29.10.11

Meu retrato para a posteridade


Meu retrato para a posteridade feito e apresentado por minha neta Elisa

27.10.11

“A Culpa é dos Peixes” está à venda

Link para comprar o livro “A Culpa é dos Peixes”, da minha amiga Marcia de Almeida:

http://www.editoramultifoco.com.br/literatura-loja-detalhe.php?idLivro=643&idProduto=663

A admirável coragem dos argentinos

O Globo Online, 27/10/2011:

ESMA
Justiça argentina condena à prisão perpétua quatro ex-oficiais da Marinha por crimes da ditadura

BUENOS AIRES – Em uma decisão histórica, a Justiça argentina condenou na noite de quarta-feira à prisão perpétua quatro ex-oficiais da Marinha por crimes contra a Humanidade cometidos durante a última ditadura militar no país (1976-1983). A sentença imputada a Alfredo Astiz, Jorge “El Tigre” Acosta, Antonio Pernías, Ricardo Cavallo, e a outros oito repressores é a primeira imputada ao grupo da Escola de Mecânica da Armada(Esma), onde funcionou a prisão clandestina mais importante da ditadura.

No julgamento, iniciado em dezembro de 2009, os condenados responderam a 86 casos de sequestros, prisões, torturas e homicídios contra dissidentes políticos. Outros quatro réus foram condenados a penas entre 18 e 25 anos de prisão. Dois foram absolvidos. Pela Esma, passaram cerca de 5 mil presos, dos quais menos da metade sobreviveram.

O veredicto, anunciado horas depois do horário previsto, foi aplaudido por sobreviventes, parentes de vítimas da ditadura e ativistas que acompanharam a leitura por meio de um telão colocado em frente ao tribunal de Buenos Aires.

“Olé, olé, vai acontecer como aos nazistas, aonde forem iremos buscar”, gritaram quando a câmera mostrou o rosto de Astiz – um dos símbolos da ditadura argentina e conhecido como “anjo da morte” -, que já está preso.

Acusados de matar freiras, jornalista e fundadoras das Mães da Praça de Maio

O processo levou mais de 22 meses e reuniu depoimentos de mais de 200 testemunhas para apresentar as acusações contra os 18 réus.

Entre os assassinatos pelos quais eram acusados, estavam as mortes de três fundadoras do grupo Mães da Praça de Maio (Azucena Villaflor, Mary Bianco e Ester de Careaga), o jornalista Rodolfo Walsh e as freiras francesas Alice Domon e Leonie Duquet.

- É outro dia histórico, um desses dias que jamais pensamos que íamos viver – disse Taty Almeida, fundadora das Mães da Praça de Maio.

Outros ativistas avaliaram este como o primeiro passo e criticaram a absolvição de dois dos 18 julgados.

- Em termos jurídicos, a leitura da sentença é a culminação de uma luta de dois anos – afirmou, segundo o jornal “Clarín”, Carlos Lordkipanidse, sobrevivente da Esma, afirmando que o julgamento envolveu uma parte menor dos casos denunciados e uma pequena quantidade de repressores.

Para Enrique Fukman, outro sobrevivente, a decisão trouxe “sensações contraditórias: a alegria de chegar a este momento, depois de tantos anos de luta, e a convicção de que esta causa é uma parte” que deverá ter outros processos.

Emoção no anúncio das sentenças

Do lado de fora do tribunal, o momento mais emocionante foi o anúncio da condenação de Astiz. Acusado do assassinato das freiras francesas e da sueca Dagmar Hagelin, ele havia se infiltrado entre as Mães da Praça de Maio para organizar o sequestro de Azucena Villaflor. Condenado na França à prisão perpétua em 1990, ele não podia sair da Argentina.

Beneficiado pelas leis argentinas conhecidas como Ponto Final e Obediência Devida, do governo Raúl Alfonsín (1983-1989), ele nunca havia sido condenado no país. Mas, quando o Congresso anulou em 2003 a regra, Astiz recebeu condenação à prisão preventiva.

O tribunal determinou que até a decisão final sobre a pena, os condenados continuarão sob o regime atual de detenção. Alguns estão em prisão domiciliar por razões de saúde e outros estão em prisão comum, como é o caso de Astiz.

Leia mais sobre esse assunto em http://oglobo.globo.com/mundo/mat/2011/10/27/justica-argentina-condena-prisao-perpetua-quatro-ex-oficiais-da-marinha-por-crimes-da-ditadura-925668970.asp#ixzz1bzJ7Q72X

23.10.11

Anita Prestes protesta contra o PCdoB

Ancelmo.com, 22/10/2011:

CRISE
Anita Prestes protesta contra o PCdoB

Veja a íntegra da carta que Anita Prestes mandou à direção do PCdoB para protestar contra com a “utilização indébita” da imagem de seus pais, Luís Carlos Prestes e Olga Benario Prestes, no programa do partido na TV.

“Rio, 21 de outubro de 2011.

Comitê Central do Partido Comunista do Brasil (PCdoB)

Dirijo-me à direção do PCdoB para externar minha estranheza e minha indignação com a utilização indébita da imagem dos meus pais, Luís Carlos Prestes e Olga Benário Prestes, em Programa Eleitoral desse partido, transmitido pela TV na noite de ontem, dia 20 de outubro de 2011.

Não posso aceitar que se pretenda comprometer a trajetória revolucionária dos meus pais com a política atual do PCdoB, que, certamente, seria energicamente por eles repudiada. Cabe lembrar que, após a anistia de 1979 e o regresso de Luís Carlos Prestes ao Brasil, durante os últimos dez anos de sua vida, ele denunciou repetidamente o oportunismo tanto do PCdoB quanto do PCB, caracterizando a política adotada por esses partidos como reformista e de traição da classe operária. Bastando consultar a imprensa dos anos 1980 para comprovar esta afirmação.

Por respeito à memória de Prestes e de Olga, o PCdoB deveria deixar de utilizar-se do inegável prestígio desses dois revolucionários comunistas junto a amplos setores do nosso povo, numa tentativa deplorável de impedir o desgaste, junto a opinião pública, de dirigentes desse partido acusados de possível envolvimento em atos de corrupção.

Atenciosamente,

Anita Leocádia Prestes”

18.10.11

Quem é essa mulher... por Paulo Totti


Quem é essa mulher, 36 anos depois

Por Paulo Totti, no Valor Econômico

Duas mulheres de fibra: Zuzu Angel Jones, nascida Zuleika, e Clarice Herzog, nascida Ribeiro Chaves. Da primeira, mataram-lhe o filho, Stuart Edgar. Da segunda, o marido, Vlado.

Naqueles tempos duros, a censura sufocava o choro, mas protestava-se por meio de metáforas, e algumas delas se alojaram entre as mais lindas da poesia brasileira. Chico Buarque e Miltinho, do MPB-4, num triste samba homenagearam Zuzu e lembraram o filho dela, morto aos 25 anos, em 1971. “Quem é essa mulher/ que canta sempre o mesmo arranjo:/ ‘Só queria agasalhar meu anjo/ e deixar seu corpo descansar’?”. Estilista famosa, costureira da sociedade carioca e, dizia-se, de Kim Novak, Liza Minelli e Joan Crawford, Zuzu tornou-se incômoda à ditadura. Moveu céus e terra, chegou à ONU com os reclamos pela recuperação do corpo do filho, torturado até a morte por oficiais da FAB na base aérea do Galeão. A identidade dos assassinos nunca foi revelada, nem encontrado o corpo de Stuart. Jogaram-no ao mar, dizia-se. Por isso, Chico fez mais os seguintes versos: “Quem é essa mulher/ que canta sempre esse estribilho:/ ‘Só queria embalar meu filho/ que mora na escuridão do mar’?”.

Aos 54 anos, em 1976, Zuzu morreu como personagem de novela. Seu Karmann Ghia capotou diversas vezes na estrada Lagoa-Barra, chocou-se contra a mureta de proteção e precipitou-se pelo barranco. A suspeita de sabotagem no sistema de freios do carro nunca foi apurada. Zuzu virou filme

Também protagonista involuntária daqueles tempos trágicos, dias, semanas, meses depois de Vlado ter sido assassinado nos porões do DOI-Codi de São Paulo, em 1975, Clarice ouvia ameaças sempre que o telefone tocava: “Judia fdp”, “comunista”, “matamos um e vamos matar o resto”. Em sua porta havia sempre, dia e noite, um carro da polícia a bisbilhotar, intimidar. E Clarice Herzog virou música. “Chora a nossa pátria mãe gentil./ Choram Marias e Clarices no solo do Brasil”, versos de João Bosco e Aldir Blanc na voz de Elis Regina.

Trinta e seis anos depois, Clarice está “À Mesa com o Valor”, no Spadaccino, acolhedor restaurante da Vila Madalena, em São Paulo, onde se cultiva a boa tradição da comida bolonhesa e que ela sugeriu para este almoço. Clarice está esperta e saudável. Sobreviveu.

- Quem é esta mulher Clarice Herzog?

- Fiz ciências sociais na USP. Mas me digo publicitária porque trabalhei 25 anos em agência de publicidade, 21 deles na Standard Propaganda, que virou Standard Ogilvy e hoje acho que é só Ogilvy. Fiz parte do board, fui vice-presidente. Depois criei minha empresa. Nunca redigi ou vendi anúncios, também não fiz pesquisa eleitoral. Pesquisa qualitativa é a minha especialização até hoje. Tenho experiência em posicionamento de marcas, levantamento de informações junto ao consumidor para traçar a estratégia de comunicação dos clientes, entre eles muitas multinacionais. As marcas têm vida, sabe? Se disser que sou pesquisadora de mercado, ninguém vai saber o que isso significa. É mais fácil dizer que sou publicitária. Meu pai morreu sem saber direito o que eu fazia.

Durante a faculdade na rua Maria Antônia, célebre na época por conflitos entre os esquerdistas da USP e os direitistas da Universidade Mackenzie, Clarice conheceu Vlado, que concluia o curso de filosofia. Casaram-se.

- E como estão seus filhos?

- Ivo faz 45 anos exatamente hoje. E o André, com 43, está na Índia neste momento.

André é funcionário da área de urbanização do Banco Mundial em Washington. Formado pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP, fez mestrado e doutorado em Londres e Roterdã, e, a cada dois meses, passa três semanas na Índia, onde participa de um programa de urbanização de favelas. Há 11 anos só vem ao Brasil em férias.

Quando morreu, em 25 de outubro de 1975, Vlado tinha 39 anos. Clarice, 33. E os filhos, 9 e 7 anos. “Ivo, o maiorzinho, ficou muito mal, precisou de terapia durante anos. Tinha idade para entender algumas coisas, mas não entendia tudo. Vlado morreu num sábado. Contei para os garotos na manhã de domingo. Disse que tinha sido um acidente de carro, mas essa versão não durou meio dia. A confusão em casa, os amigos, o velório, o enterro, a polícia. Tive de revelar que ele fora assassinado, coisa terrível para uma criança. Polícia mata bandido, o pai era um bandido? Um dia Ivo perguntou: ‘O país do papai vai entrar em guerra com o Brasil?’ Ele tinha ouvido que os militares do Brasil estavam em guerra. ‘Por isso mataram meu pai?’ Os garotos sabiam que Vlado era filho de judeus, que nascera na Iugoslávia, e isso em casa, até então, era uma coisa natural.”

Vlado Herzog, como se sabe, nasceu em Osijek, na Croácia, que então pertencia à Iugoslávia ocupada pela Alemanha nazista. O casal judeu Zigmund e Zora Herzog fugiu para o Brasil em 1940, com o único filho, de 3 anos. Ao atingir a maioridade, Vlado naturalizou-se brasileiro e passou a assinar Vladimir – “nome mais afinado com os trópicos”, dizia. Mas os amigos continuaram a chamá-lo de Vlado, como se fosse um diminutivo.

Ivo levou anos para recuperar-se do trauma. Com o ingresso familiar reduzido apenas ao seu próprio salário, Clarice cortou fundo as despesas, mas preservou o suficiente para o acompanhamento psicológico do filho.

Formado em engenharia naval pela Faculdade Politécnica da USP, Ivo fez MBA em logística nos Estados Unidos. Trabalhou nessa área até metade deste ano, quando resolveu largar tudo para dedicar-se integralmente ao Instituto Vladimir Herzog. Criado em 2009, o instituto, segundo seu site, pretende “contribuir para a reflexão e a produção de informação voltada ao Direito à Justiça e ao Direito à Vida”. Ao ato de seu lançamento compareceram o então governador de São Paulo, José Serra, e o ministro de Direitos Humanos, Paulo Vannucchi. Os hoje ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Fernando Henrique Cardoso gravaram mensagens de apoio. “O instituto é ideia do Ivo”. diz Clarice.

Gunnar, carioca robusto, cabelos e bigodes brancos, que chegou ao restaurante acompanhando Clarice, esclarece: “Ivo criou o instituto não para celebrar a morte do pai, mas para a celebração da vida dele, das coisas que Vlado fazia e pensava: direitos humanos, democracia, justiça, liberdade de expressão”.

Quem é Gunnar? Gunnar Cairoba, bisneto de alemães, neto de suecos e escoceses, filho de sueca e brasileiro, conheceu Clarice em 1977. Ele trabalhava na área de atendimento a clientes da MPM Propaganda, no Rio. E ela na Ogilvy, em São Paulo. Desde então estão juntos. Formado em administração de empresas, Gunnar hoje é responsável pela área administrativa da Clarice Herzog Associados. Vlado e Gunnar não chegaram a se conhecer.

Repórter: A dedicação de Clarice à memória de Vlado nunca criou problemas entre vocês?

Gunnar: Separo as duas coisas. Sei que esse espaço é da Clarice, que ela precisa desse espaço. Não interfiro, mas estou sempre do lado dela.

Clarice: Logo depois de começarmos a namorar, estávamos em Nova York, era o governo de Jimmy Carter. Eu disse para o Gunnar: “Vou a Washington fazer uma denúncia, você fica aqui. A morte do Vlado é meu problema”. E ele disse: “Se eu for ficar com você, é meu problema também”. E foi junto, deu força.

Somos quatro à mesa: Clarice, Gunnar, a fotógrafa Ana Paula Paiva e o repórter. Foi de Gunnar a sugestão do vinho tinto – um bem comportado Rupestro Úmbria 2009, leve mescla de merlot (80%) e sangiovese – para acompanhar o prato executivo do dia: ravióli de carne ao molho pesto genovês, com entrada de salada verde temperada com vinagre branco, mel e manjericão. Clarice pede tão somente insalata ficchi, uma salada verde com figos recobertos por fina crosta dupla de pão e farinha de trigo, e pequeninos cubos de ricota levemente picante, tudo encimado por uma flor comestível, violácea e saborosa, que Paula Lazzarini, a proprietária do Spadaccino, diz chamar-se capuchina. O repórter gostou do visual e substituiu a salada do menu executivo por meia salada de figos. Delícia!

Ivo e André nasceram em Londres, onde Vlado foi trabalhar na BBC e fazer um curso de documentarista de TV [o jornalista foi crítico de cinema no "Estado de S. Paulo", professor na Escola de Comunicação e Artes da USP, e filmou "Marimbás", documentário sobre pescadores do Posto Seis, no Rio - "cinema verdade", como era moda]. Estavam em Londres havia dois anos e meio quando decidiram voltar. Era 1968. Clarice veio antes, de navio, com os filhos. Vlado viria em 15 de dezembro. Mas no dia 14 leu nos jornais: “Endurece a ditadura militar no Brasil”. No dia anterior saíra o ato institucional nº 5, o mais feroz dos atos que a ditadura publicou no “Diário Oficial” – houve outros, não documentados. Mas Vlado adiou a volta apenas por uma semana. Trabalhou então no “Estado de S. Paulo”, na “Visão” e em 1975 estava na TV Cultura.

Enquanto isso, Clarice iniciava sua vida de “publicitária”. “Cheguei no porto de Santos e duas amigas já me esperavam para dizer que tinham me arrumado emprego na Lintas, uma “house agency” da Unilever”.

Estava há um ano na Ogilvy, quando Vlado foi morto. Dias depois, Jimmy Benson, o diretor da empresa para a América Latina, chamou-a para conversar. “Confesso que tive medo, era uma multinacional americana e eu a viúva de um cara que a polícia dizia ser membro do Partido Comunista Brasileiro…” Benson foi direto ao ponto: “Quero lhe dizer que, se quiser sair do Brasil, consigo espaço para você em qualquer lugar. Nossa agência está em muitos países do mundo”. E comentou: “É impressionante a gente ver este país colorido, alegre, pessoas na rua cheias de vida, e não se sabe que nos bastidores acontecem essas brutalidades”. Clarice preferiu ficar. E ficou por mais 20 anos na Ogilvy.

“Foram comoventes as manifestações de solidariedade. Pessoas que apenas encontrava na porta da escola quando ia levar meus filhos apareceram lá em casa. Velhos amigos reapareceram. Colegas de Vlado se mobilizaram no sindicato, nas redações dos jornais. Teve também o outro lado, pois alguns que considerava amigos de repente sumiram. É a vida.”

Em outubro de 1975, amigos de Vlado e jornalistas que tinham trabalhado com ele na revista “Visão” começaram a ser presos. Vlado previu que seria o próximo. Já era sexta-feira e Clarice sugeriu que, terminado o trabalho de Vlado na TV, colocado o noticioso da noite no ar, casal e filhos fossem diretamente para seu pequeno sítio em Bragança Paulista e só voltassem na segunda de manhã. Clarice iria de carro apanhá-lo na TV. “Ser preso no fim de semana é um problema. Você não consegue contato com ninguém, o advogado está viajando, está tudo desarticulado”, comentou com Vlado. Mas a polícia chegou antes. Um dos presos, torturado, indicara o endereço de Vlado. “Anoitecia quando os caras bateram lá em casa. Não se identificaram e disseram que procuravam o Vlado para encomendar um trabalho de ‘free lancer’, queriam que fotografasse um casamento no fim de semana. Falei que ele não era free lancer, tinha emprego fixo na TV Cultura e não era fotógrafo. Falaram: ‘Mesmo assim, precisamos falar com ele. Onde é a Cultura?’ Disse que sabia ir até lá, mas não tinha o endereço. Eles disseram: ‘A gente se vira’, e foram embora”.

Clarice ligou imediatamente para o marido que estava pronto para colocar o noticiário no ar. “Eles etão indo para aí, mas acho que chego antes”. Pegou os filhos e partiu. Chegou na TV e os “caras” já estavam lá. Os filhos testemunharam a discussão com os policiais – já aí assumidos – e ficou claro que estavam ali para prender seu pai. A intervenção de colegas, telefonemas “para a central”, “consultas às autoridades”, resultaram na suspensão da prisão imediata e o compromisso de Vlado comparecer ao DOI-Codi no dia seguinte. Vlado dormiu em casa e às 8 da manhã chegou ao Paraíso, o bairro onde ficava o prédio do DOI-Codi, na rua Tutoia. Pouco depois do meio dia estava morto.

Ainda na manhã de sábado, Clarice teve de contar para dona Zora que o filho dela estava preso. Clarice lembra que procurou não assustar a sogra, disse que não era como na época do nazismo na Croácia. Apreensiva, Dona Zora – o marido, Zigmund, morrera em 1972 – foi dormir na casa de um irmão. “Às 11 da noite, quando apareci na casa do irmão dela, nem precisei abrir a boca. Ela me viu e começou a chorar.” Dona Zora, segundo Clarice, foi de grande coragem e dedicação à nora e aos netos. “Todo o amor que tinha para o marido e o filho transferiu para nós. Cuidou de nós até morrer, em 2009. Quando casei com Gunnar, ela passou a chamá-lo de genro.” Gunnar acrescenta com bom humor: “Casado com minha nora só pode ser meu genro, não é?”

Clarice ganhou na Justiça um rumoroso processo de responsabilização do regime militar pela prisão, tortura e morte de Vlado. Seria o caso óbvio de ação indenizatória. Clarice, porém, não queria reduzir a perda do marido a uma questão financeira. “Recebe a indenização e o processo acaba? E quem matou fica livre?” Além disso, admite hoje, não lhe importava que a considerassem judia, o que ela não devia era reforçar a maledicência do preconceito: “O corpo nem esfriou e a judia já vai em busca do ouro”.

Clarice não tem ascendência judaica. É paulistana do bairro de Pinheiros, filha de católicos, o pai um engenheiro da construção civil, e a mãe, costureira. Na história familiar de Clarice há um episódio de violência e morte na luta contra ditaduras. Um tio, irmão de sua mãe, preso durante o Estado Novo no presídio Maria Zélia, em São Paulo, organizou a fuga com outros presos políticos. “Alguém dedurou e eles foram simplesmente metralhados. Meninos de vinte e poucos anos! Meu avô ficou de cabelo branco de um dia para outro; entrou com processo, mas resultou em nada. Cresci com ódio do Getúlio.”

Dois advogados que Clarice consultou em São Paulo, para que também a morte de Vlado não ficasse sem punição, aconselharam-na a desistir de ações contra o regime. Um deles escapuliu-se à responsabilidade de enfrentar os militares fazendo-se de radical: “Os crimes são tão hediondos que teremos que esperar um novo Tribunal de Nuremberg”.

Foi então que o jornalista Zuenir Ventura, colega de Vlado na “Visão”, levou-a a conversar com Heleno Fragoso, no Rio. O veterano criminalista aceitou a causa e convocou para auxiliá-lo três jovens advogados especialistas em processo civil – Samuel Mac Dowell de Figueiredo, Marco Antonio Barbosa e Sérgio Bermudes [ver entrevista deste último em "À Mesa com o Valor", Caderno Eu & Fim de Semana, edição de 25, 26 e 27 de fevereiro de 2011]. Em 1978, dois juízes da 7ª Vara da Justiça Federal, João Gomes Martins Filho, de 70 anos, em seus últimos dias de magistratura, e o jovem de 32 que o substituiu, Márcio José de Moraes, deram ganho de causa a Clarice. O Tribunal Federal de Recursos. confirmou a sentença. Agora, Clarice bate às portas do Tribunal de Haia. A ação é para condenar o governo a investigar e punir os responsáveis pela morte de Vlado, atribuída pela polícia a “suicídio”.

- Por que não usou a Justiça brasileira?

- Tentei usar, mas uma juíza considerou coisa já decidida em função da Lei de Anistia, sancionada em plena ditadura, 1979, pelo general João Figueiredo. A lei é uma aberração!

Já são mais de três horas e foi servida a sobremesa da fórmula executiva: musse de tourrone, frutas cristalizadas, mel, calda de frutas vermelhas. Clarice, que declinou do sorvete, precisa ir trabalhar. “Trabalho 12 até 13 horas por dia. Hoje, vou sair mais cedo, pois é o aniversário do Ivo.”

Clarice sempre trabalhou muito e desde muito cedo. Fez o ginásio no Colégio Fernão Dias Paes, seguido do curso técnico de química industrial. Mas já traduzia livros de inglês e francês, para uma pequena editora, com a ajuda de dicionários e da troca de ideias com duas amigas. Na faculdade de ciências sociais, pela manhã dava expediente como química industrial; à tarde ia para a editoria internacional do jornal “Última Hora”, onde trabalhou por dois anos, e, à noite, faculdade.

- O que acha da Comissão da Verdade?

- Sou absolutamente a favor da abertura de todos os arquivos. Mas defendo a punição dos culpados. Não anistio os torturadores. As pessoas que foram presas, assassinadas, estavam reagindo a um estado de exceção, a um golpe militar que derrubou um presidente eleito. Na Argentina, no Uruguai, no Chile, os golpistas foram punidos. Só no Brasil há perdão para a tortura política, um crime de lesa-humanidade, imprescritível.

Fonte: Luis Nassif Online

17.10.11

Portal Pessoa com Deficiência

Hoje em Pauta, 16/10/2011:

Andrei Bastos

Governo federal lança website voltado para inclusão e acessibilidade

Para membro da Comissão de Direitos Humanos da OAB/RJ, trata-se de uma vitória histórica no país

Por Isabela Pimentel
Clínica Literária

Com o objetivo de reunir informações sobre acessibilidade e inclusão social, a Secretaria Nacional de Promoção dos Direitos da Pessoa com Deficiência do Governo Federal lançou, no ultimo mês, o Portal Pessoa com Deficiência http://www.pessoacomdeficiencia.gov.br/app.

A criação do site faz parte das ações da Secretaria dos Direitos Humanos, em prol da articulação de políticas públicas em defesa das pessoas que possuem necessidades diferenciadas. A política nacional para a pessoa com deficiência, instituída na Convenção sobre os Direitos da Pessoa com deficiência foi aprovada pelo Congresso Nacional, em 2008.

O portal apresenta projetos das Comissões Técnicas, além de indicadores, programas, ações, eventos e informações sobre o universo da acessibilidade. Além disso, merecem destaque a área de publicações, com artigos, leis e informações sobre as políticas focadas em inclusão social e a área “pauta inclusiva”, com notícias atualizadas.

Para Andrei Bastos, jornalista e membro da Comissão de Direitos Humanos da OAB-RJ, o lançamento do site pelo Governo Federal significa, além de uma vitória política do movimento de pessoas com deficiência, uma conquista da acessibilidade e inclusão proporcionadas pela tecnologia.

- Com os recursos de que dispõe, a internet é a janela para o mundo e para o conhecimento para uma quantidade enorme de deficientes com restrições visuais ou motoras.

Bastos afirma que o portal contribuirá para a adoção de políticas de comunicação mais inclusivas, devido a seu potencial de alcance, pois se apresentará como um canal de difusão de questões referentes aos direitos das pessoas com deficiência.

Um longo caminho

O jornalista explica que a comunicação voltada para a acessibilidade ainda apresenta grandes gargalos no Brasil e cita a falta de apoio de patrocinadores como uma das maiores dificuldades:

- A maior dificuldade dessa comunicação é o preconceito dos grandes patrocinadores que não querem associar suas marcas às deficiências, o que impede a conquista da escala necessária para se levar informação e lazer para os muitos milhões de deficientes brasileiros, declara.

Bastos ressalta a necessidade de existência de ações focadas neste público, especialmente por parte dos anunciantes e patrocinadores de ações e eventos. Ele afirma que, segudo a Febraban – Federação Brasileira de Bancos, as pessoas com deficiência movimentam aproximadamente R$ 100 bilhões por ano.

Casos de sucesso

Apesar da falta de apoio e patrocínio, muitas publicações com foco na promoção da acessibilidade ganharam destaque, como a revista Sentidos (http://revistasentidos.uol.com.br/), Inclusive (http://www.inclusive.org.br/), Rampa de Acesso (http://www.rampadeacesso.com/) e o site Bangala Legal (http://www.bengalalegal.com/).

Sites colaborativos e blogs sobre o tema também atraem o público com informação atualizada e de qualidade sobre o tema, a exemplo do Mão na Roda (http://maonarodablog.com.br/), Blog da Audiodescrição (http://blogdaaudiodescricao.blogspot.com/), Surf Adaptado (http://andresinhocarioca.blogspot.com/).

Para você, qual a importância de uma comunicação voltada para a acessibilidade?

Para conhecer mais os projetos do Jornalista Andrei Bastos em prol da acessibilidade, acessse o blog http://blog.andrei.bastos.nom.br/

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Esta matéria também foi publicada em:

Clínica Literária

13.10.11

A culpa é dos peixes

MARCIA DE ALMEIDA:

Gente, bom dia!

Não publico um livro há 10 anos. O último foi o romance LAGARTIXAS, pela Editora Booklink.

Está mais do que na hora de publicar outro, e é o que vou fazer no próximo dia 24 de outubro, segunda-feira, das 19 às 22h, na Casa Laura Alvim, Ipanema, Rio.

Chama-se A CULPA É DOS PEIXES, também é um romance e está sendo editado pela Editora Multifoco.

Peço que repassem o convite, a quem acharem que podem e devem.

Agradeço a força na divulgação e a presença de todos.

Um abraço fraterno e até lá,

Marcia

PS: Quem tiver Livraria Cultura na sua cidade, pode pedir o livro pelo site deles, depois do lançamento. É o caso de Brasília, Recife, Fortaleza, Campinas e Sampa.

8.10.11

O movimento dos surdos

História do Movimento Político das Pessoas com Deficiência no Brasil, Secretaria de Direitos Humanos:

O movimento dos surdos: Língua Brasileira de Sinais, cultura e identidade surda

Com a instalação das escolas para surdos, surgiu também a disputa sobre o melhor método de educação de surdos: a Língua Brasileira de Sinais, o oralismo ou a mista. No final do século XIX, a Língua de Sinais sofreu grande revés. Em 1880, no Congresso Internacional de Professores de Surdos, em Milão, Itália, o método oral foi escolhido como o melhor para a educação dos surdos. A Língua de Sinais foi proibida oficialmente em diversos países, sob a alegação de que destruía a habilidade de oralização dos surdos. Tal proibição despertou o que alguns autores chamam de “isolamento cultural do povo surdo”, já que a proibição dessa língua tem por consequência a negação da cultura e da identidade surdas. Seguindo a orientação do Congresso de Milão, o Imperial Instituto dos Surdos-Mudos também proibiu a Língua de Sinais. Como consequência dessa proibição, observou-se o declínio do número de professores surdos nas escolas para surdos e o aumento dos professores ouvintes.

Essa proibição criou o que alguns estudiosos contemporâneos chamam de “ouvintismo”, que seria o conjunto de representações dos ouvintes a partir do qual o surdo está obrigado a olhar-se e narrar-se como se fosse ouvinte.

O termo é uma analogia a colonialismo e colonialista. As práticas ouvintistas são um conjunto de estratégias e ações que podem ser tanto físicas, visíveis ao corpo do surdo – como as próteses auditivas –, quanto subjetivas, como as formas de disciplinar o surdo; as normas, os costumes, jeitos e trejeitos ouvintes que impõem esses sujeitos ao ouvintismo, às práticas de normalização que imprimem uma forma de „ser surdo ouvintizado.

Os alunos surdos eram proibidos de usar a Língua de Sinais; assim, para impedir-lhes o uso, foram adotadas medidas extremas tais como: forçar os alunos a manter os braços cruzados, amarrar as mãos, comparar quem usava a língua de sinais com macacos. Os códigos não foram eliminados, mas conduzidos ao mundo marginal.

Os movimentos dos surdos passaram, então, a constituir-se como uma resistência às práticas “ouvintistas”. Esses movimentos se dão em espaços como as associações, as cooperativas e os clubes – territórios livres do controle ouvinte –, onde os surdos estabeleciam intercâmbio cultural e linguístico e faziam uso da Língua de Sinais. Grande parte das associações de surdos surgiu exatamente nos períodos de maior ênfase à oralidade e à negação da diferença, envolvendo o final do século XIX até aproximadamente as décadas de 1960 e 1970. Ou seja, um dos principais fatores de reunião das pessoas surdas era, e ainda é, o uso e a defesa da Língua de Sinais.

Do Relatório Anual 2003 da Feneis

Do Relatório Anual 2003 da Feneis – Federação Nacional de Educação e Integração dos Surdos:

Da Antiguidade aos nossos dias: breve histórico dos surdos no mundo

A história dos surdos e a origem da exclusão são contadas a partir de diversos recortes da história da humanidade. Ao reunir os momentos em que a historiografia registra a passagem dos surdos é possível tecer uma análise histórica sobre a representação dessas pessoas desde a antigüidade e sobre o reconhecimento na sociedade atual.

Na literatura mundial, os registros mais antigos são as passagens do antigo testamento que mostram que hebreus, egípcios e romanos já conviviam com os surdos e os consideravam inferiores. Rômulo, fundador de Roma, decretou no ano 753 a.C. que todas as crianças de até três anos que constituíssem um peso potencial para o Estado fossem sacrificadas. Os surdos estavam nessa lista. Já na Grécia antiga, predominava o ideal da beleza e da perfeição, representado pelos deuses gregos. Nesse contexto, os surdos eram considerados imperfeitos e incapazes de desempenhar qualquer atividade produtiva ou útil para o Estado. Heródoto, historiador grego, dizia que os surdos eram castigados por Deus. Até mesmo Aristóteles, que participava de um movimento filosófico baseado na experimentação, não acreditava na possibilidade de participação dos surdos na sociedade grega. Nessas sociedades antigas, os surdos ficavam restritos aos seus lares por vergonha da família. Essa situação perdura em algumas casas até os dias de hoje.

Por certo, a representação que se tinha dos surdos passa por lentas mudanças ao longo da história, mas o estigma da inferioridade ainda continua presente. No século XVIII, entretanto, essa situação começa a sofrer transformações radicais. Ao observar que os surdos pobres da periferia de Paris se comunicavam através de gestos, o Abade L’Epée (1712-1789) resolveu aprender essa forma de comunicação e criou a primeira escola pública para surdos com a metodologia de ensino baseada no uso da língua de sinais. Esse foi o primeiro passo para a valorização dos surdos enquanto pessoas capazes. Se há possibilidade de aprendizado e de desenvolvimento ao se empregar uma outra forma de ensino, então há uma igualdade cognitiva entre surdos e ouvintes. Esse modelo educacional se expandiu por toda a Europa e as escolas dos outros países passaram a utilizar as línguas de sinais nacionais.

O avanço na educação durou pouco mais de um século. Ele foi abafado pela força da medicina e por correntes filosóficas que refutavam a possibilidade de se comunicar e de ensinar através dos gestos. Em 1750 surge o método do oralismo, o qual considera a surdez uma patologia crônica, traduzida como uma lesão no canal auditivo que impede a aquisição da língua. Para os defensores do modelo médico, a voz é o único meio de comunicação e de educação. Nesse sentido, intervenções clínicas, segundo os médicos e fonoaudiólogos, podem corrigir a surdez e induzir à fala. Além disso, a concepção errônea de que a abstração só é possível através da comunicação oral e que o gestualismo leva ao pensamento concreto ajudou a reforçar a ideologia dominante. Sendo assim, o oralismo parte da idéia de uma “normalização” dos surdos. Em 1880, esse método foi oficialmente adotado no Congresso de Milão. Desde então, foram excluídas todas as possibilidades de uso das línguas de sinais nas instituições ou nas escolas que recebiam surdos. Orientada pelos professores, a família também passou a adotar o método em casa.

Seguiram-se anos de extrema repressão, em que simples gestos eram considerados caminhos para a língua de sinais e, portanto, estavam expressamente proibidos. No auge do oralismo, aquele surdo que utilizasse sinais era severamente punido. Às vezes tinha as mãos amarradas, eram impedidos de se encontrarem com outros surdos e sofriam castigos físicos. Eram verdadeiras perseguições que reforçavam cada vez mais o colonialismo dos ouvintes.

Durante o período em que predominou a ideologia oralista, alguns surdos continuaram com suas reuniões que se originaram nos banquetes de surdos franceses de 1834. Esses encontros eram bem mais do que simples reuniões. Eles nasceram puramente da necessidade de se comunicar, de encontrar um igual, pessoas que “falassem” a mesma língua e que se entendessem. Com o tempo conquistas e experiências foram sendo comunicadas. Depois da implantação do oralismo, as reuniões passaram a ser a resistência da cultura surda, pois era o único lugar onde a língua de sinais era usada, mesmo sendo proibida. As primeiras organizações francesas deram origem às associações de Surdos que se espalharam pelo mundo todo. Hoje, além de desempenhar uma função política e social, elas funcionam como lugares de rica convivência, troca de experiências, lazer, esporte e, principalmente, o fortalecimento da identidade Surda. Uma importante organização que surgiu da luta das associações é a Federação Mundial dos Surdos, entidade não-governamental que representa as comunidades surdas em organizações como a ONU, UNESCO, OMS e OIT.

Fonte: PERLIN, Gladis T. T. História dos Surdos. Caderno Pedagógico – Pedagogia para Surdos. Florianópolis: UDESC (Universidade do Estado de Santa Catarina/ CEAD, 2002. 107p

SKLIAR, C. (Org.) A Surdez: um olhar sobre as diferenças. Porto Alegre, RS: Mediação, 1998.

Os surdos no Brasil

No Brasil, a história não foi muito diferente. Em setembro de 1857 surgiu na cidade do Rio de Janeiro a primeira escola de surdos brasileira a utilizar a língua de sinais, o Imperial Instituto de Surdos-Mudos, hoje chamado INES (Instituto Nacional de Educação dos Surdos). A iniciativa foi de Eduard Huet, professor surdo que havia se mudado da França para o Brasil naquela época e que seguia a mesma modalidade de ensino do abade L’Epée. Mas, assim como a educação na França, a língua de sinais no Brasil deixou de se desenvolver com o Congresso de Milão. Embora a influência do oralismo fosse forte, os surdos brasileiros buscaram alternativas de se comunicarem através da Língua Brasileira de Sinais (Libras). Organizaram-se em forma de associações para viverem aí a sua cultura.

No princípio eram apenas encontros que aconteciam nas escolas ou mesmo em pontos de encontro. O Instituto Nacional de Educação de Surdos do Rio de Janeiro é um desses famosos lugares, na rua das laranjeiras. Surdos de todo o país iam estudar na capital do Rio de Janeiro e a partir dessas reuniões informais surgiam algumas lideranças.

Na década de 50 surgiram as primeiras associações de surdos no Brasil, que depois de algum tempo começaram a se organizar politicamente. Associação Brasileira de Surdos-Mudos (Rio de Janeiro), Associação Alvorada dos Surdos (Rio de Janeiro) e Associação dos Surdos de São Paulo foram as primeiras do país. Hoje, praticamente todas as cidades que conseguem reunir um número mínimo de surdos para fundar uma associação o fazem. Elas estão espalhadas por todo o país, em cidades pequenas, médias ou grandes. O esporte tem sido um dos grandes responsáveis pelo intercâmbio entre as associações de todo o país, já que as competições esportivas reúnem surdos de diversos lugares. Esse é um fator importante para a troca de experiências sobre as lutas pelo reconhecimento nas várias regiões.

5.10.11

Steve Jobs

3.10.11

Inclusão não se faz “goela abaixo”

Blog Tudo Bem Ser Diferente, 01/10/2011:

Inclusão – Comentários sobre a Reportagem veiculada pelo Jornal da Record News

A luta do Arthur pelo respeito ao seu direito de frequentar uma escola foi exibido em matéria do Jornal da Record News – o video está disponível na Internet, na página do R7: “Inclusão de crianças com deficiências em escolas comuns é um desafio”.

Desde que a reportagem foi ao ar, estou sendo procurada para esclarecer e comentar o que foi dito pela psicóloga Sra. Maria Luísa Bustamante, notadamente “o convívio não pode ser empurrado pela goela abaixo dos professores e dos alunos sem que haja um cuidado e uma preparação”.

Todos sabemos que a matéria é editada e, da mesma forma que muitas coisas que falei não foram veiculadas, não podemos ter certeza do contexto no qual tal assertiva estava inserida. Assim, prefiro acreditar que foi apenas uma escolha infeliz e que a profissional tenha tido o objetivo de dizer algo diferente do que ficou parecendo.

Gostaria de dizer que não conheço a referida psicóloga e não posso dizer qual sua real opinião sobre a Inclusão. Mas, fato é que todos tem direito a educação, a inclusão é lei e a discriminação é crime.

Obviamente, em alguns casos, dependendo da deficiência da criança, haverá a necessidade de profissionais com preparo especial para ajudá-las a desenvolver seu potencial e superar suas limitações – mas estamos falando de preparo técnico para atender a especificidade da criança da criança especial – NÃO É CURSO DE ACEITAÇÃO DE PESSOAS ESPECIAIS. Não existe preparação para se receber, aceitar e respeitar um ser humano. As deficiências não são somente inatas e podem ser adquiridas a qualquer tempo, por qualquer pessoa. Nenhuma mãe faz um curso especial para ser mãe de uma criança deficiente e não existe nenhum curso preparatório para pessoas antes de sofrer um acidente que lhes limitará suas habilidades.

É imperioso salientar que a diferença existe em todo lugar, pessoas portadoras de necessidades especiais frequentam shoppings, praças, supermercados e ninguém precisa de um preparo especial para frequentar tais locais ou deixa de frequentá-los para afastar-se das diferenças – os pais sabem que, na escola, seus filhos estarão em contato com outras pessoas e que, em não pode haver distinção de qualquer espécie seja de raça, cor, sexo, língua, religião, opinião política ou de outra natureza – ninguém põe o filho na escola esperando que esta lhe forneça um mundo de fantasia e isolamento, afastando-os da realidade da vida. Este tipo de opinião já gerou campos de concentração, apartheid, genocídio e, em escolas, Bullying quando um colega ou um professor resolve “não engolir o outro goela abaixo”.

Não se trata de ter que “engolir goela abaixo” – vivemos em sociedade e temos que nos comportar civilizadamente, respeitando normas jurídicas, sociais, morais e éticas. Assim, um professor não pode recusar um aluno ou escolher um aluno. Se ele escolheu lecionar, tem que aprender a atender todos os alunos. Se não se sente preparado, que busque ajuda e se prepare – Se não tem competência, gabarito ou intensão de atender a todos, é melhor que escolha outra profissão ou seja – na linguagem da psicologa “se escolheu ser professor, ele tem sim que engolir qualquer aluno que entrar em sua turma e aceitá-lo sem qualquer preconceito”

O mesmo serve para qualquer outra pessoa, mesmo outros alunos. Traduzindo, todo mundo tem que engolir todo mundo, “o direito de um termina quando começa o do outro”, a relação entre as pessoas é como uma rua de mão dupla “os normais têm que engolir os deficientes na mesma medida que os deficientes têm que engolir os normais”; para sermos respeitados, temos que saber respeitar; “o vento que venta lá, também venta cá”, e assim por diante. A nossa sociedade é plural e possui vários caminhos – foi assim que foi implantada a igualdade dos sexos, o sistema de cotas e outras políticas voltadas aos direitos humanos e pelo respeito à dignidade de todos.

Não se pode falar de crianças especiais como se estas fossem uma coisa desagradável, aberrações que estão sendo impostas aos professores e demais alunos…. são seres humanos, pessoas em desenvolvimento, crianças, que precisam de amor, atenção e respeito independente de qualquer preparo.

Gostaria de salientar também que apenas a colocação de rampas e elevadores não significam acessibilidade. Acessibilidade é, primeiramente, uma mudança de mentalidade – é saber reconhecer a especialidade de cada um e fornecer para cada pessoa qualquer coisa que for necessária para que ela desenvolva seu potencial.

Sou professora e já tive o prazer de lecionar para portadores de necessidades especiais, e posso dizer por experiencia própria que antes de qualquer preparo e especialização é preciso ter BOA VONTADE, HUMANIDADE, DISPOSIÇÃO PARA APRENDER E SE RECICLAR. Todo ser humano tem capacidade para aprender e todo ser humano tem também capacidade para ensinar.

No mais, a matéria foi muito bem editada e terminou de forma esplendida com a frase do neuropediatra Dr. Eduardo Zaeyen “ A inclusão é benéfica aos professores e outros alunos – vai mudar o conceito da tolerância ao diferente pela aceitação ao diferente, e aceita por que é capaz de identificar que o diferente é capaz de agregar valor”.

1.10.11

Acessibilidade com quem sabe

As prefeituras, particularmente a do Rio de Janeiro, precisam urgentemente procurar assessorias especializadas, como o Núcleo Pró-Acesso da UFRJ (www.proacesso.fau.ufrj.br) ou a Soluções Sustentáveis (www.solucoessustentaveis.com), para realizar obras de acessibilidade corretamente, sem os graves problemas existentes no Catete, por exemplo, onde as rampas são totalmente inadequadas.