26.2.07

Amor no Carnaval, amor na vida inteira

Histórias de casais com deficiência apaixonados no Sambódromo

O desfile das Escolas de Samba na Marquês de Sapucaí, a maior festa para os sentidos do mundo, foi cenário para a felicidade dos casais Louise Marie Alves e Felipe Moreira Saúde, os dois com Síndrome de Down, e Ivete Rita e Roberto dos Santos, cegos. Os casais também representaram um encontro de gerações de pessoas com deficiência no amor, pois Louise Marie e Felipe têm 19 anos, Ivete, com perdão da indiscrição, tem 60 bem vividos e animados anos e Roberto, seu companheiro, já fez 55 anos da mais tradicional, sábia e saudável carioquice.

Como não poderia deixar de ser em Carnaval que se preze, a jovem Louise Marie, que revelou especial atração pelos flashes da máquina fotográfica, e a vaidosa Ivete, que fez questão de arrumar o cabelo e maquiar os lábios para tirar as fotos, esbanjaram sensualidade e beleza, deixando seus acompanhantes com indisfarçável orgulho masculino. A sensualidade das duas era claramente percebida, e apreciada, na dança de quem nasce com samba da cabeça aos pés, a despeito da vantagem de Ivete, que nasceu com samba também no sangue de negra.

Moradora de Jacarepaguá, Louise Marie é namorada de Felipe desde os seis anos, quando ambos estudavam em turma especial da Escola Carolina Patrício, no Recreio dos Bandeirantes. Este ano não vai ser igual porque Louise foi para uma turma de inclusão do Colégio Carmo Mangia, também no Recreio, e o namorado, morador da Barra, ficou na escola antiga. Mas não tem problema porque o amor dos dois supera tudo, até diferenças graves como ela ser Beija-Flor e ele Mangueira.

Ivete e Roberto, moradores de Guadalupe, estão casados desde 1991 e não têm rivais em seu amor às Escolas de Samba. “Eles vêm todo ano, todos os dias, e ficam até o final”, diz Esther, afilhada de Ivete, que sempre os acompanha nessas maratonas carnavalescas, deixando claro que não é uma reclamação, pois eles não se incomodam quando ela ajeita as bolsas como travesseiros e dorme de cansaço.

Roberto perdeu a visão aos 39 anos, num acidente, e trabalha como técnico de câmara escura (Raios X) no hospital de Saracuruna. Ivete perdeu a visão de um olho aos 9 anos e a do outro aos 37 e também trabalhou como técnica de câmara escura, no Hospital Cardoso Fontes, mas por pouco tempo. Ela é professora e fez especialização para ensinar deficientes visuais no Instituto de Educação do Estado do Rio de Janeiro. Não tendo sido aceita em nenhuma escola, ela se dedica a ensinar crianças cegas em sua própria casa. Muito animada com a vida, passou no vestibular para Pedagogia, que vai estudar na Universidade Veiga de Almeida, e faz curso de Espanhol na UERJ - Universidade do Estado do Rio de Janeiro. É mole?!

Até o ano que vem, carnavalescos apaixonados!

O charme de Louise Marie no Carnaval



















Os namorados Felipe e Louise Marie














O casal Ivete e Roberto













14.2.07

João, versículo 07-02-2007

ANDREI BASTOS

João, espero que sua morte tenha acontecido no primeiro momento, na primeira piedosa pancada em sua cabeça de menino, quando você ainda poderia estar pensando que começava alguma confusa aventura radical, como numa montanha russa de parque de diversões.

Sim, João, espero que sua morte tenha sido desse jeito, com toda a sinceridade do meu coração cheio de culpa. De culpa, João, porque eu sou o responsável pelo que aconteceu. Na verdade, nenhum de nós, que ficamos neste mundo de bárbaros, somos dignos de você.

Afinal, os menos culpados são os delinqüentes que roubaram o carro da sua mãe e saíram feito Clóvis no Carnaval, desferindo golpes na nossa consciência com seu frágil corpo de criança. Você, com sua sabedoria infantil, deve ter compreendido isso também num primeiro instante, quando tudo deixou de parecer o que poderia ter imaginado como confusa e tumultuada brincadeira.

Agora você está no Céu brincando feliz com muitos outros anjos crianças, pode ver com clareza nossa infelicidade aqui na Terra e entende o que meu coração entristecido tenta dizer:

Os culpados somos nós, corruptos, que roubamos o dinheiro que poderia proporcionar mais oportunidades na vida para os pobres e, com isso, promovemos a degeneração social em que vivemos; somos nós, gananciosos, que não temos tempo para realizar as coisas mais simples para o bem comum; somos nós, negociantes de leis e sentenças, que deformamos na essência a ética que deveria determinar os rumos da pobre vida neste país. Somos todos nós, indignos de você.

A lista é muito maior, você sabe muito bem disso, João, aí no meio das nuvens, enquanto corre de uma para a outra brincando de pique-esconde com seus novos amigos, eternos graças a Deus.

Perdoe-nos, João.

13.2.07

O Maraca está beleza!

Site do IBDD (www.ibdd.org.br), Notícias, 13/02/2007:

A Suderj informa: Torcedores com deficiência sem problemas no templo do futebol

Ao contrário do que a imprensa noticiou, o Estádio Mário Filho, vulgo “Maraca”, ou Maracanã para os não tão íntimos, encontra-se absolutamente acessível às pessoas com deficiência.

No dia 5 de fevereiro, antes de tomar qualquer providência de ordem judicial, os “torcedores profissionais” com deficiência do IBDD Alexandre Magnavita e Luiz Cláudio Pereira, acompanhados de Matias Costa, gerente de Esportes do Instituto, e de Luiz Cláudio Pontes, Superintendente de Política para Pessoas com Deficiência da Secretaria de Estado e Assistência Social e Direitos Humanos - SEASDH, foram à Suderj para saber se as notícias que saíram nos jornais eram verdadeiras e, em caso afirmativo, quais teriam sido os motivos para reinaugurar o estádio sem a infra-estrutura necessária às pessoas com deficiência.

A Suderj abriu as portas do templo à visitação inquisidora e desarmou os espíritos prevenidos ao apresentar todos os setores do estádio devidamente adaptados para as pessoas com deficiência, conduzindo-nos a comprovar a adequação dos espaços.

O advogado Alexandre Magnavita, na qualidade de “maior conhecedor cadeirante do estádio” dentre os presentes, ficou extremamente feliz e, acima de tudo, muito bem impressionado com a qualidade da estrutura atual, e não contendo sua alma torcedora exclamou: O Maraca está lindo!!!

O único problema é ainda a inexistente sinalização dos acessos. Sobre isso, o representante da Suderj informou que já estão sendo providenciados os ajustes, que não foram feitos até agora em razão de o estádio ter sido reinaugurado às pressas para o Campeonato Carioca, sem que tivessem tempo de fazer os acabamentos.

Na averiguação, foi constatado que as cadeiras abaixo das arquibancadas contam com espaços reservados em quase todo o anel, com exceção das cadeiras cativas, e que todos os sanitários estão adaptados.

Nas arquibancadas, onde não existiam espaços destinados às pessoas com deficiência, foram reservadas nas laterais de cada túnel de entrada locais para pessoas com deficiência, sendo certo que ali também todos os banheiros estão devidamente adaptados.

Nas cadeiras especiais, localizadas na altura do meio campo do estádio, acima das cabines de rádio, também há um excelente espaço para pessoas com deficiência, além de sanitário adequado, onde instalaram um pequeno elevador para possibilitar o acesso.

A não ser a questão da sinalização, para a qual devemos estar atentos, o estádio está em perfeitas condições para receber o público com deficiência, podendo haver um ou outro problema isolado.

12.2.07

Quirino, um campeão

Site do IBDD (www.ibdd.org.br), Notícias, 15/11/2006:

Quirino, um campeão

De Xerém para o Brasil, João Quirino da Silva percorreu os caminhos mais difíceis até a vitória de 13 de novembro de 2006, dia de sua formatura em Educação Física. A mãe descobriu sua cegueira quando ele começava a estudar, aos cinco anos. Era conseqüência de um sarampo mal cuidado e, com mais seis filhos pra criar, ela ouviu de uma conhecida que tinha um filho cego estudando no Instituto Benjamin Constant que lá não era lugar pra filho de pobre, que só gente bem podia contar com tal privilégio. Pai pedreiro, mãe às voltas com a filharada, pobres, Quirino não podia esperar muito da vida. Tinha perdido a primeira luta.

O Benjamin Constant não saiu da cabeça. Aos 16 anos, nosso campeão freqüentava suas aulas de alfabetização em Braile e também as aulas de violão, revelando a sensibilidade que marca sua personalidade. Mas aí foi outro ippon. Reprovado nas suas pretensões musicais, Quirino saiu perturbado e cabisbaixo pelos corredores do instituto. Quando passava pela porta da sala de judô, o professor fez o desafio para que ele suportasse três minutos do ataque de um aluno mais experiente. Agora revelando outra característica da sua personalidade, a de lutador, nosso herói enfrentou o adversário e resistiu o tempo necessário para ser aprovado como novo aluno.

Assim começou no judô, como na vida, a sucessão de vitórias ou derrotas, caindo ou batendo, que definem a trajetória de João Quirino da Silva até hoje. “Depois que passei a lutar judô, eu entrava na sala, batia e levava e saía leve”. A vida ficava mais leve também e, depois de se aproximar do IBDD, no Boqueirão, ela ganhou o rumo definitivo. Com orientação e ajuda do instituto, Quirino entra para a faculdade de Educação Física. Agora, com a formatura e disposto a encarar um mestrado, só pensa em enfrentar novas lutas, vencendo todas por ippon, como professor de universidades, do próprio Instituto Benjamin Constant ou de centros esportivos para a população carente da sua Xerém.

À vitória, Quirino!

Informações pessoais:

João Quirino da Silva
Nasc.: 30 de agosto de 1970
Formato em Educação Física pela UNIABEU em 2006
Atleta do IBDD – Instituto Brasileiro dos Direitos da Pessoa com Deficiência

Principais conquistas:

IV Grand Prix de Judô – SP – 2005 – 1ª Etapa – 3º lugar
IV Grand Prix de Judô – SP – 2005 – 1ª Etapa – 2º lugar
I Campeonato Interclubes – São Bernardo – 2005 – 2º lugar
II Grand Prix de Judô – RJ – 2003 – 2ª Etapa Nacional – 2º lugar
II Grand Prix de Judô – SP – 2003 – 1ª Etapa Nacional – 2º lugar
Troféu Brasil de Judô ABCD – SP – 2000 – 1º lugar
X Campeonato Brasileiro de Judô – SP – 1997 – 1º lugar
Segundos Jogos Paradesportivos – RJ – 1996 – 1º lugar
IV Copa Internacional de Judô – RJ – 1993 – 2º lugar
Campeonato Brasileiro – SP – 1993 – 2º lugar

8.2.07

Voluntária

O Globo, Ancelmo Gois, 08/02/2007:

A mais nova voluntária do IBDD é a juíza Denise Frossard.

7.2.07

Desempenho

O Globo, Ancelmo Gois, 07/02/2007:

O IBDD, ONG que luta em favor dos portadores de deficiência, fechou o ano com 400 funcionários, 98% de causas ganhas em 300 ações por discriminação e 40 mil atendimentos, 231% a mais que em 2005.