28.11.12

Eu não me importo

O Globo, Opinião, 28/11/2012:

Eu não me importo

ANDREI BASTOS

Os números do Censo 2010 do IBGE relativos às pessoas com deficiência no Brasil foram questionados por alguns, e até já se fez a defesa deles, como no artigo “Dados consistentes”, de Andrea Borges, publicado no Globo. Se o percentual dessas pessoas é de 23,9% ou de 6,7%, eu não me importo. Se a quantidade de deficientes incluídos na educação, no mercado de trabalho e no lazer ainda é pequena, se o preconceito e a discriminação em relação a eles ainda prevalecem e suas vagas de estacionamento e prioridades de atendimento não são respeitadas, eu não me importo.

Eu não me importo porque o respeito às vagas e prioridades de atendimento, que já existe em boa medida, inevitavelmente resultará da ocupação incansável pelas próprias pessoas com deficiência, e não por interpostas pessoas, dos seus espaços na sociedade, que só há poucos anos vivencia os novos paradigmas da inclusão. Mesmo os que ainda consideram deficientes como coitadinhos já se ajustam à nova realidade dessas pessoas circulando em todos os lugares, fora do confinamento de instituições exclusivistas e segregadoras.

Não será duvidando de estatísticas que se promoverá a conscientização da sociedade, das diferentes gerações, e até de nós mesmos. Somos todos filhos do preconceito e da discriminação de quando os velhos, os doentes e os deficientes eram abandonados para morrer, o que ainda acontece nos rincões brasileiros e mundiais.

Se nós não tínhamos e, em muitos casos, ainda não temos nem direito à vida, o que dizer do direito à educação, ao lazer e ao trabalho? Uma coisa emenda na outra, e se a criança com deficiência não frequenta a escola ou, mais tarde, um curso de qualificação profissional, como exigir que na idade adulta lhe seja oferecido um emprego? Duvidando de estatísticas ou trabalhando com honestidade e transparência por políticas públicas de largo alcance?

Por menor que seja o percentual de pessoas com deficiência brasileiras, o que importa é que seus direitos sejam respeitados e suas necessidades específicas atendidas. Todos se beneficiarão com a boa qualidade de vida resultante, e idosos, obesos, mulheres grávidas etc. se juntarão ao percentual que seja de deficientes, estabelecendo parâmetros amplos de inclusão, o que pode acontecer agora com a Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência da ONU, ratificada como emenda constitucional no Brasil e sendo o foco da Conferência Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficiência deste ano, e políticas públicas nacionais.

Em sentido contrário, os guetos excludentes resultam de interesses inconfessáveis e constituem um “nicho de mercado” que favorece a poucos, particularmente a não deficientes, reduzindo perversamente o alcance de uma inclusão ampla geral e irrestrita e preservando os bons rendimentos eleitorais ou financeiros de políticos, instituições e pessoas que se apresentam como defensoras de coitadinhos. Como deficiente nada coitadinho, com isso eu me importo!

Andrei Bastos é jornalista e integra a Comissão de Direitos Humanos da OAB/RJ

Quer brincar comigo?

21.11.12

Beber, Comer, Sobreviver


13.11.12

Abraham Palatnik - Galeria Nara Roesler


7.11.12

Headphone

ANDREI BASTOS

O som me domina aos poucos,
e quando me dou conta,
já preencheu minha cabeça
e avança com velocidade
pelos tecidos nervosos do meu corpo,
chegando até meus dedos inquietos,
que subitamente acalmam,
como num afogamento ao contrário,
de cima para baixo.
Entorpecidos músculos e mente,
um grito cresce bem do fundo
e fica maior que tudo,
com seu sofrimento e sua música.

Meus olhos tristes de bêbado
se enchem de lágrimas
e meu coração se aperta com uma dor aguda
ao encontrar a voz da soprano
no vazio do quarto.
Tudo o que eu quero
é deitar meu corpo cansado
e dormir na escuridão dos meus olhos
fechados e indiferentes ao mundo.

Me entrego ao ar que respiro
e flutuo ao sabor da brisa
criada pelos meus pulmões preguiçosos.
As descargas elétricas
que descem pela minha espinha
provocam contorções como orgasmos
e meu gozo acontece pelo corpo inteiro,
em cada pedaço tocado
como um instrumento pela música.
Quanta dor e quanto amor
existem juntos no meu peito e no universo!

Cada novo acorde e cada nova nota
provocam sobressaltos de medo e incerteza
diante de cada instante futuro
e me entrego mais às névoas da inconsciência
que embala meu sono de olhos abertos.
Estou perdido nessa estrada imaginada,
não sei mais o caminho de volta,
só me resta prosseguir, até o seu fim
ou até o começo da próxima música.

6.11.12

Rômulo Noronha na Comissão da Verdade da OAB/RJ


OABRJ DIGITAL, 06/11/2012:

Condenado por não se levantar para juiz presta depoimento à OAB/RJ

Fonte: redação da Tribuna do Advogado

Rômulo Noronha de Albuquerque, ex-militante da Ação Libertadora Nacional (ALN), foi o terceiro preso político a prestar depoimento à Comissão da Verdade da OAB/RJ, que cataloga desmandos da Justiça Militar na ditadura.

Rômulo e um outro militante preso, Aton Fon Filho, foram condenados a dois anos e seis meses de reclusão pela 1ª Auditoria da Aeronáutica. Seu “crime”: não terem se levantado no dia 30 de junho de 1971, em saudação aos integrantes do tribunal, e afirmado na ocasião que não reconheciam naquele conselho autoridade para julgá-los.

A condenação, que se somou a outras que Rômulo e Aton já tinham, se deu em 4 de agosto de 1972.

O depoimento de Rômulo à Comissão da OAB será enviado à Comissão Nacional da Verdade.

2.11.12

O domínio do fato


Folha ZN, 02/11/2012:

Cidadania e Inclusão Social
ANDREI BASTOS

O domínio do fato

O MENSALEIRO JOSÉ DIRCEU, APONTADO COMO CHEFE DA QUADRILHA que desviou dinheiro público para a compra de apoio parlamentar ao governo Lula, foi condenado pelo Supremo Tribunal Federal com base em muitas provas e testemunhos, entre os quais se destaca o depoimento de Roberto Jefferson, ex-presidente do PTB, que, a propósito, foi quem denunciou o esquema. Talvez a principal razão para sua qualificação como “chefe” e consequente condenação resida na teoria jurídica do “domínio do fato”, que torna inquestionável sua responsabilização. Mas não devemos esquecer que Dirceu devia obediência a alguém acima dele na hierarquia governamental e partidária: Lula.

TCU pela acessibilidade
APROVAÇÃO DE CONTAS DE ÓRGÃOS PÚBLICOS SÓ COM ACESSIBILIDADE nos seus prédios. Esta é a iniciativa do TCU (Tribunal de Contas da União), que vai exigir que todas as obras feitas com recursos federais a partir deste ano estejam de acordo com as normas de acessibilidade da ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas). De acordo com o Decreto 5.296, de 2004, todos os prédios públicos deveriam ter se tornado acessíveis até o final de 2008, o que, visivelmente, não aconteceu. Com esta medida mais do que bem-vinda, o TCU entra na luta pela acessibilidade.

“Avenida Brasil” cai na real
A NOVELA ACABOU E A ZN “CAI NA REAL”, sem os altos índices de audiência da Globo, claro. Foi bacana ver a gente e os hábitos da ZN, particularmente sua música e musicalidade, fazendo sucesso na novela das nove, mas, como em toda segunda-feira pós-domingão de churrascão, a realidade bate à porta. O final da novela coincidiu com o final de uma legislatura na Câmara Municipal e com o final de um mandato do prefeito, que se reelegeu. E é a realidade dos novos mandatos que temos que encarar, fiscalizando, cobrando e denunciando malfeitos de autoridades e políticos.

ANDREI BASTOS é jornalista e integra a Comissão de Direitos Humanos da OAB/RJ.
Blog: www.andreibastos.com.br/blog – Email: contato@andreibastos.com.br

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1.11.12

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