26.2.15

Aos moradores da cidade do Rio de Janeiro

Aos moradores da cidade do Rio de Janeiro
Antes de mais nada, queremos agradecer a todos o apoio que temos recebido no pior momento de nossas vidas.
Não queremos carregar a morte de nosso amado filho nas costas, como um peso. A nossa dor, imensa, eterna e incomensurável, é para sempre. Mas estamos tentando mostrar que indo para as ruas, mostrando a cara e sem medo podemos mudar nossa cidade.
Não queremos confronto. Queremos cidadania e consciência. É nossa melhor homenagem ao Alex, que amava tanto a vida.
Em homenagem ao nosso amado filho e a todos os que vivem em nossa cidade estamos lutando para transformar o lugar onde Alex foi assassinado em uma bela praça. Praça da PAZ Alex Schomaker Bastos.
No próximo domingo, 1º de março, dia das comemorações dos 450 anos do Rio de Janeiro, às 11h, cinquenta dias da morte do Alex, nós vamos voltar ao ponto de ônibus e pintá-lo de branco novamente.Ponto de luta e não de luto.
Participe, ajude na pintura, as ruas são nossas!
Mausy e Andrei
Pais orgulhosos e entristecidos
Eu sou Alex para sempre
Rio de Janeiro, 2015
PINTURA DO PONTO
Domingo, 1º de março, 11 horas
Ponto de ônibus da Rua General Severiano, próximo ao Hospital Rocha Maia, Botafogo

Família de Alex refaz homenagem

O Globo, 24/02/2015:
Família de Alex Schomaker refaz homenagem ao jovem morto em ponto de ônibus de Botafogo
Mãe do estudante recolocou cartazes e promete pintar estrutura de branco novamente. Prefeitura diz que não vai interferir
POR ALESSANDRO LO-BIANCO
Mausy, mãe do estudante Alex Schomaker, cola cartazes em homenagem ao filho no ponto da Rua General Severiano onde ele foi morto por ladrões em janeiro – Alexandre Cassiano / Agência O Globo
RIO — Mausy Schomaker, mãe do estudante Alex Schomaker Bastos, de 23 anos, assassinado durante um assalto em Botafogo em 9 de janeiro, voltou, nesta terça-feira, ao local do crime para repor os cartazes que haviam sido afixados em homenagem à vítima. As peças, coladas num ponto de ônibus da Rua General Severiano, foram removidas na última sexta-feira pela Secretaria municipal de Conservação — conforme informou Ancelmo Gois em sua coluna no GLOBO — durante um trabalho de manutenção. O serviço incluiu a pintura do ponto na cor padrão, cinza. Ele havia sido pintado de branco, também como uma forma de homenagear a vítima. Segundo a secretaria, o trabalho foi feito porque a estrutura estava trincada.
A homenagem ao estudante havia sido feita, no fim de janeiro, durante um protesto contra a violência realizado por amigos e parentes de Alex. Além de colarem cartazes, os cerca de 50 manifestantes pintaram de branco não só o chão, como a própria estrutura do ponto de ônibus.
PAI DA VÍTIMA PROPÕE CRIAÇÃO DA PRAÇA DA PAZ
Emocionada, a mãe de Alex repôs também uma faixa que estava amarrada entre dois postes. Ela criticou o trabalho da secretaria.
Mausy Schomaker, mãe do estudante Alex, recoloca os cartazes em homenagem ao filho no ponto de ônibus onde ele foi baleado e morto durante tentativa de assalto – Alexandre Cassiano / Agência O Globo
— Estamos agora decidindo uma data para pintar de novo tudo de branco. Quer dizer que a solução para amenizar o fato de meu filho ter sido assassinado aqui, com sete tiros, é apagar o que a gente fez? — disse Mausy Schomaker.
Segundo ela, muitos moradores da região estiveram no ponto e prestaram solidariedade à família. Andrei Bastos, pai de Alex — que era estudante de biologia na UFRJ —, fez um pedido às autoridades:
— Nós, familiares, amigos, estudantes da UFRJ e moradores, queremos que este local seja transformado na Praça da Paz, para que as pessoas possam se sentar tranquilamente e observar a vida passar, sem ser assassinadas.
Andrei acrescentou que o local onde Alex foi assassinado é escuro e sujo. Além disso, afirmou, as árvores não são podadas há tempos.
De acordo com a Secretaria municipal de Conservação, o ponto de ônibus foi pintado porque já estava incluído num pacote de melhorias a serem feitas numa série de paradas na cidade. Ainda segundo o órgão, a medida não teve qualquer relação com o fato de a estrutura ter sido pintada em homenagem ao estudante.
A secretaria disse ainda que, caso o ponto seja de novo pintado de branco, permanecerá desse jeito. Informou também que nenhum cartaz será removido. Homenagens, acrescentou o órgão, vão ser respeitadas, desde que não descaracterizem o local.
TRIBUTOS A VÍTIMAS ESPALHADOS NA CIDADE
O ponto de ônibus onde Alex Schomaker foi assassinado no mês passado, em Botafogo, é mais um dos lugares com homenagens a vítimas espalhados pela cidade. Na Avenida Borges de Medeiros, na Lagoa, flores lembram a trágica morte de cinco jovens, com idades entre 17 e 22 anos, vítimas de um acidente de trânsito em 2006. O carro em que eles estavam colidiu com uma árvore no canteiro central da via, que passou a receber vasos de flores. Um ano depois, um pequeno jardim foi construído no local da tragédia.
Já o Túnel Acústico, na Gávea, ganhou o nome de Rafael Mascarenhas, de 18 anos, filho da atriz Cissa Guimarães, após o atropelamento e morte do jovem por um carro, quando andava de skate no local, em 2010. A homenagem oficial só foi concretizada em 2013, mas desde o atropelamento o lugar já era ponto de homenagens ao rapaz. Numa parede do túnel, um grafite com a imagem do rosto de Rafael Mascarenhas e vasos de flores lembram o crime.

24.2.15

A Prefeitura do Rio de Janeiro mente

A Prefeitura do Rio de Janeiro mente. A estrutura do ponto de ônibus em que nosso amado filho Alex Schomaker Bastos foi assassinado pela incúria do poder público, aí incluída a prefeitura carioca, não estava trincada e não foi trocada. A Secretaria de Conservação do município mandou a concessionária Clear Channel repintar a estrutura de cinza na calada da noite, o que pode ser facilmente constatado no local.
Mausy e Andrei, pais orgulhosos e entristecidos de Alex Schomaker Bastos.
‪#‎eusoualex‬
Reportagem de O Globo:
Após prefeitura reformar ponto de ônibus, mãe de estudante morto repõe homenagens no local
Secretaria de Conservação mudou a estrutura em frente à UFRJ, alegando que mobiliário estava trincado
POR O GLOBO
24/02/2015
Mausy Schomaker, mãe do estudante Alex, recoloca os cartazes em homenagem ao filho no ponto de ônibus onde ele foi baleado e morto durante tentativa de assalto – Alexandre Cassiano / Agência O Globo
RIO – Mãe do estudante de Biologia da UFRJ Alex Schomaker Bastos, Mausy Schomaker voltou nesta terça-feira ao ponto de ônibus onde o filho foi assassinado durante uma tentativa de assalto, em Botafogo, para recolocar homenagens a Alex. A informação foi adiantada pelo jornalista Ancelmo Gois em sua coluna. A Secretaria de Conservação mudou a estrutura, localizada em frente ao campus da UFRJ, na última sexta-feira, alegando que o mobiliário estava trincado, e os cartazes lembrando Alex foram embora junto com o antigo ponto, que havia sido pintado de branco.
O ponto de ônibus na Rua General Severiano foi pintado no fim de janeiro como um protesto por parte de amigos e parentes de Alex. Na época, cerca de 50 pessoas participaram do ato. Além da estrutura, também foi pintado o chão. Cartazes de protestos contra a violência foram colocados no video do ponto de ônibus.
Mausy Schomaker, mãe do estudante Alex, recoloca os cartazes em homenagem ao filho no ponto de ônibus onde ele foi baleado e morto durante tentativa de assalto – Alexandre Cassiano / Agência O Globo
Da primeira vez, o local onde o jovem foi morto havia ficado repleto de cartazes com dizeres: “Que sociedade estamos construindo onde se mata por uma mochila ou um celular” e “Estamos em guerra e a sociedade descansa sob um barril de pólvora”. A frase “Eu sou Alex” estava espalhada por todo o ponto de ônibus.

“Eu sou Alex”, Ancelmo Gois, O Globo

O Globo, Ancelmo Gois, 24/02/2015:
“EU SOU ALEX”
A Secretaria de Conservação do Rio trocou, sexta passada, a estrutura do ponto de ônibus no finalzinho da Rua General Severiano, em Botafogo, onde o estudante Alex Bastos, de 23 anos, foi morto em uma tentativa de assalto, em janeiro. Segundo a prefeitura, o mobiliário estava trincado. Junto com ele foram embora as homenagens feitas ao universitário. A estrutura metálica e a lixeira, repare na foto debaixo, tinham sido pintadas de branco. A mãe do jovem, Mausy Bastos, promete voltar ao local hoje acompanhada por um grupo de amigos do filho para recolocar as homenagens: “Vou pintar de novo de branco agora e quantas vezes forem necessárias”

23.2.15

Mausy Schomaker fala no Bloco Sem Saída


22.2.15

Exposição de Pinturas

Eu não sabia como contar a minha história com o câncer. Só muito tempo depois de vivê-lo é que me senti capaz de contar o que aconteceu, e iniciei a busca pela minha maneira de transmitir a vivência. Não foi fácil descobrir como escrever e deixei o tempo passar para não lembrar como num diário, sofrido. No câncer, o que marcava o tempo eram os medos, as emoções, os terrores, os amores, e os resultados dos exames. Os acontecimentos ocupavam o espaço dos sonhos e pesadelos. Como visitar esse passado senão também em sonhos e pesadelos?

21.2.15

OS DONOS DA RUA


18.2.15

Exposição de Pinturas

Meu e-book sobre minha vivência do câncer, em breve no site da Saraiva.

16.2.15

Je suis Alex

O Globo, Dos Leitores, 16/02/2015:

Je suis Alex

À família de Alex, minhas condolências, extensivas a todas as que passaram por semelhante tragédia. É muito difícil atuar contra os “nossos terroristas”, pois não são grupos organizados movidos por fanatismo religioso. São jovens que roubam e, se der na cabeça, matam para “faturar algum”. Sem perspectiva, são cooptados para o crime, que sabem que compensa a curto prazo. Quando presos, vão para presídios e casas de detenção falidas e ainda recebem gratificação. Segundo o secretário Beltrame, a política das UPPs, sem investimento que crie perspectivas reais para esses jovens, será como “enxugar gelo”. Não é com “bolsas” que se criam perspectivas. É com inteligência, coragem e envolvimento do poder público e da sociedade. Sugestão: se cada banco gastar numa comunidade um pouco de seu lucro em ações educativas que possibilitem a entrada desses jovens no mercado de trabalho, o lucro será outro!
HELENA DALE
RIO

14.2.15

Nós não perdoamos

O Globo, Opinião, 14/02/2015:
Nós não perdoamos
MAUSY SCHOMAKER E ANDREI BASTOS
Nosso amado filho Alex Schomaker Bastos foi assassinado com sete tiros num ponto de ônibus, às 21h30m do dia 8 de janeiro, no bairro de Botafogo, Rio de Janeiro, em frente ao campus da UFRJ, por dois assaltantes que levaram apenas seu celular.
Nós não perdoamos os assassinos nem os governantes.
Não nos perdoamos por não estarmos, magicamente, entre a arma e nosso filho no momento dos disparos. Agora, nos surpreendemos com Mezim Magrah, o curandeiro cívico de “Magic”, o jogo de que Alex tanto gosta, que diz em uma das cartas: “Você pegou alguma coisa passeando em uma noite fria? Não. Eu diria que alguma coisa é que pegou você”.
Não perdoamos o primitivismo dos instintos maus dos rejeitados pela civilização que atiraram em nosso filho. O que eles fizeram está muito além da simples banalização do mal e deixa claro que a barbárie já se instalou em nossa sociedade, e faz com que nos escondamos atrás das grades que cercam nossas casas. Isso não é vida para ninguém e precisamos sair das prisões que construímos para nós mesmos e ocupar as ruas, que esquecemos que são nossas.
As grades não nos protegem. As grades nos enfraquecem como cidadãos e como sociedade. Atrás das grades quem deve ficar são os assassinos de Alex e de tantos outros jovens.
Nós, os pais de Alex Schomaker Bastos, não perdoamos o Estado brasileiro, configurado nos governos federal, estadual e municipal, que pelas mãos dos seus gestores tem marcado sua atuação pela incúria e dolo, chegando ao criminoso corte de verbas prioritárias em Educação, Saúde e Segurança, como os R$ 7 bilhões que o governo federal cortou na Educação, no ano em que adotou o slogan “Brasil, pátria educadora”, ou o R$ 1,37 bilhão cortado do orçamento da Segurança no Estado do Rio de Janeiro.
Esse dinheiro não traz nosso filho de volta à vida, mas será um dinheiro bem aplicado se evitar apenas um assassinato num ponto de ônibus qualquer. Gostaríamos de perguntar ao governador, quanto vale a vida de seus filhos? A do nosso filho não tem preço.
Nunca encontraremos palavras para expressar nossa dor pela morte de Alex e nosso desprezo pelos nossos governantes. Como diz numa tradução livre de Neil Gaiman, da revista “Sandman”, que nosso filho fez para a abertura do seu memorial descritivo de mestrado, “o Homem não sabe o valor do saber, nem pode encontrá-lo na terra dos vivos… pois o preço da sabedoria está acima dos rubis”.
Nós recebemos o diploma de biólogo e professor de Biologia em nome de Alex, que ama a Biologia, quer estudar doenças raras e ama ser professor. Ele diz: “Quero ser professor, porque como professor eu posso fazer a mudança. Gosto de ver o aluno entrar na sala de um jeito e no final do ano sair de outro”.
Fazemos questão de falar do Alex sempre no presente porque ele nunca morrerá para nós. Ele agora faz parte das estatísticas sobre a violência e crime no Estado do Rio de Janeiro e no Brasil.
No Rio de Janeiro somos proibidos de ficar nos pontos de ônibus, somos proibidos de andar calmamente nas ruas, somos proibidos de nos sentir donos da cidade, pois a violência dos assaltos e as balas perdidas que destroem pela dor inúmeras famílias são resultado, como diz o secretário de Segurança José Mariano Beltrame, “de uma nação de criminosos que se criou no Rio de Janeiro nos últimos 30, 40 anos”. São décadas de descalabro.
A morte de Alex simboliza o desprezo do Estado pelos seus cidadãos, pelos seus professores, seus cientistas, pela educação e pelo desenvolvimento.
Coisas simples como a poda de árvores e a iluminação do local, na rua General Severiano, em frente ao campus da UFRJ, teriam impedido a morte de nosso filho. Será que somos tão desprezados como cidadãos que até coisas simples como iluminação e cuidados com as árvores temos que mendigar? Na “nação de criminosos” da qual nos fala o senhor secretário de Segurança nós incluímos os que permitiram que chegássemos a este ponto.
Mausy Schomaker e Andrei Bastos são os pais do jovem Alex, morto num assalto em Botafogo.

10.2.15

Praça da Paz

Hoje, 9 de fevereiro, o lugar do ponto de ônibus, na rua General Severiano, onde nosso filho ALEX SCHOMAKER BASTOS foi assassinado em um assalto sofreu uma interferência dos órgãos públicos. Agora está iluminado e com as árvores podadas.
Não podemos dizer obrigado.
Podemos, apenas, dizer que os órgãos públicos cumpriram com sua obrigação.
O espaço em frente ao campus da UFRJ está iluminado. Esperamos que os estudantes, moradores e demais pessoas que por lá circulem corram menos risco de serem assaltados. E possam pegar o ônibus que desejarem sem serem mortos.
Mausy e Andrei
Pais orgulhosos e entristecidos
EU SOU ALEX PARA SEMPRE
‪#eusoualex

8.2.15

Carta aberta ao prefeito Eduardo Paes

Carta aberta ao prefeito Eduardo Paes
 
Senhor prefeito Eduardo Paes,
 
Hoje, dia 8 de fevereiro, faz um mês que nosso filho ALEX SCHOMAKER BASTOS morreu, com sete tiros, num assalto no ponto de ônibus da rua General Severiano, em Botafogo, em frente ao campus da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
 
O senhor não deve saber, mas o diploma de biólogo e de professor de Biologia de nosso amado filho foi entregue a nós, seus pais, porque ele morreu dias antes da tão ansiada formatura. Ele se preparava para o mestrado em genética e já atuava como professor. ALEX amava Biologia – Ciência da Vida – e amava ensinar. Veja só que ironia, senhor prefeito, um jovem que amava estudar a Vida morrer tão precocemente.
 
Certamente o senhor não sabe que nós recebemos muitos depoimentos de professores, alunos e colegas, além de declarações formais, assinadas e carimbadas, do Instituto de Biologia, da Faculdade de Educação e do Colégio de Aplicação – todos da UFRJ – dizendo do excelente aluno, professor e iniciante em pesquisas sobre a Vida que é ALEX SCHOMAKER BASTOS. O senhor também não deve saber da quantidade de homenagens que nosso filho recebeu e continua recebendo.
 
O senhor não tem mesmo obrigação de saber sobre nosso filho ALEX SCHOMAKER BASTOS.
 
Mas, senhor prefeito Eduardo Paes, o senhor tem obrigação de saber que os índices de violência no Rio de Janeiro são alarmantes e inacreditáveis e, embora a área de Segurança Pública esteja ligada diretamente ao governo do Estado do Rio de Janeiro, a Prefeitura do Rio de Janeiro tem obrigação de contribuir com essa mesma segurança mantendo os logradouros iluminados, limpos, guardados, com as praças sempre preparadas para que sejam utilizadas pelos cidadãos de bem de nossa cidade.
 
E, senhor prefeito Eduardo Paes, o município não cumpriu com sua obrigação no local onde nosso filho foi assassinado. O ponto de ônibus da rua General Severiano, em Botafogo, é escuro, sujo, com árvores que não são podadas há tempos e onde os alunos da UFRJ e os moradores do entorno têm medo de passar. Mas veja só, senhor prefeito Eduardo Paes, nosso filho teve a ousadia de querer pegar o ônibus 434 naquele ponto. E foi assassinado. Sete tiros que o fizeram sangrar até a morte.
 
No município do qual o senhor é prefeito, os cidadãos de bem são proibidos de andar calmamente nas ruas, são proibidos de pegar um ônibus à noite, são proibidos de serem os donos das ruas. E nós, cidadãos de bem e cumpridores da Lei, devemos ser os verdadeiros donos das ruas e praças. Alguma coisa está errada em nossa cidade. O senhor não acha?
 
Queremos crer que o senhor se sinta responsável pela segurança dos cidadãos, porque nós consideramos que o senhor também é responsável pela morte de nosso amado filho ALEX SCHOMAKER BASTOS. É responsável porque a Prefeitura do Rio de Janeiro, da qual o senhor é a liderança máxima, não cuidou para que aquele espaço em frente ao campus da UFRJ estivesse iluminado, limpo e pronto para ser usado pelo cidadão carioca.
 
Nosso filho não estaria morto se o município cumprisse com sua obrigação de iluminar e manter um logradouro público. Nosso filho foi assassinado pelo descaso do Estado. E nós, pais eternamente entristecidos, não deixaremos de cobrar as responsabilidades dos nossos dirigentes.
 
Por isso, senhor prefeito Eduardo Paes, estamos pedindo, publicamente, que o espaço onde está localizado o ponto de ônibus em frente ao campus da UFRJ, onde nosso filho ALEX SCHOMAKER BASTOS foi assassinado numa tentativa de assalto, que é bem amplo, mas escuro, sujo, e onde as árvores não são podadas ou cuidadas há tempos, seja transformado na Praça da Paz.

Praça da Paz onde os estudantes, trabalhadores e moradores possam sentar tranquilamente e observar a vida passar. Sem serem assassinados.
 
Mausy Schomaker e Andrei Bastos, pais orgulhosos e entristecidos de ALEX SCHOMAKER BASTOS.
#eusoualex

4.2.15

Alex Schomaker Bastos

Caros amigos,
No próximo domingo, dia 08/02, completará 1 mês que perdemos o nosso Alex. Ao invés de missa, a família decidiu fazer uma homenagem a ele lá no ponto de ônibus da Rua General Severiano, em Botafogo, às 11h.
Será um ato musical, vamos nos reunir para lembrar dele sempre alegre, comer doces, enfeitar a praça, cantar e nos fortalecer.
Esperamos que possam estar lá com a gente!
‪#‎eusoualex‬

1.2.15

Segredo de extraterrestres

Enquanto eu e Mausy vivíamos, como viveremos para sempre, a maior dor das nossas vidas (o assassinato de nosso filho Alex Schomaker Bastos), a revista Radis publicou meu texto "Segredo de extraterrestres", que nasceu de uma palestra que eu e Izabel Maria Madeira Loureiro Maior fizemos na Shell, em dezembro de 2014. Minha fala foi depois da exibição do completíssimo documentário "História do Movimento Político das Pessoas com Deficiência no Brasil", que esgotou o assunto, e eu me saí com essa de extraterrestre. Ao final, Izabel disse que eu tinha que escrever o que havia dito e, como manda quem pode e obedece quem tem juízo, aí está o escrito:

Revista Radis, Nº 149, 01/02/2015:

Segredo de extraterrestres

ANDREI BASTOS

Até agora ninguém contou tudo a respeito do movimento político das pessoas com deficiência, e a respeito delas mesmas, historicamente falando. Portanto, vou contar um segredo para vocês, um segredo militar, que existe há muito tempo, guardado a setecentas chaves pelas forças armadas das maiores potências, e que até hoje não se teve coragem de divulgar: nós, pessoas com deficiência, somos extraterrestres.

Mas, estamos na Terra desde o começo da história da humanidade. Acontece que viemos de planetas em que não precisávamos andar, não precisávamos enxergar, não precisávamos ouvir… Nós viemos de mundos em que só existem a percepção e os sentimentos entre os seres.

Viemos por conta do nosso desejo de nos incluirmos em todo o universo. No começo, quando chegamos e assumimos as diferentes características que temos, vocês, terráqueos, nos abandonavam na estrada para morrer porque não sabíamos andar, não sabíamos ouvir, não podíamos caçar!

Depois, quando surgiu uma coisa chamada agricultura, vocês nos deixaram em paz, nas casinhas, preparando a comida, cuidando dos filhos e netos. Foi um conforto, ficamos numa boa e pudemos viver nossas percepções e sentimentos em relação aos outros.

Só que, em seguida, veio a chamada revolução industrial e a coisa andou para trás porque não conseguíamos apertar os parafusos nas fábricas, não conseguíamos operar os produtos então produzidos, e ficou complicado. Mas sobrevivemos a isso e agora estamos vivendo há algum tempo uma fase de grande avanço científico e tecnológico, parecendo que vamos conseguir, finalmente, um lugar ao sol neste planeta, juntos e misturados a vocês.

Eu costumo dizer que a ficção científica apresenta o futuro não apenas do ponto de vista tecnológico, das conquistas científicas, como Júlio Verne pensando no submarino, mas também apresenta o futuro na sua forma existencial, quando mostra nas suas histórias de naves intergalácticas integrantes de uma mesma equipe de comando dessas naves com formas, rostos, conformações físicas inteiramente diferentes e incomuns. Temos, então, seres de diversos planetas convivendo e compartilhando um ambiente de trabalho! Inclusive ambientes de comando de grandes naves espaciais, ou de esquadrilhas dessas naves.

Hoje em dia, nós, pessoas com deficiência, estamos realizando palestras em empresas que, forçando a barra na comparação, são como as naves espaciais da ficção científica e podem ter pessoas também incomuns e diferentes compartilhando o trabalho como os personagens de outros mundos, que nos trouxeram, portanto, também a ideia de aceitação, de convivência, de inclusão dos diferentes.

Aprendendo a lição que nos dão os extraterrestres da ficção científica, nos dedicamos, então, a um esforço permanente para que a nossa inclusão, de “extraterrestres” verdadeiros que somos, deixe de ser uma ficção na sociedade e se transforme numa realidade presente em todos os dias de todas as empresas.

Andrei Bastos é jornalista e escritor, autor do livro Assimétricos (www.assimetricos.com.br).