Que mêda!
Texto sobre a ameaça, a sério ou de brincadeirinha, que o senador Paim fez a pessoas com deficiência contrárias ao Estatuto dele ou de qualquer outro "painho" dos deficientes.
ANDREI BASTOS
No encontro em que eu e mais quatro pessoas com deficiência tentamos apresentar argumentos contrários à idéia de qualquer Estatuto da Pessoa com Deficiência ao senador Paim (PT/RS) fui surpreendido pelas suas palavras, quando ele disse à cabeceira da mesa de reuniões do seu gabinete em Brasília que “no Sul, quem é contra o Estatuto leva bala!”. Na hora, pensei em falar duas coisas: a primeira, coerente com o instinto de sobrevivência natural do ser humano, com ou sem deficiência, e que vem antes de tudo, foi “ainda bem que meu colete é à prova de balas” (hahaha); a segunda, inteiramente de acordo com o clima pastelão e de bravatas imprimido pelo senador à reunião, foi “que mêda!”. Em todo caso, se eu vier a levar bala, todos já sabem por onde começar (e talvez terminar) a investigação.
Em respeito aos meus companheiros e a todos os brasileiros com deficiência como eu, fiz um esforço e me controlei, certamente evitando que o encontro se encerrasse abruptamente, como aliás o parlamentar já ameaçara no começo da conversa, ao se sentir “ofendido” quando eu disse “que sua louvável história de serviços prestados ao Brasil e aos brasileiros, particularmente aos trabalhadores, ficaria manchada pelo projeto de lei 7.699/06 que tramita na Câmara Federal, tanto pelo retrocesso que representa como pelo simples fato de ser uma proposta de Estatuto, o que se constitui em tutela excepcional e excludente das pessoas com deficiência, humilhando, portanto, a quem se libertou ou precisa se libertar da humilhação”. Pois é: assim como ele se sentiu ofendido, eu me senti ameaçado.
What porra is that?, pensei, encarando a realidade, e deixei o papo seguir, prestando muita atenção às palavras e gestos do senador. Aliás, um gesto em especial, repetido insistentemente, despertou minha atenção: eu estava sentado à esquerda do “dono da casa” e mesmo quando ele se dirigia às outras pessoas sempre pousava sua mão esquerda, a do coração, no meu braço ou mão. Cheguei a pensar que poderia estar rolando um clima, de simpatia às minhas idéias de que o Estatuto da Pessoa com Deficiência é a Constituição, é claro. Um pouco pensando nisso, outro pouco procurando conquistar o direito de expor meus argumentos, passei a me dirigir ao senador com o mesmo gesto de “pegação” de braço ou mão, mas logo notei que isso o contrariava. Talvez ele considere que tal comportamento seja uma prerrogativa de quem está por cima da carne seca, ou melhor, do churrasco.
Como também sou meio autista, deixei o barco correr, continuei me comportando de maneira talvez imprópria para as expectativas do anfitrião e comecei a desenvolver a cisma que desembocou neste artigo. Ou seja: mesmo que a referência a levar bala por ser contra o Estatuto tenha sido no sentido figurado, não deixa de ser uma ameaça e revela o autoritarismo do seu autor. E quem é Paim para ameaçar assim, ou de qualquer outro modo, a quem discorda de sua idéia fixa, apenas porque exerce um mandato de senador e tem mania de Estatuto? Se ele estivesse disposto a ouvir, eu lhe sugeriria que então rasgasse a Constituição e propusesse 190 milhões de Estatutos, um para cada brasileiro.
Mas respondendo à pergunta do parágrafo anterior, Paim não é nada e atitudes como a dele estão de acordo com um Congresso de homenzinhos de merda, com raras exceções, que tiveram (espero) um presidente do Senado como Renan Calheiros e se tratam reciprocamente por “excelência” em cacoete neurótico, pois em cada grupo de 300 palavras de seus discursos referindo-se a colegas, 500 são “excelência”, o que denuncia um enorme esforço inconsciente para compensar a pequenez dos seus espíritos.
Que merda!
ANDREI BASTOS
No encontro em que eu e mais quatro pessoas com deficiência tentamos apresentar argumentos contrários à idéia de qualquer Estatuto da Pessoa com Deficiência ao senador Paim (PT/RS) fui surpreendido pelas suas palavras, quando ele disse à cabeceira da mesa de reuniões do seu gabinete em Brasília que “no Sul, quem é contra o Estatuto leva bala!”. Na hora, pensei em falar duas coisas: a primeira, coerente com o instinto de sobrevivência natural do ser humano, com ou sem deficiência, e que vem antes de tudo, foi “ainda bem que meu colete é à prova de balas” (hahaha); a segunda, inteiramente de acordo com o clima pastelão e de bravatas imprimido pelo senador à reunião, foi “que mêda!”. Em todo caso, se eu vier a levar bala, todos já sabem por onde começar (e talvez terminar) a investigação.
Em respeito aos meus companheiros e a todos os brasileiros com deficiência como eu, fiz um esforço e me controlei, certamente evitando que o encontro se encerrasse abruptamente, como aliás o parlamentar já ameaçara no começo da conversa, ao se sentir “ofendido” quando eu disse “que sua louvável história de serviços prestados ao Brasil e aos brasileiros, particularmente aos trabalhadores, ficaria manchada pelo projeto de lei 7.699/06 que tramita na Câmara Federal, tanto pelo retrocesso que representa como pelo simples fato de ser uma proposta de Estatuto, o que se constitui em tutela excepcional e excludente das pessoas com deficiência, humilhando, portanto, a quem se libertou ou precisa se libertar da humilhação”. Pois é: assim como ele se sentiu ofendido, eu me senti ameaçado.
What porra is that?, pensei, encarando a realidade, e deixei o papo seguir, prestando muita atenção às palavras e gestos do senador. Aliás, um gesto em especial, repetido insistentemente, despertou minha atenção: eu estava sentado à esquerda do “dono da casa” e mesmo quando ele se dirigia às outras pessoas sempre pousava sua mão esquerda, a do coração, no meu braço ou mão. Cheguei a pensar que poderia estar rolando um clima, de simpatia às minhas idéias de que o Estatuto da Pessoa com Deficiência é a Constituição, é claro. Um pouco pensando nisso, outro pouco procurando conquistar o direito de expor meus argumentos, passei a me dirigir ao senador com o mesmo gesto de “pegação” de braço ou mão, mas logo notei que isso o contrariava. Talvez ele considere que tal comportamento seja uma prerrogativa de quem está por cima da carne seca, ou melhor, do churrasco.
Como também sou meio autista, deixei o barco correr, continuei me comportando de maneira talvez imprópria para as expectativas do anfitrião e comecei a desenvolver a cisma que desembocou neste artigo. Ou seja: mesmo que a referência a levar bala por ser contra o Estatuto tenha sido no sentido figurado, não deixa de ser uma ameaça e revela o autoritarismo do seu autor. E quem é Paim para ameaçar assim, ou de qualquer outro modo, a quem discorda de sua idéia fixa, apenas porque exerce um mandato de senador e tem mania de Estatuto? Se ele estivesse disposto a ouvir, eu lhe sugeriria que então rasgasse a Constituição e propusesse 190 milhões de Estatutos, um para cada brasileiro.
Mas respondendo à pergunta do parágrafo anterior, Paim não é nada e atitudes como a dele estão de acordo com um Congresso de homenzinhos de merda, com raras exceções, que tiveram (espero) um presidente do Senado como Renan Calheiros e se tratam reciprocamente por “excelência” em cacoete neurótico, pois em cada grupo de 300 palavras de seus discursos referindo-se a colegas, 500 são “excelência”, o que denuncia um enorme esforço inconsciente para compensar a pequenez dos seus espíritos.
Que merda!
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