Ismar Cardona, muito obrigado.
Em 1982, quando eu estava literalmente na sarjeta por causa de alcoolismo, Ismar Cardona me deu emprego no seu O Indicador Rural, como responsável pela Produção Gráfica da Editora Semente. Parei de beber logo depois.
Do Blog do Noblat, 20/07/2007 (trechos):
Enviado por Sheila D’ Amorim e Vicente Nunes - 20.7.2007 12h39m
Morreu o jornalista Ismar Cardona
Quem teve a felicidade de conviver com o Ismar vai concordar que a melhor palavra para defini-lo é Mestre. É! Mestre do saber, do carinho, da vida.
Você se sentia perdido? O mestre Ismar sempre sabia como nos guiar.
Depois, com o tempo, vimos que o mestre ia além de orientações profissionais. Nos ensinou a viver melhor. Nos deu carinho, amizade, generosidade. A gente não encontra um Ismar por aí todo dia. Ele era único. E, por isso, nos sentimos privilegiados. Sua marca como jornalista seguirá com os incontáveis profissionais que ele formou em várias gerações. Seus feitos estão registrados nas páginas dos principais jornais do país e ficam como parte da história. Mas seu maior legado é ter nos ensinado a sermos pessoas melhores, a apreciar a beleza da vida nas coisas mais simples. Isso ficará sempre conosco e irá para nossos filhos. O jornalista Ismar Cardona, um dos pioneiros do jornalismo econômico, morreu hoje em sua casa, em Brasília, depois de uma longa batalha contra um câncer.
*Por Sheila D’ Amorim, Vicente Nunes, Jesus Ribeiro, Regina Pires em nome dos amigos do Ismar.
Entrevista realizada em 2004 com o jornalista Ismar Cardona, falecido no dia 20, recolhida na internet por Gilberto Menezes Côrtes:
O agronegócio na midia brasileira
Entrevista com Ismar Cardona, realizada por Heloiza Dias, jornalista da Embrapa e mestranda em Comunicação Social da UMESP.
O jornalista Ismar Cardona Machado (62), gaúcho de Passo Fundo, formou-se pela Escola de Jornalismo da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, em 1964. Especialista em assuntos econômicos, tem ampla experiência na mídia nacional, onde começou como estagiário do Jornal do Commercio (RJ) e das revistas Manchete e Fatos & Fotos. Entre as inúmeras funções exercidas ao longo de sua carreira foi redator do Diário Carioca, repórter da sucursal da Folha de S. Paulo, no Rio de Janeiro, coordenador nacional do Repórter Esso, repórter da revista Veja, editor de economia de O Globo (RJ), diretor-proprietário do jornal Indicador Rural (1982-90) e chefe da sucursal de O Globo em Brasília. Foi ainda editor de economia, repórter especial e editor de opinião do jornal Correio Braziliense e diretor de redação da sucursal da Gazeta Mercantil em Brasília. De 1997 a 1998 exerceu a função de assessor de imprensa do Ministério da Saúde e atualmente coordena a comunicação do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento.
C, A & MA: O agronegócio sempre foi pouco prestigiado pela grande imprensa. No entanto, observa-se que de cinco anos para cá, o segmento tem conquistado mais espaço em veículos tradicionais da mídia diária, como os jornais O Globo e o Jornal do Brasil, e revistas semanais como Veja e Isto É. Na sua opinião, a que se deve essa mudança?
Ismar Cardona: Não posso responder a isso sem antes fazer uma pequena retrospectiva. Eu sempre estive envolvido com o segmento agropecuário, desde a época em que eu trabalhava em O Globo. No entanto, a minha experiência jornalística na área do agronegócio começou com mais ênfase quando eu criei o jornal Indicador Rural, em 1982. Nessa época eu ainda conduzia um programa de televisão na rede Bandeirantes também chamado Indicador Rural, que ficou no ar durante dez anos. O Indicador Rural foi o primeiro jornal a trazer o conceito de agronegócio e foi criado em um momento em que a grande imprensa não dava importância ao setor. Estamos falando dos anos 70 e 80, época em que o agronegócio ainda encontrava-se desprestigiado politicamente. Eu havia saído da Veja para montar a editoria de economia de O Globo, onde fiquei de 1972 a 1982. Nesses dez anos recebi milhares de telefonemas de empresários - grandes, pequenos, médios, micros - dos setores industrial, comercial, de serviços -, e atendi inúmeros dirigentes de órgãos de classe e do setor financeiro. Não recebi, contudo, um telefonema sequer de alguém da área agrícola, A área não tinha importância e a mídia reproduzia isso. O que era aquilo? Todo o modelo econômico brasileiro era focado no processo de industrialização acelerada. E isso, historicamente, começou com Getúlio Vargas, com Volta Redonda, com os Tenentes, com a visão nacionalista, com a criação do BNDES, da Petrobrás, do salário mínimo. O reformador do aparelho brasileiro foi o Getúlio Vargas. Veio o Juscelino Kubitschek em plena efervescência, com aquele espírito da CEPAL (Comissão Econômica para a América Latina), pelo qual os países emergentes só poderiam aspirar melhor status se investissem na industrialização, porque eles comparavam preço de matéria-prima com preço de manufaturado. Enquanto os preços dos produtos primários cresciam a uma relação de três, quatro vezes, os preços dos manufaturados - minério de ferro, cobre , carvão, cresciam a uma relação de sete, oito vezes. Era muito desproporcional. Se os países subdesenvolvidos continuassem atrelados a esse modelo, de mero estocadores de matéria-prima, não sairiam do lugar. Assim, o governo de Juscelino foi um marco nesse sentido, pois ali começou esse processo, integrado ao Plano de Metas. Esse Plano contemplava programas em várias áreas: construção naval, indústria de metal, mecânica, indústria automobilística, indústria química, todos voltados totalmente para a industrialização acelerada. Quem pagava a conta era a agricultura, o café sobretudo, responsável na época por 60%, 70% da nossa pauta de exportação. Brasília e o Plano de Metas foram financiados pela cafeicultura, via confisco. Tanto isso é verdade que Tancredo Neves, em entrevista ao O Globo disse que o governo Juscelino foi ao mesmo tempo o auge do PSD, partido de base rural, e o começo do fim do PSD, em função da aliança que ele, Juscelino, fez com o PTB, um partido urbano-industrial. Embora a agricultura já viesse perdendo força política, isso ficou mais claro, evidente, a partir dessa aliança promovida por Juscelino entre os dois partidos.
Do Blog do Noblat, 20/07/2007 (trechos):
Enviado por Sheila D’ Amorim e Vicente Nunes - 20.7.2007 12h39m
Morreu o jornalista Ismar Cardona
Quem teve a felicidade de conviver com o Ismar vai concordar que a melhor palavra para defini-lo é Mestre. É! Mestre do saber, do carinho, da vida.
Você se sentia perdido? O mestre Ismar sempre sabia como nos guiar.
Depois, com o tempo, vimos que o mestre ia além de orientações profissionais. Nos ensinou a viver melhor. Nos deu carinho, amizade, generosidade. A gente não encontra um Ismar por aí todo dia. Ele era único. E, por isso, nos sentimos privilegiados. Sua marca como jornalista seguirá com os incontáveis profissionais que ele formou em várias gerações. Seus feitos estão registrados nas páginas dos principais jornais do país e ficam como parte da história. Mas seu maior legado é ter nos ensinado a sermos pessoas melhores, a apreciar a beleza da vida nas coisas mais simples. Isso ficará sempre conosco e irá para nossos filhos. O jornalista Ismar Cardona, um dos pioneiros do jornalismo econômico, morreu hoje em sua casa, em Brasília, depois de uma longa batalha contra um câncer.
*Por Sheila D’ Amorim, Vicente Nunes, Jesus Ribeiro, Regina Pires em nome dos amigos do Ismar.
Entrevista realizada em 2004 com o jornalista Ismar Cardona, falecido no dia 20, recolhida na internet por Gilberto Menezes Côrtes:
O agronegócio na midia brasileira
Entrevista com Ismar Cardona, realizada por Heloiza Dias, jornalista da Embrapa e mestranda em Comunicação Social da UMESP.
O jornalista Ismar Cardona Machado (62), gaúcho de Passo Fundo, formou-se pela Escola de Jornalismo da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, em 1964. Especialista em assuntos econômicos, tem ampla experiência na mídia nacional, onde começou como estagiário do Jornal do Commercio (RJ) e das revistas Manchete e Fatos & Fotos. Entre as inúmeras funções exercidas ao longo de sua carreira foi redator do Diário Carioca, repórter da sucursal da Folha de S. Paulo, no Rio de Janeiro, coordenador nacional do Repórter Esso, repórter da revista Veja, editor de economia de O Globo (RJ), diretor-proprietário do jornal Indicador Rural (1982-90) e chefe da sucursal de O Globo em Brasília. Foi ainda editor de economia, repórter especial e editor de opinião do jornal Correio Braziliense e diretor de redação da sucursal da Gazeta Mercantil em Brasília. De 1997 a 1998 exerceu a função de assessor de imprensa do Ministério da Saúde e atualmente coordena a comunicação do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento.
C, A & MA: O agronegócio sempre foi pouco prestigiado pela grande imprensa. No entanto, observa-se que de cinco anos para cá, o segmento tem conquistado mais espaço em veículos tradicionais da mídia diária, como os jornais O Globo e o Jornal do Brasil, e revistas semanais como Veja e Isto É. Na sua opinião, a que se deve essa mudança?
Ismar Cardona: Não posso responder a isso sem antes fazer uma pequena retrospectiva. Eu sempre estive envolvido com o segmento agropecuário, desde a época em que eu trabalhava em O Globo. No entanto, a minha experiência jornalística na área do agronegócio começou com mais ênfase quando eu criei o jornal Indicador Rural, em 1982. Nessa época eu ainda conduzia um programa de televisão na rede Bandeirantes também chamado Indicador Rural, que ficou no ar durante dez anos. O Indicador Rural foi o primeiro jornal a trazer o conceito de agronegócio e foi criado em um momento em que a grande imprensa não dava importância ao setor. Estamos falando dos anos 70 e 80, época em que o agronegócio ainda encontrava-se desprestigiado politicamente. Eu havia saído da Veja para montar a editoria de economia de O Globo, onde fiquei de 1972 a 1982. Nesses dez anos recebi milhares de telefonemas de empresários - grandes, pequenos, médios, micros - dos setores industrial, comercial, de serviços -, e atendi inúmeros dirigentes de órgãos de classe e do setor financeiro. Não recebi, contudo, um telefonema sequer de alguém da área agrícola, A área não tinha importância e a mídia reproduzia isso. O que era aquilo? Todo o modelo econômico brasileiro era focado no processo de industrialização acelerada. E isso, historicamente, começou com Getúlio Vargas, com Volta Redonda, com os Tenentes, com a visão nacionalista, com a criação do BNDES, da Petrobrás, do salário mínimo. O reformador do aparelho brasileiro foi o Getúlio Vargas. Veio o Juscelino Kubitschek em plena efervescência, com aquele espírito da CEPAL (Comissão Econômica para a América Latina), pelo qual os países emergentes só poderiam aspirar melhor status se investissem na industrialização, porque eles comparavam preço de matéria-prima com preço de manufaturado. Enquanto os preços dos produtos primários cresciam a uma relação de três, quatro vezes, os preços dos manufaturados - minério de ferro, cobre , carvão, cresciam a uma relação de sete, oito vezes. Era muito desproporcional. Se os países subdesenvolvidos continuassem atrelados a esse modelo, de mero estocadores de matéria-prima, não sairiam do lugar. Assim, o governo de Juscelino foi um marco nesse sentido, pois ali começou esse processo, integrado ao Plano de Metas. Esse Plano contemplava programas em várias áreas: construção naval, indústria de metal, mecânica, indústria automobilística, indústria química, todos voltados totalmente para a industrialização acelerada. Quem pagava a conta era a agricultura, o café sobretudo, responsável na época por 60%, 70% da nossa pauta de exportação. Brasília e o Plano de Metas foram financiados pela cafeicultura, via confisco. Tanto isso é verdade que Tancredo Neves, em entrevista ao O Globo disse que o governo Juscelino foi ao mesmo tempo o auge do PSD, partido de base rural, e o começo do fim do PSD, em função da aliança que ele, Juscelino, fez com o PTB, um partido urbano-industrial. Embora a agricultura já viesse perdendo força política, isso ficou mais claro, evidente, a partir dessa aliança promovida por Juscelino entre os dois partidos.
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