o 59º lugar no ranking da corrupção e 53º, entre 57, em qualidade no ensino.

É, ou não é isso?

*Jackson Vasconcelos é economista e editor do site www.estrategiaeconsultoria.com.br

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