5.5.07

Gretchen, eu te amo!

ANDREI BASTOS

Há muito tempo carrego um segredo que agora, com a maturidade de cinqüentão perturbada por acontecimentos recentes, sou obrigado a revelar, assumindo finalmente uma posição clara em conflito existencial que vivo desde os 27 anos. A dificuldade em assumir foi provocada pela formação moral e intelectual carregada de preconceitos que meus pais me deram. Moralmente marcado pelo machismo, fui impedido de avaliar e aceitar plenamente as características mais femininas das mulheres brasileiras, e, intelectualmente gestado pela pretensão e arrogância pequeno-burguesas, fui impedido de apreciar e valorizar adequadamente os prazeres proporcionados pela alma e pelo sangue dominantes abaixo da linha do Equador.

Eu era um garoto que amava os Beatles e os Rolling Stones, mas amava Gretchen também! Só que no meio em que eu vivia, mais para nouvelle vague do que para cabaret de beira de estrada, não podia dizer do amor que tinha, e que estava tomado pelo fogo das sensações transmitidas pela dança sensual da minha musa latina e brega, minha Madonna tropical. Fui hipnotizado no primeiro instante em que olhei para seus cabelos e olhos negros, para sua boca desenhada pelo desejo, para suas coxas monumentais, realçadas pela minissaia e pelas botas de cano longo, e para sua bunda não menos monumental, sem equivalentes em outras terras.

Quando li na imprensa gozações e críticas à sua iniciativa de ingressar na política partidária, inclusive usando o termo "bundão" em comparações incorretas, pois de um lado temos uma dádiva da natureza e, de outro, uma desprezível condição moral e psicológica muito comum hoje em dia, selei meu cavalo, vesti minha armadura e, cavaleiro medieval, aqui estou para defender a decisão da injustiçada dama. No que diz respeito a restrições mais pesadas, só tomei conhecimento da divulgação do fato de que ela estrelou filmes eróticos. Nada de corrupção (passiva ou ativa), desvio de dinheiro público, caixa dois, negociações de sentenças judiciais, contas bancárias no exterior, encomendas de assassinatos e outras coisas "que todo mundo faz" no Brasil, particularmente os políticos. Ora, como nosso sábio ministro do Supremo Tribunal Federal Eros Grau sentenciou que o erotismo é libertário, esta bem pode vir a ser uma bandeira da candidata Gretchen, no que terá meu apoio.

Não conheço pessoalmente minha musa, e em nenhum aspecto tenho proximidade da sua vida, infelizmente, à exceção da sua carreira artística, que todos acompanham. Meu amor sempre foi platônico, mas isso não vem ao caso, pois o que interessa aqui é refletir sobre ser ou não ser bundão e não preciso saber mais do que sei sobre minha amada.

Além da impropriedade cometida na comparação de bundões de naturezas diferentes, é necessário dizer que do ponto de vista de bundões morais e psicológicos, se todas as pessoas de bem do país também tomassem a iniciativa de participar da política partidária, o Brasil se resolveria em dois dias. É claro que não podemos chamar de bundona a maioria dos milhões de eleitores de parlamentares ou governantes ladrões, corruptos e safados de toda espécie porque ela é composta de brasileiros desamparados, que trocam votos por pratos de comida ou são conduzidos pelo medo de miséria maior ou mesmo da morte. Mas à minoria sabichona de privilegiados da classe dominante, podemos e devemos chamar de bundona, pois são poucos os seus integrantes que metem a mão na massa fétida da política para fazer o mínimo que seja pela melhoria da realidade.

Portanto, depois de registrar que as manifestações a respeito da decisão da minha musa de que tomei conhecimento partiram de humoristas, o que é bom, pois o humor também é libertário, espero que ela corresponda às minhas expectativas apaixonadas na política e que sua atitude motive muitas mulheres e homens de bem do nosso país a ingressar nos partidos e a começar, por dentro, a fazer as mudanças necessárias para melhorar o Brasil.

Livre de preconceitos, finalmente posso dizer: Gretchen, eu te amo!

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