31.3.11

Reflexões sobre adesão e aliança política

Do ponto de vista matemático, a ordem dos fatores não altera o produto em termos de adição e multiplicação, mas em política, como não é uma ciência exata, a ordem dos fatores pode alterar o resultado. Assim é que quando se discute uma aliança política a um partido ou governo, deve-se levar em conta ritual político envolvendo: primeiro, se há interesse entre as partes e depois se os entendimentos nas questões políticas fundamentais, respeito aos princípios republicanos, à liberdade de imprensa, convivência democrática com as posições divergentes, transparência administrativa e rigor nos gastos públicos. Na seqüência, os desdobramentos naturais como participação no governo com projetos e até mesmo com cargos.

Um partido político, que tenha clareza sobre essa questão em termos de objetivos e de princípios, não pode funcionar ao sabor dos ventos, sob pena de confundir-se com um ajuntamento para tratar muito mais de interesses pessoais e subalternos.

Ora, ser situação ou oposição faz parte do jogo político. Essa equação só faz fortalecer a democracia. Querer ser oposição no momento eleitoral na esperança de galgar o poder é perfeitamente legítimo e não desmerece a ninguém. Mas querer bandear-se para o lado vencedor sem qualquer análise e proposição política que justifique este ato, cheira a puro oportunismo, é querer levar vantagem de uma situação política que dela não participou.

No caso do Estado do Rio de Janeiro competimos na eleição passada com a candidatura de Fernando Gabeira do PV, aliados com o PSDB e o DEM. Portanto, a menos de seis meses éramos competidores oposicionistas. Agora, mal o novo governo se instalou já se pretende aderir. Qualquer pessoa que tenha um mínimo de entendimento político vai compreender que tal procedimento é condenável do ponto de vista ético.

Os autores dessa proposta de adesismo são os mesmos que descumpriram as determinações políticas do partido e apoiaram o atual governo, cometendo, por isso mesmo, infidelidade partidária.

Esta situação é que deveria estar sendo discutida no partido. Um partido sério não pode permitir que seus parlamentares sigam caminhos diferentes daquilo que o coletivo decidiu. Só querem usar o tempo de televisão e pousar de independentes internamente e adesitas a qualquer governo, principalmente nos períodos eleitorais, quando vislumbram grande expectativa de poder.

O PPS do Paraná deu um belo exemplo que merece de todos nós uma profunda reflexão. Em 2008 elegeu vários prefeitos e também uma quantidade razoável de vereadores. Recentemente, num processo crítico e autocrítico decidiu punir aqueles que, contrariando decisão partidária nas últimas eleições, praticaram infidelidade. O Diretório do Paraná, coerente com o que afirma, isto é, ser um partido ético e decente, resolveu expulsar alguns prefeitos e vereadores e punir outros com penas de advertência etc.

Aqui no Estado do Rio de Janeiro a situação é bem outra. O argumento que os adesistas apresentam é simplório. Afirmam que o atual governo tem pontos positivos tais como segurança, cultura, finanças etc. E por isso mesmo, devemos participar desse governo, depois de termos sidos derrotados nas urnas há seis meses.

Ora, se a questão de aderir ou não a governos é simplesmente apontar pontos positivos, há de se perguntar: será que tem algum governo sem pontos positivos? Se essa lógica prevalecer entre nós, fica aqui a seguinte indagação, por que não aderir logo ao governo federal que, reconhecidamente - a começar pela política externa - tem pontos positivos? Está tomando medidas duras na economia para impedir que a inflação volte com altos índices.

Ser oposição nos períodos eleitorais na perspectiva de galgar o poder é da lógica política. Mas ao se ver derrotado nas urnas e apontar pontos positivos no governo considero, sem medo de estar cometendo um apressado juízo de valor, puro adesismo. Para caracterizar bem esta situação o saudoso Stanislaw Ponte Preta diria: trata-se do samba do crioulo doido na política. Partido com esse tipo de comportamento pode ser chamado de qualquer coisa, menos de ético e decente.

A situação do PPS-RJ é sui generis. Há seis meses foi derrotado nas urnas. Os infiéis, que praticaram abertamente a infidelidade partidária, agora, num lance de ousadia oportunista, querem levar o partido para o governo. São eles que desejam ditar os rumos do partido no Estado.

Diferentemente do Paraná, aqui estamos discutindo se vamos ou não aderir ao governo. Que me perdoem os defensores dessa tese. Essa prática não é adotada nem pelo PMDB. Seus dirigentes são mais refinados. Os grupos internos do partido aderem ao novo governo, mas o partido como instituição fica de fora, pelo menos nos primeiros momentos da adesão.

Finalmente, gostaria de lembrar um fato histórico do antigo Estado da Guanabara, que teve como primeiro governador Carlos Lacerda.

Passadas todas as refregas políticas que nós do antigo PCB, PTB, PSD, PSB, entre outros partidos, há um reconhecimento generalizado de que o Lacerda fez um dos melhores governos do ponto de vista administrativo.

Para a crônica falta de água na cidade, construiu a Adutora Guandu; para melhorar o trânsito da cidade, fez os túneis Rebouças, Santa Bárbara, o elevado do Joá e seus dois túneis; reformou o hospital Souza Aguiar, que estava caindo aos pedaços; fez vários elevados para desafogar o trânsito; construiu, nos principais bairros e praças públicas, os famosos escolões; transformou o Banco da antiga Prefeitura do Distrito Federal num dos maiores e mais competitivos bancos do país – o BEG - que deu origem ao BANERJ, depois da fusão dos Estados da Guanabara e o antigo Estado do Rio; criou também a CTC, Companhia de Transportes Coletivos.

Vejam os companheiros que este rol de realizações e não de pontos positivos, como agora se apregoa, não sensibilizaram os partidos oposicionistas. As razões políticas, na época, eram muito claras. O governador Lacerda tinha um desvio autoritário muito sério, o de recorrer aos quartéis para tentar solucionar problemas de ordem política. Não era um republicano. Não respeitava as instituições democráticas e, muito menos, o resultado das urnas. Lutava desesperadamente pedindo aos militares que derrubassem o presidente João Goulart, eleito democraticamente.

O final dessa história é trágico. O Jango foi derrubado do poder pelo golpe militar de 1964, que durou 20 anos. Os ditadores fecharam o Congresso, reprimiram violentamente as manifestações a favor da democracia, prenderam, mataram, exilaram homens e mulheres etc. Como resultado concreto dessa tragédia foram vinte anos de escuridão política, cultural e violenta repressão aos democratas.

Essas foram as principais razões para não se aderir a um bom governo administrativamente.

E o Lacerda, por ironia da história, também acabou vítima dos militares. O caçador virou caça. A ditadura militar barrou-lhe a pretensão de ser presidente do Brasil.

Roberto Percinoto

28.3.11

Carlos Zéfiro com audiodescrição


Blog da Audiodescrição, 27/03/2011:

A história do criador dos “catecismos de sacanagem”: últimas apresentações com audiodescrição

Nota do Blog:
Imperdível! Peça conta a história do mais famoso autor dos “catecismos”, como ficaram conhecidas suas revistinhas de “sacanagem”. Últimas apresentações com audiodescrição no Rio de Janeiro.


Descrição do flyer: Sobre fundo bege envelhecido lê-se: Eletrobrás apresenta – Os Catecismos segundo Carlos Zéfiro. Texto e direção: Paulo Biscaia Filho. Elenco: Clara Serejo, Jandir Ferrari, Leandro Daniel Colombo, Mariana Consoli, Marino Rocha, Martina Gallarza, Rafa de Martins. Ao lado do texto há uma silhueta negra de um homem de pé usando chapéu. Em primeiro plano, outra silhueta masculina, de um homem sem rosto, também de chapéu e a sua frente o desenho de uma mulher nua com as pernas abertas. No lado direito da imagem, sobre fundo preto estão as marcas dos apoiadores e o endereço do teatro: Rua Primeiro de Março, 66 – Centro – RJ. Informações: (21) 3808-2020.

Sobre Carlos Zéfiro:

Carlos Zéfiro era o pseudônimo de um funcionário público brasileiro, que em suas horas vagas e as escondidas, desenhava pequenas histórias em quadrinhos, semelhantes a um folhetim, que eram impressas clandestinamente, em preto e branco, e que continham desenhos mostrando várias histórias envolvendo homens e mulheres em diversas “sacanagens” e que eram conhecidos com o sugestivo nome de “catecismos”, durante as décadas de 50 até 70.


O autor dessa proeza foi um brasileiro muito criativo chamado Alcides Aguiar Caminha, nascido em 25 de setembro de 1921, no Rio de Janeiro, casado com a dona Serat Caminha, com quem teve cinco filhos.

(Clique aqui para saber mais)

27.3.11

Livro infantil de audiodescrição

Blog da Audiodescrição, 26/03/2011:

Livro infantil de audiodescrição trata de diferenças e inclusão

BRASÍLIA (Agência Brasil) - Compreender as diferenças e viver com elas. Essa visão especial levou a escritora Monica Picavêa a escrever o livro Simplesmente Diferente, considerado o primeiro de audiodescrição destinado ao público infantil com deficiência visual. A ideia surgiu da convivência com as pessoas com deficiência e também para que as filhas gêmeas, hoje com 2 anos, encarassem essa relação como algo natural.

De acordo com a autora, “é o livro de uma pessoa que não tem ninguém na família com deficiência, para crianças que não têm deficiência, mas também para as que têm, enfim, para criar um mundo onde a inclusão seja uma coisa natural”.

Mônica disse que a publicação, que vem acompanhada de um CD, não deve ser confundida com o audiolivro, em que uma pessoa lê a história para outros. Na audiodescrição, todas as imagens são descritas de forma a serem compreendidas pelas crianças com deficiência visual. É descrito aquilo que compreendemos visualmente e que não está contido nos diálogos, como expressões faciais e corporais.

“As ilustrações do livro, de Hugo Serra, estavam ficando tão bonitas que era necessário ir um pouco além”. A ideia de audiodescrição é da especialista Lívia Maria Villela de Mello Motta. “A gente estava fazendo um livro sobre inclusão, onde a criança com deficiência visual poderia saber a história, mas não poderia ver, foi quando a professora Lívia sugeriu a audiodescrição. Ela disse que não tinha conhecimento de nenhum livro infantil com audiodescrição. Esse é o primeiro”.

Simplesmente diferente é uma coletânea de sete historinhas rimadas, inspiradas em pessoas reais e ensinam a enxergar a diversidade com mais naturalidade. O livro é editado pela J.J Carol e pela Fundação Stickel.

No Brasil, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), existem aproximadamente 16,5 milhões de pessoas com deficiência visual total e parcial.

A atriz Roseli Behaker Garcia inspirou uma das histórias de Simplesmente Diferente: Que nem Pipoca!, onde tia Rô não pode enxergar e mesmo assim vive no palco a atuar. “A Mônica quis dizer para as crianças que é possível trabalhar em grupo e que cada um, com sua diferença, pode ter uma função no grupo que está. Ela faz uma analogia da pipoca, que é milho e tem que conviver com a transformação.”

Roseli diz que a ideia da escritora de fazer histórias com pessoas do cotidiano, que têm uma deficiência, é uma grande iniciativa. “O fato dela ter lembrado de mim em uma das histórias me deixou muito feliz. “
Mônica explicou que o motivo do livro, a inclusão, tem funcionado com suas filhas. “Para elas é natural, tanto a cadeira de roda, quanto as pessoas com deficiência visual ou qualquer outro tipo”.

Fonte: Agência Brasil

25.3.11

Contra a NET

Mensagem enviada para a Ouvidoria da NET em 25/03/2011:

Busco a Ouvidoria para tentar solucionar o problema que a NET está causando em minha vida. Foi-me oferecido um pacote HD Max com 10MB. Relutei a princípio, mas depois de muita insistência por parte de vocês acabei capitulando. Meu grande erro. Desde o dia 10 de março, data da instalação do novo pacote, não tenho internet direito, tenho perdido horas de trabalho, meu filho perde aulas preciosas na Faculdade, e meu serviço está atrasado, já que preciso muito da internet para o trabalho. Nessas duas semanas de novo pacote NET, minha internet oscila entre 0,2 e 4,9 MB. Quer dizer, menos do que tínhamos antes, que era 6,0 MB. Aliado à perda de pacote de 10%, ping de 200 COM A PRÓPRIA NET, enfim, uma instabilidade total.

Mas pior do que não ter o serviço que me foi ofertado COMO SE FOSSE O JARDIM DO ÉDEN, é ser atendido por técnicos incompetentes, que não sabem o que estão fazendo e pior: acham que o cliente é um ser desprovido de qualquer sinal de inteligência, pois as explicações que nos são dadas beiram o rídículo. Uma das últimas é que nós precisamos esperar mais ou menos uma semana que o sinal internet fica bom. Eu poderia até rir, se fosse uma piada. Mas não é. É o descaso, incompetência e pouco caso de vocês. Basta veriifcar a quantidade de telefonemas que temos dado para a central de atendimento NET e a quantidade de visitas dos pseudo-técnicos que tenho recebido.

Eu preciso de uma solução URGENTE!!, quero uma solução e não quero mais este tipo de pacote. Porque nos ofereceram um serviço que vocês não podem atender? Quem paga nossos prejuízos com o atraso na entrega dos meus trabalhos? Porque nós temos compromissos e responsabilidades. O que parece a NET não tem. A não ser esperar que alguém provido de um pouco mais de capacidade resolva meu acesso internet, a mim só resta usar minhas redes sociais, as colunas de Defesa do Consumidor dos jornais para reclamar da NET.

Eu não quero pagar por esses dias de inoperância. Aliás, gostaria de poder dizer para vocês o mesmo que o técnico da NET me disse: Espera mais ou menos uma semana para ver se o problema é resolvido. Eu diria: Espera mais ou menos uma semana para ver se eu pago a fatura deste mês. Infelizmente não posso fazer isso. Mas certamente, posso procurar outra operadora. Aguardo uma solução para o problema causado pela NET.

Aproveito para comunicar que não tenho nenhum interesse mais no NET Fone. Aguardo também que a NET trate seus clientes com mais respeito e consideração.

Tenho diversos números de protocolo de MAU ATENDIMENTO. Transcrevo apenas alguns:
OS1127604695,
OS1127068475,
038110457029745,
Reclamação 038110457147448,
Atendimento 038110457153669,
Atendimento Ouvidoria 038110457118324.

Espero sinceramente que meu desgaste com a NET tenha um fim. Porque a minha paciência já chegou ao fim.

23.3.11

Contra o “Estatuto do Coitadinho”

Abaixo-assinado Pelo Arquivamento do Projeto de Lei que Institui o Estatuto da Pessoa com Deficiência

Para: Congresso Nacional

A Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência é o instrumento facilitador para o exercício e gozo dos direitos reconhecidos no sistema universal, para que elas os vivam, plenamente, e em igualdade com as demais pessoas.

A deficiência é um produto social, fruto da relação das pessoas com deficiência com seu entorno. O ambiente, assim, pode ser capacitante ou incapacitante.

No projeto de lei que prevê a criação de um Estatuto da Pessoa com Deficiência estão inseridos programas, serviços, atividades e benefícios, muitos deles ainda concebidos através de uma visão assistencialista e paternalista e por vezes até autoritária em relação às pessoas com deficiência.

Este projeto de lei, resultado de várias consultas públicas ao longo de alguns anos, como dizem seus defensores, ainda mantém em grande parte esta atitude tuteladora, vendo as pessoas com deficiência como não fossem capazes e com direito de fazer suas próprias escolhas, de tomar suas próprias decisões e de assumir o controle de suas vidas.

Retira a responsabilidade prioritária do Estado de assegurar a efetivação dos direitos humanos e fundamentais das pessoas com deficiência, quando compartilha esta responsabilidade com a família, com a comunidade e a sociedade.

Faculta ao Estado fazer convênios e parcerias com Instituições, Fundações e Organizações no que toca a saúde, educação e trabalho, não criando nenhum mecanismo de controle destas Instituições, em detrimento a qualidade dos serviços prestados.

Não avança para garantir um ensino de qualidade para todos e nem emprego digno às pessoas com deficiência, pelo contrário legaliza novamente a exploração da mão de obra deste segmento, permitindo o enriquecimento desmedido do que chamam de entidades qualificadas para intermediar.

Apesar de estar escrito que esta lei, caso aprovada, entraria em vigor decorridos 90 dias da sua publicação, ela não é auto-aplicativa, e necessita de várias normalizações para poder entrar em prática.

É oportuno relembrar que a proposta do Estatuto da Pessoa com Deficiência nasceu fora da nossa representatividade.

O nome inicial do projeto de lei – que era Estatuto do Portador de Necessidades Especiais – já é sintomático de que foi dado por pessoas que não nos representam.

Acima disto, reflete uma atitude de proteção assistida e de separação.

Ele é uma volta ao passado quando havia a necessidade de um instrumento com estas características para dar assistência à generalização da situação precária das pessoas com deficiência, mas sem abrir mão da incapacidade das pessoas com deficiência de conviver e competir com a sociedade geral.

Nos tempos atuais um estatuto específico para nós é um contra-senso e um retrocesso, se coloca na contramão da história.

O Estatuto é prejudicial no sentido de reforçar a imagem de inválido e coitadinho, levando a sociedade a continuar tratando a pessoa com deficiência como um ser desprovido de capacidade para cuidar de si.

Neste sentido, para a sociedade em geral o Estatuto da Pessoa com Deficiência se torna a comprovação desta suposta incapacidade e constitui uma espécie de oficialização da discriminação contra a pessoa com deficiência, ao separar esta pessoa das leis comuns.

Desde 1981, Ano Internacional das Pessoas Deficientes, começamos a exigir “participação plena e igualdade” de oportunidades dentro da sociedade e não fora dela.

De lá para cá muitas ações reforçaram esta exigência.

O movimento foi autor de alguns artigos da Constituição Federal de 1988 e conseguiu aprovar inúmeras leis até hoje.

A Convenção incorporada de fato à legislação brasileira, ela não apenas obrigará que as leis vigentes sejam revisadas e atualizadas, mas servirá de parâmetro para que as leis futuras venham a incluir a questão da deficiência entre seus artigos, diminuindo gradativamente a necessidade de leis específicas para as pessoas com deficiência, separadas das leis comuns.

A partir da Convenção todas as questões relativas às pessoas com deficiência deverão ser inseridas em leis comuns, que passarão a ser conhecidas como leis inclusivas, levando a sociedade a perceber que a pessoa com deficiência faz parte da população e é titular de todos os direitos humanos e liberdades fundamentais.

Deverá ficar claro que, nessas leis comuns, a pessoa com deficiência está incluída como titular de direito aos mesmos serviços oferecidos à população e que serão previstas especificidades de usufruto desses serviços somente quando às condições de uma determinada deficiência assim a exigirem.

Em tal contexto, não haverá lugar para um estatuto separado sobre as pessoas com deficiência.

Todas as eventuais vantagens de um estatuto da pessoa com deficiência não compensam a anulação do processo de amadurecimento, evolução e conquistas, desenvolvido pelo movimento das pessoas com deficiência nos últimos 30 anos, no Brasil e no mundo.

Os signatários

CLIQUE AQUI PARA ASSINAR.

***
Leia também:

Manifesto contra o Estatuto da Pessoa com Deficiência,
Estatuto do coitadinho,
Eles não sabem o que fazem,
Estamos sendo enganados,
Que mêda!,
Por quê sou contra um estatuto

Medalha Chico Mendes de Resistência


A Comissão de Direitos Humanos e Assistência Judiciária da OAB-RJ convida para a solenidade de entrega da 23ª. Medalha Chico Mendes de Resistência, outorgada pelo Grupo Tortura Nunca Mais, a ser realizada no próximo dia 1° de abril, a partir das 19h, no salão do 9° andar da OAB-RJ, Av.Marechal Camara, 150.

Entre os agraciados receberá a medalha o Jurista Professor THOMAZ MIGUEL PRESSBURGER (in memoriam).

Ver com os ouvidos e ouvir com os olhos

Blog da Audiodescrição, 19/03/2011:

Ver com os ouvidos e ouvir com os olhos

Transcrição do vídeo abaixo do plug-in.

Ative o vídeo no plug-in, ou assista clicando neste link acessível para usuários de leitores de telas.


Ver com os ouvidos. Você já imaginou esta sensação? Algo que parecia um sonho distante para os deficientes visuais agora é possível

Eles sentam e olham atentos para a tela, que vai projetar o filme. Os olhos nada veem, mas a mente sabe o que está acontecendo. Enquanto as imagens correm na tela, a imaginação viaja com a descrição.

Para os convidados do cinema de Blumenau (SC), são entregues vendas, para que as pessoas tenham a mesma impressão dos deficientes visuais.

O aposentado Klaus Scheltzke perdeu a visão com 18 anos, após uma atrofia ótica. Pela primeira vez, ele assiste a um filme com a audiodescrição: “Valeu a pena. O adiantamento da tecnologia é algo fantástico.”

A intenção do cinema em braille é ver com os ouvidos e ouvir com os olhos. A esposa de Klaus, que vê, achou a sensação interessante, mas não deixou a venda por muito tempo: “Apesar da venda para ficarmos só ouvindo, caí na tentação de olhar”, conta a dona de casa Ivanir Wartchow.

A Fundação Cultural tem mais de 30 títulos disponíveis. Eles fazem parte de um projeto da Petrobrás, que divulga o cinema nacional para cegos. A coordenadora do arquivo braille Eliane Luchini define a importância dos arquivos: “Hoje com a audiodescrição a pessoa tem essa descrição de cena. Mesmo que a pessoa cega vai ao cinema, a pessoa que acompanha da consegue dar toda a descrição.”

Para a elaboração dos filmes com audiodescrição, um estudo minucioso é realizado: “Eles seguem uma técnica, roteiro e todo um estudo em cima da imagem e do texto. É um roteiro a parte”, afirma o coordenador imprensa braille Giovani Machado.

A estudante Maria Estér Hornburg não vai largar tão cedo a novidade. Aos 18 anos, não conhece o que a cerca, mas a mente viaja por todo o mundo, provando que o impossível é só uma questão de opinião: “Muito bom porque vai narrando tudo que passa no filme. E as pessoas que veem entram no clima.”

Fonte: Jornal Regional - RBATV

21.3.11

Livros que eu li

Por Ivan Alves Filho *

“Ainda acabo fazendo livros onde as nossas crianças possam morar.”
(Monteiro Lobato)

Há um exercício extremamente salutar e que gosto de praticar de vez em quando. Trata-se de estabelecer, mentalmente, uma lista dos livros que mais me impressionaram na vida. Uma lista que sempre fica alojada na minha memória e que hoje, pela primeira vez, tento colocar no papel de forma organizada.

Certamente, haverá graves omissões, por conta de nossas próprias insuficiências. Há obras para lá de clássicas que ainda não li e, outras, que talvez não tenham tanta importância assim aos olhos de alguns. Paciência: toda escolha é, forçosamente, arbitrária. A rigor, se alguém se sentir estimulado a ler um livro que seja dos que serão arrolados abaixo, já daremos por cumprida nossa missão.

Inicialmente, é preciso saber por que alguns livros me impressionaram. Talvez isso tenha ocorrido pelo prazer estético. Ou talvez por esses livros apontarem novos caminhos. Provavelmente ainda por corresponderem a um momento bem determinado de minha vida. Certamente por esses motivos todos. Ademais, a leitura é feita para quem ama o silêncio e os momentos de solidão - algo raro no mundo contemporâneo e que gosto de valorizar. Como disse a escritora portuguesa Agustina Bessa-Luís, “a solidão é necessária ao convívio”. E quero fazer logo uma observação: os livros que aponto abaixo não são os melhores livros do mundo, obviamente. São tão somente os livros que mais gostei de ler e manusear na vida. São os livros que trago no coração.

Aprendi a ler em casa. Meu pai gostava muito de ler e possuía uma biblioteca razoável, que só melhorava com o tempo. Quando criança, eu lia gibis, naturalmente, e suplementos infantis dos jornais. E coleções, como O tesouro da juventude e Conhecer. Fui adquirindo assim o hábito da leitura. Hoje, confesso que releio mais do que leio.

Vou lembrando dos livros que li um pouco ao acaso, mas sinto necessidade ao mesmo tempo de colocar uma certa ordem nas minhas reminiscências. Assim, posso caminhar de forma mais segura, classificando as leituras por temas. E aproximando os temas uns dos outros.

Começando pelas minhas primeiras leituras. O primeiro livro que gostaria de lembrar é Caçadas de Pedrinho. Uma delícia esse livro. Para o menino da cidade grande que eu era, ele abria as portas - ou as porteiras… - do mundo. Quando eu partia de férias para a casa dos meus avós em Minas, eu me sentia o próprio herói-mirim de Monteiro Lobato: minha vida por um quintal! Eu era o dono daquela porçãozinha de terra com árvores frutíferas por todos os lados, um riozinho ao fundo e a Maria Fumaça sacolejando e apitando pelos trilhos da estradinha de ferro que passava atrás da casa. Além de avistar o trenzinho caipira, eu ainda percebia, da janela do quarto do meu avô, as palmeiras imperiais que enquadravam o quintal. Infelizmente eu não me chamava Pedro - mas o meu filho não escapou de ter este nome…

Outro clássico da literatura infanto-juvenil que me fascinou foi Robinson Crusoé, do inglês Daniel Defoe. Trata-se de uma história verídica, na origem. O naufrágio do marinheiro que passou anos isolado em uma ilha no Pacífico serviu de pretexto para o Autor - um antigo membro do serviço de espionagem de Sua Majestade - trabalhar magistralmente a oposição civilização versus natureza. Com uma narrativa deliciosa, o livro foi, muitas vezes, mutilado, em suas inúmeras versões. Poucos sabem, por exemplo, que há todo um trecho passado na Bahia, onde o nosso Robinson torna-se proprietário de engenho e de escravos. Nem só de ilhas paradisíacas vive a Humanidade. Moby Dick, do norte-americano Herman Melville, é mais um desses livros que povoaram a minha infância. As referências às minhas leituras de guri ficariam incompletas se eu não citasse Os meninos da Rua Paulo, do húngaro Ferenc Molnár, em tradução de Paulo Rónai. Um livro triste - mas de beleza ímpar. Dou a palavra ao próprio Rónai: “Os meninos da Rua Paulo é uma dessas leituras que nos acompanham pela vida afora, livro de aventuras que vale por um estudo de psicologia, livro de memórias em que não se percebe a presença do autor, livro de guerra que nos reconcilia com a humanidade”. E não só: Meu pé de laranja lima, de José Mauro de Vasconcelos, é um livro que me comove ainda hoje. Digo o mesmo de Rosinha, minha canoa, também dele. José Mauro e papai eram amigos e isso facilitava as coisas.

Outro livro delicioso, já por conta das minhas leituras de adolescência, foi A Moreninha. Eu o reli há alguns anos, por influência do saudoso Nelson Werneck Sodré, admirador da obra. Reli e continuei gostando, o que nem sempre é muito comum. De um romantismo arrebatador, escrito como um folhetim, era uma história com começo, meio e fim - e eu aprecio histórias assim, mesmo que não sejam forçosamente lineares. Mas histórias têm que fazer sentido. E fazer sentir também. Somente quando não há o que dizer ou narrar é que os livros ficam desprazerosos. Mas esse não é o caso de A Moreninha, livro que nos transporta para aqueles saraus do velho Rio de Janeiro - e eu penso que gostaria de ter vivido no tempo das modinhas. Outro livro arrebatador do romantismo brasileiro? Inocência, de Alfredo Taunay.

Essas notas ficariam incompletas se deixasse de citar outros romances, de uma fase mais madura minha. Vamos àqueles de Machado de Assis. Curiosamente, não tenho preferência por nenhum romance seu. Li-os todos, acredito, e gosto de todos, sem exceção. Mas… - vá entender por que motivo - devo confessar que sou particularmente atraído pela atmosfera de Helena. E acho imbatível o início de Memórias póstumas de Brás Cubas: “Algum tempo hesitei se devia abrir estas memórias pelo princípio ou pelo fim, isto é, se poria em primeiro lugar o meu nascimento ou a minha morte.” Não tenho como decidir…mas, lá no fundo, Brás Cubas…

Vidas secas é outro livro marcante. Pela economia de diálogos - pois o sertanejo é acima de tudo um taciturno, antes mesmo de ser um forte. E o velho Graça conhecia o homem do sertão melhor do que ninguém. Afinal, era um deles. Mas a grande cena do livro envolve um cão. Eu me pergunto quem mais, além de Graciliano Ramos, conseguiria ver o mundo sob a ótica de um animal. O Baleia, no caso, cuja morte é descrita de forma pungente. “Madame Bovary, c´est moi!”, exclamou Flaubert. E Baleia é o Graça, digo eu.

Jorge Amado merece um capítulo à parte. Talvez ninguém saiba contar uma história melhor do que ele. Balzac, talvez. Jubiabá é meu livro preferido de Jorge Amado. Mas tem também Tereza Batista Cansada da Guerra, o livro de memórias Navegação de cabotagem e a formidável trilogia Os subterrâneos da liberdade, que narra a luta dos comunistas contra a ditadura Vargas. Lá estão Armênio Guedes, Giocondo Dias, Apolônio de Carvalho, Carlos Marighella em comoventes retratos. Amado Jorge. Outro que possui o dom da narrativa: o paraense Dalcídio Jurandir. Dele li a bela obra Chove nos Campos de Cachoeira e deveria ter lido muito mais coisas. Eu li Chove nos Campos de Cachoeira ao mesmo tempo que me debrucei sobre Incidente em Antares, no começo dos anos 70 - a última uma dessas obras impressionantes de Érico Veríssimo, de quem já admirava não só a trilogia O tempo e o vento como As aventuras de Tibicuera, uma saborosa narrativa infanto-juvenil. O amanuense Belmiro, escrito como se fora uma memória e publicado nos anos 30, guarda ainda todo seu frescor: virou clássico. O coronel e o lobisomem, de José Candido Carvalho, é outro livro que muito aprecio. José Candido foi sem dúvida um extraordinário criador de tipos e trabalhava o humor como ninguém.

Dos romances estrangeiros - se é que algum romance é de fato estrangeiro a alguém - eu destacaria, lá atrás, Razão e sensibilidade, de Jane Austen. Livro saboroso, retratando a Inglaterra pastoril, de mocinhas suspirando por seu amor, em cenas de doce romantismo que se desenrolam na quietude do ambiente rural. O livro de Jane Austen representa um mergulho quase sem igual na alma humana (como mais tarde somente Dostoiévski saberia fazer). Jane Eyre, de Charlotte Brontë, é mais um belo livro sobre a Inglaterra romântica e um libelo pela emancipação da mulher. Outro retratista extraordinário de seu tempo foi Honoré de Balzac, o autor preferido de ninguém menos do que Karl Marx. Dotado de incrível capacidade de trabalho - dizem que labutava em média 15 horas por dia -, Balzac estabeleceu um painel impressionante da classe dominante francesa de seu tempo, tanto mais impressionante quanto ele não poupava críticas ao comportamento de uma classe que apoiava resolutamente. Mas a honestidade do artista, a sua genialidade mesmo, estava acima de suas preferências políticas. O homem era um; o artista outro. Do que li dele, o que mais gostei foi Lírio no vale, um caso de amor trágico. O que Karl Marx percebeu em Balzac, o nosso Astrojildo Pereira notou em Machado.

Há pelo menos nove ou dez outras obras, um pouco mais recentes, que me fascinaram. A primeira delas é Os irmãos Karamazov, do mestre F. Dostoiévski, cuja densidade aumenta à medida que relemos a obra. Outro livro que emociona - e muito - é A dama das camélias, o romance-verdade de Alexandre Dumas filho. Outro ainda é A cidade e as serras, hino ecológico de Eça de Queirós, sobre as agruras da civilização industrial. Toda a vida pela frente, de Emile Ajar, pseudônimo de Roman Gary, de um humor refinadíssimo e uma ternura sem limites, é uma das leituras mais agradáveis que fiz na vida. O país das neves, de Yasunari Kawabata, toca pela fragilidade do ser humano diante da vida, tema recorrente da obra desse magnífico autor japonês. Drácula, do irlandês Bram Stocker, não poderia, até pelo pioneirismo, deixar de figurar em qualquer lista. Do colombiano Gabriel Garcia Marquez li Cem anos de solidão, que me reteve do começo ao fim da história. Pedro Páramo, de Juan Rulfo é uma pequena obra-prima. O mesmo talvez possa ser dito sobre O hussardo no telhado, de Jean Giono. E o último que gostaria de citar é o épico Dr. Jivago, de Boris Pasternak, uma das obras-primas do século XX e que versa sobre as vicissitudes da Revolução Russa. Aqui, o romance como que se encontra com suas origens, resvalando para a epopéia.

Eu havia me referido acima às omissões. Confesso que entre as obras de ficção elas são muitas e variadas. Da Divina Comédia, por exemplo, de Dante Alighieri, só conheço algumas partes. E a obra-prima de Cervantes, Don Quixote de la Mancha, só li em versão reduzida, há muitos anos. Comprei a edição completa e pretendo lê-la em breve. Outra lacuna? O vermelho e o negro, de Sthendal. Mais uma? A origem das espécies, de Darwin, obra da qual conheço apenas alguns trechos. Porém um dia eu ainda pago essas dívidas.

Bem, as novelas. As russas me encantam. Acho a Rússia o país mais fascinante do mundo e isso talvez se deva ao fato de se encontrar na fronteira do Ocidente com o Oriente. De todos aqueles gênios da literatura russa - Gogol, Dostoiévski, Tchécov, Turgueniev - o que mais me impressionou foi A. Pushkin e sua formidável descrição do modo de vida dos camponeses de seu país. A rudeza dos seus escritos guarda um amor quase inigualável pelo povo - mesmo se comparado a Máximo Górki e outros autores engajados. Para mim, seu mais belo livro é A dama de espadas.

“Ao despertar após uma noite de sonhos agitados, Gregor Samsa encontrou-se em sua cama transformado num inseto gigantesco.” Esse o começo de Metamorfose, de Franz Kafka. Não existe metáfora maior do homem moderno do que essa, provavelmente. E início mais impactante de novela do que esse, que causasse tanta estranheza ao leitor. Franz Kafka não era russo - era checo. Isto é, gravitava de qualquer forma em torno da cultura eslava. Percebia a gestação da alienação do homem moderno como ninguém. As instituições burocráticas substituindo as relações sociais. Não saberia dizer se Kafka era pessimista, pois um Autor não tem que apontar diretrizes, acho eu.

Outra novela que leio com prazer sempre é O velho e o mar, de Hemingway. Trata-se de um hino de louvor à tenacidade humana. O final do livro é apoteótico. É o chamado pequeno grande livro. Sempre volto a ele. Do norueguês Tajei Versaas, eu li, com prazer e alguma inquietação, é verdade, as novelas Os pássaros e O palácio de gelo (acredito que não tenham sido traduzidas para o português). Outra novela que reputo formidável? O chamado selvagem, de Jack London - verdadeiro triunfo das leis da natureza. E de início fascinante também. Mais uma novela? O estrangeiro, do franco-argelino Albert Camus. A derrradeira? Uma vida em segredo, de Autran Dourado, obra-prima em matéria de sensibilidade e que foi levado às telas do cinema com extraordinária maestria por Suzana Amaral.

Ainda no âmbito da literatura de ficção, eu não poderia deixar de lado os contos. Eles possuem as mesmas características do romance, mas são bem mais concisos, senão precisos e surpreendentes. Os contos mais extraordinários que li são aqueles de Giovanni Boccaccio, reunidos no belíssimo Decamerão. Depois, os que mais gosto são os escritos por Guy de Maupassant, o mestre incontestável do gênero na modernidade. Alia crítica de corte social e profundidade psicológica na análise das personagens. O seu Bola de sebo é um dos maiores livros que li. Maupassant fez escola e Somerset Maugham pode ser considerado um filho literário seu. Histórias extraordinárias, do norte-americano Edgar Allan Poe é outro livro quase que de cabeceira meu. Digo o mesmo de Contos da montanha, do português Miguel Torga. Guimarães Rosa, com Sagarana, realiza a proeza de unir o universal e o regional. Seu magistral A hora e vez de Augusto Matraga é uma aula de conto. Dele também li com prazer Famigerado e A terceira margem do rio. Entre os contistas nacionais, destacaria ainda quatro grandes, pelo menos: Lima Barreto (O homem que falava javanês é simplesmente primoroso), Hugo de Carvalho Ramos (prematuramente desaparecido), Samuel Rawet e Breno Accioly.

Os poetas não ficam atrás dos grandes pensadores, demonstrando, muitas vezes, que a sensibilidade rivaliza com o conhecimento e pode até se antecipar a ele. Nomes? Horácio, Virgílio… As Bucólicas (e também as Geórgicas) cantam a vida campestre como nenhum outro poeta cantou depois de Virgílio, esse filho de lavradores. São os poemas que mais me agradam, até hoje. Sem prejuízo do prazer que provocam em mim a leitura dos sonetos de Camões ou Marília de Dirceu, de Tomás Antônio Gonzaga, ou ainda Castro Alves e Álvares de Azevedo e os poetas mais modernos, de versos livres, como Fernando Pessoa, Pablo Neruda, Bertolt Brecht, Nazim Hikmet, Garcia Lorca, Maiacóvski, Carlos Drummond de Andrade, Florbela Espanca, Ferreira Gullar ou Louis Aragon. Poema sujo, do Gullar, é fora de série: “O homem está na cidade / como uma coisa está em outra / e a cidade está no homem / que está em outra cidade…” Entre os antigos, além dos já citados, Li T´ai Po, Ovídio e Omar Kahyyam são os que mais me dão prazer. Isso, para não aludir à produção de prosadores poéticos de primeiríssima linha, como Rabindranath Tagore e Khalil Gibran. E eu não poderia fechar esse parágrafo sobre os livros de poesia sem mencionar Manoel Bandeira e Manoel de Barros, os dois fantásticos manoéis da nossa literatura. Gosto especialmente de Ritmo dissoluto, de Bandeira, pois foi nesse livro que ele publicou Vou embora para Pasárgada. Do segundo Manoel, aprecio particularmente O livro das ignorãças. Imensos, os dois.

Não leio teatro. Penso que o texto teatral é para ser encenado e não lido. Provavelmente me equivoco. Mas… William Shakespeare acaba com as nossas eventuais resistências. Seus livros são portadores dos diálogos mais bonitos que alguém jamais escreveu! Quem duvidar que leia Hamlet, por exemplo, esta bela defesa da necessidade de se colocar ordem em nossas vidas.

Aprecio muito a leitura de livros sobre gêneros literários. Cartas a um jovem poeta, de Rainer Maria Rilke, descortinou para mim o horizonte da poesia, quando tinha 16 anos. Demonstrou Rilke que poeta é aquele que retira inspiração do cotidiano e, acima de tudo, alguém que morreria se não escrevesse poesia. A cidade e o campo, do inglês Raymond Williams, é outro estudo primoroso, centrado sobre o impacto da transição da vida rural para a urbana na literatura moderna. Aprecio ainda os ensaios sobre poesia e literatura em geral de Jorge Luis Borges, Italo Calvino, Mario Vargas Llosa, Otto Maria Carpeaux, Alain e Octavio Paz. Eu não saberia classificar o Mitológicas, de Roland Barthes. Livro de crítica? Só posso dizer que raramente um livro me deu tanto prazer ao lê-lo. Mitológicas, na verdade, põe em discussão todos os ícones culturais da modernidade.

Romance, conto ou novela - o importante é que a literatura transborde de humanismo e seja prazerosa.

Encanta-me também um gênero brasileiríssimo (se fosse fruta seria, logicamente, jabuticaba…): estou me referindo à crônica. Ai de ti, Copacabana, do carioca honorário Rubem Braga é a bíblia do gênero. O próprio Braga é um ícone do gênero. O charme da crônica, a meu juízo, é que cabe tudo nela - da reflexão de caráter filosófico aos pequenos fatos do cotidiano das gentes -, sempre sob uma ótica intimista. Outros mestres da crônica, a meu juízo? Raquel de Queirós, Paulo Mendes Campos, Vinícius de Moraes, Stanislaw Ponte Preta, João Saldanha, Elsie Lessa, José Carlos de Oliveira, Lygia Fagundes Telles, Cecília Meireles, Antônio Maria, Artur da Távola, Affonso Romano de Sant´Anna, Marina Colassanti, Nelson Rodrigues, José Lins do Rego, Mário Prata, Caio Fernando de Abreu, Teixeira Heizer e Domingos Pellegrini. E peço perdão antecipado por alguma omissão.

Instrumentos dos mais eficientes de iniciação à leitura são aqueles livros sobre o prazer de ler. São obras estimulantes. Conheço algumas: Noções de história da literatura, de Manuel Bandeira; Por que ler os clássicos, de Italo Calvino; Os livros nossos amigos, de Eduardo Freiro; O que se deve ler para conhecer o Brasil? e O ofício de escritor, ambos de Nelson Werneck Sodré, A vida literária no Brasil - 1900, de Brito Broca e A biblioteca e seus habitantes, de Américo de Oliveira Costa.

Revistas e suplementos literários de jornais também têm a função de divulgar o que a literatura possui de mais atraente. Muitas publicações contribuíram para o meu prazer de ler e a minha própria - ainda que limitada - formação cultural. A lista é longa e espero não estar omitindo publicações importantes. Lá vai: Revista Civilização Brasileira (em suas duas fases), Suplemento Literário (o estupendo SL, de Minas Gerais), Humboldt (do Instituto Goethe, da Alemanha), La Pensée (editada em Paris), Babelia (suplemento do El País, da Espanha, acessível pela internet), revista Módulo (peguei a segunda fase), La Nouvelle Critique (da França), Le Magazine Littéraire (da França), Anthropologie et Sociétés (editada no Canadá), Estudos Avançados (da USP), Correio da Unesco, Estudos Históricos, L´Homme (editada na França), Le Monde des Livres (suplemento do diário Le Monde), Prosa e Verso (suplemento de O Globo), Mais! (suplemento do jornal A Folha de São Paulo), Política Democrática (da Fundação Astrojildo Pereira, na linha da antiga Estudos Sociais), Revista Vozes, Ideias (do Jornal do Brasil), Pensar (do Estado de Minas) e La Recherche (do Conselho de Pesquisa da França).

Não sei como classificar isso entre os gêneros literários, mas os bilhetes que Robert Escarpit escrevia diariamente no jornal francês Le Monde - os quais não ultrapassavam oito ou dez linhas - eram um verdadeiro deleite. Deixaram saudade. As máximas e aforismas também me encantam e muito. Numerosos filósofos da Antigüidade - como Marco Aurélio - recorreram a essa forma de expressão, que quase sempre revela um sistema aberto de pensamento. Mais perto do nosso tempo, homens como Friedrich Nietzsche também se valeram do aforisma para expor suas reflexões e inquietações. O livro de máximas que li com maior prazer se intitula Reflexões, do moralista francês La Rochefoucauld. Há uma máxima dele que considero imbatível: “As disputas não durariam tanto se o erro estivesse somente de um dos lados”. Máximas e pensamentos, de Sebastien-Roch Chamfort vem logo abaixo de Reflexões - se é que podemos falar em linha sucessória nessa matéria. Outro grande autor de máximas foi o nosso Apparício Torelly, o Barão de Itararé. Sobre ele, escreveu ninguém menos do que Pablo Neruda: “Al Barón de Itararé / un grande entre los grandes, / con respeto le saluda de pie / el poeta de los Andes: / Neruda.

Há uma obra que representou um divisor de águas na minha vida e, creio, na vida de muitas outras pessoas: trata-se do Manifesto do Partido Comunista, dos alemães Karl Marx e Friedrich Engels. Que universo esse livro descortinou na minha existência! Que lição de História e que sopro humanista! Desde então, o fantasma do capitalismo não deixaria mais de rondar o meu mundo. E eu não poderia deixar de mencionar, já que estamos no terreno do marxismo, um livro… muito criticado por Marx: O direito à preguiça, de seu genro Paul Lafargue. Para Marx, Lafargue era um pouco ingênuo em suas observações sobre o fim do trabalho. Mas trata-se sem dúvida de um panfleto formidável contra o trabalho embrutecedor. Médico, jornalista, Lafargue trazia o internacionalismo no sangue: nascido em Cuba, em sua família havia índios, negros, judeus, franceses. Não foi por acaso que Paul Lafargue se tornou um dos cérebros da I Internacional dos Trabalhadores.

Há um livro, ainda na área que poderíamos denominar de política ou de estudos sociais, que provocou grande impacto em mim, como se estivesse lendo um Friedrich Engels atualizado. Refiro-me ao ensaio Os danados da terra, do psiquiatra antilhano Franz Fanon, uma análise das mais aprofundadas sobre o fenômeno colonial e suas conseqüências para o desenvolvimento mental dos colonizados. O prefácio desse livro é de ninguém menos do que Jean-Paul Sartre. Franz Fanon morreu aos 36 anos de idade, deixando o nosso pensamento certamente mais pobre. O ensaísmo político e social me fez entrar em contato com autores como Jose Carlos Mariátegui, Astrojildo Pereira, Caio Prado Júnior, Gilberto Freyre, Amilcar Cabral, Adam Schaff, Ernest Bloch, Darcy Ribeiro, Milton Santos, Thomas Morus, Antonio Gramsci, György Lukács, Walter Benjamin, Roger Garaudy, Edgar Morin, Norberto Bobbio, Vladimir Lênin e alguns outros, enriquecendo sem dúvida minha concepção de mundo.

Outro texto - e não sei dizer se poderia ser considerado um livro à parte; com a palavra os doutos estudiosos da Bíblia Sagrada - que muito me marcaria seria o Sermão da Montanha. Não há nada mais singelo do que esse texto, tanto no fundo quanto na forma. Um manual de conduta a ser seguido pelos homens de boa vontade. Se há um discurso inspirado por Deus, esse discurso é seguramente o Sermão da Montanha. O que chega mais próximo dele é a Oração de São Francisco de Assis e um ou outro escrito dos chamados Padres do Deserto, todos embriagados de Deus.

O Bem é inseparável do Belo, nos ensinou a Igreja Católica, a primeira instituição universal de cultura que o mundo conheceu. Logo, não posso deixar de lado o domínio da Arte. Muitos livros sobre a prática artística me marcaram ao longo das minhas leituras. Mas nenhum como A necessidade da arte, do austríaco Ernest Fischer. Com sensibilidade extraordinária, o Autor sobrevoa a história da arte, estabelecendo como cada um de nós precisa da imaginação e da beleza para alcançar uma existência mais rica. Para quem quer se iniciar nos estudos das artes plásticas e da poesia, não recomendaria obra melhor. Eu o li três vezes. E pretendo ler outras vezes mais, pois sempre descubro algo novo. Eu diria até que se há um livro que merece ser considerado um trabalho verdadeiramente humanista este livro é A necessidade da Arte. Ernest Fischer escreve de forma extremamente prazerosa - e o prazer conta tanto na escrita! Mas não posso omitir a História social da Arte e da Literatura, de Arnold Hauser, pela riqueza das análises e informações. E tampouco posso deixar de lado O significado da Arte, do inglês Herbert Read, outro livro formidável.

Há livros que decidem um destino. O Quilombo dos Palmares, do antropólogo Edison Carneiro, praticamente selou o meu. Explico. Fiquei tão fascinado pela epopéia dos escravos rebelados na Serra da Barriga, em Alagoas atual, que resolvi estudar a sua história. Essa vontade se reafirmou quando eu me achava no exterior - e o encontro com o quilombo representava um resgate da história do país longínquo. Posso dizer que, desde 1974, pelo menos, nunca mais abandonei os estudos sobre Palmares, produzindo desde então pesquisas, dissertações, livros e artigos sobre o assunto. Outros três livros pelo menos que influenciaram decisivamente nessa minha paixão pelos estudos históricos: A República comunista-cristã dos guaranis, do jesuíta Claude Lugon, bela pesquisa sobre a saga dos índios na América do Sul; Capítulos de história colonial, de Capistrano de Abreu, um maravilhoso autodidata, e História da riqueza do homem, de Leo Huberman, um relato extremamente bem escrito da luta dos trabalhadores através dos tempos. “Desessete anos antes do do fim do século XIX, Karl Marx morria. Desessete anos após o início do século XX, Karl Marx tornava a viver”. E eu não poderia deixar de citar ainda a obra magistral de Jacques Le Goff, A civilização do Ocidente Medieval. Ainda nessa linha da história medieval européia, vale citar a portentosa obra de Georges Duby, sobretudo As três ordens ou o imaginário no feudalismo, livro que faz com que qualquer pessoa se apaixone pela História. Outro livro de História - na realidade, a meio caminho da História com H maiúsculo e da história pessoal, ainda que com P maiúsculo… - é o denso Tempos interessantes – Uma vida no século XX, de Eric Hobsbawn, provavelmente o mais influente historiador do século passado. O homem e o mundo natural, do inglês Keith Thomas, é também um dos melhores livros de História que conheço.

Prosseguindo. Se a antropologia se apresenta, hoje, como um campo fascinante da reflexão humana isso se deve em boa medida a um centenário senhor chamado Claude Lévi-Strauss. E em particular ao seu Tristes trópicos, um dos primeiros livros a reconhecer o direito à História aos índios das Américas e aos demais povos que desconheciam o Estado e a divisão da sociedade em classes. Mais: Lévi-Strauss deu aos mitos indígenas uma dignidade de tratamento desconhecida até então. O antropólogo trabalhava conscientemente para que a cultura dos índios das Américas venha a nos guiar um dia, quem sabe. Outros antropólogos franceses cujas obras muito admiro são Maurice Godelier e Pierre Clastres. O primeiro perscrutou o espaço da economia nas sociedades ditas primitivas, o outro se esforçou - com sucesso, na visão de alguns - para provar que essas sociedades queriam evitar a qualquer preço a formação do Estado, do Um.

A Antigüidade Clássica revelou pensadores extraordinários, nunca é demais lembrar. Os pré-socráticos, Aristóteles (que conheço menos do que deveria), Platão (este, o primeiro a dizer que a sociedade era passível de conhecimento, inaugurando assim as ciências sociais) e, sobretudo, Epicuro, pelo seu apego à liberdade e ao prazer. Carta sobre a felicidade (a Meneceu) é um dos meus livros preferidos. Com o filósofo Epicuro aprendi algo fundamental: a importância da serenidade - ainda que eu mesmo tenha grande dificuldade em praticá-la. E, acima de tudo, Epicuro nos ensina a vontade de exercer controle sobre nossa própria existência. Outros autores - e penso em Montaigne dos Ensaios, escrito na linha da valorização ou aproximação da filosofia com os problemas do cotidiano e da subjetividade - enveredaram pela mesma seara. Sêneca foi um deles também. Marco Aurélio outro. Cícero, de certa forma também. Mas Epicuro segue sendo para mim inigualável, único.

A psicanálise me reservou leituras profícuas. A começar pelo Mal estar na civilização, livro no qual Sigmund Freud expõe o quanto o processo civilizatório depende da repressão aos instintos agressivos presentes no homem. Mais do que um livro, Mal estar na civilização é um código de conduta, como os Dez mandamentos, por exemplo. Outro trabalho que me encantou foi o relato Memórias, sonhos, reflexões, do psicanalista suíço Carl Jung, cujo pai achava que ele não seria nada na vida. Se o genitor era ruim de diagnóstico, o mesmo não poderia ser dito a propósito do filho, discípulo - depois dissidente - de Sigmund Freud. Ainda na linha dos livros de ou sobre a psicanálise, não poderia deixar de lado o fundamental A arte de amar, de Erich Fromm. O Autor repõe, com muita propriedade, o amor no centro de nossas vidas, seja ele de caráter materno, paterno, fraternal ou aquele de um homem por uma mulher. Nem que seja por esse motivo o livro é insubstituível. De Erich Fromm - um filósofo da cultura, sou tentado a considerar que sim - admiro também, entre outras obras, Meu encontro com Marx e Freud e Do amor à vida, esta uma série de conversações radiofônicas, organizada por Hans Schultz.

O tempo das lembranças e da valorização do Eu. Assim vejo os relatos de corte memorialístico. O mais incrível que conheço são as Memórias de Pedro Nava. Li somente os três primeiros volumes. São seis, ao todo. Emocionante, lascivo, contundente, estonteante, lírico, despedaçado, abusado, cruel por vezes, Pedro Nava é o maior escritor barroco que conheço. Um livro seu tem ao mesmo tempo a leveza de um poema de Bandeira, a profundidade das reminiscências de Proust, a beleza do corpo de mulher amada e a transparência de uma mina d´água. Um livro seu é simplesmente puro esplendor. Confesso que vivi, de Pablo Neruda emociona pelas circunstâncias em que o livro nasceu: foi ditado pelo poeta poucos dias antes de sua morte, acelerada pelo golpe militar de Augusto Pinochet. As curvas do tempo, de Oscar Niemeyer, é outro livro de memórias impecável, pela riqueza da trajetória centenária do arquiteto e a qualidade de suas amizades. Um diário estupendo é O ofício de viver, de Cesare Pavese, um homem angustiado e de trajetória político-cultural extremamente rica. Confissões, de W. Somerset Maugham, também é uma obra deliciosa de se ler, lírica e bem humorada. Na mira de uma esquerda ambidestra (depoimento e ensaios), de Ailton Benedito de Souza, é obra rica do nosso recente memorialismo político. Antes do fim, as memórias do grande escritor e humanista argentino Ernesto Sabato, é outro livro que muito me enterneceu, como quase tudo que li desse extraordinário autor. Publicado em 2008, o livro de memórias de Joel Rufino dos Santos, Assim foi (se me parece), é um primor no gênero. Reconheço que em matéria de literatura do Eu, tudo começou com Agostinho de Hipona, com suas Confissões, um relato que impressiona pela sinceridade: “Deus, dai-me castidade, mas não já!”

Na mesma linha poderemos inscrever o gênero epistolar. Quem não se deixa fascinar, por exemplo, pelas cartas de Voltaire, autor presumível de dezenas de milhares delas? E o que dizer de Cartas a Lucílio, de Sêneca, um verdadeiro prazer filosófico? E, acima de tudo, como não recordar as saborosíssimas Cartas escolhidas, de Madame Sévigné, endereçadas quase sempre à filha distante, mas que se transformaram em referência literária para todos nós e em painel social de toda uma época também? Sem esquecer jamais que as cartas são um dos gêneros literários da Bíblia. Abençoadas, portanto. Aquelas escritas por São Paulo estão entre as mais belas que alguém possa ter lido ao longo da vida. E o que falar ainda das cartas de amor? As de Kafka a Milena, por exemplo? Eu me lembro de um livro - cito de memória e ela pode estar me traindo - que li há muitos anos, o qual reunia as missivas dos grandes músicos e poetas. Creio que se intitulava Minha amada imortal, inspirada em famosa carta de Ludwig van Beethoven ao seu amor incógnito.

O homem certo no lugar certo - a fórmula entrou para a história da literatura. É a força do relato, a qual está presente em Os sertões, de Euclides da Cunha, e também em Os dez dias que abalaram o mundo, do norte-americano John Reed. Sem esquecer o formidável Dersu Uzala, do militar russo Vladimir Arseniev, uma espécie de Rondon eslavo.

Livros de viagem têm uma característica interessante. Ou seja, podem nos transportar a todos os lugares do mundo sem que precisemos sair do nosso quarto. Muitos já salientaram isso. Apesar de existirem relatos desde tempos quase imemoriais - basta dar o exemplo de Heródoto -, é possível que o poder de atração deste que é hoje um gênero literário tenha crescido ainda mais após a descoberta do Novo Mundo e, sobretudo, com a Revolução Industrial e a chamada globalização. Vale dizer, mais a globalização uniformizava o mundo, moldando-o à imagem e semelhança da velha Europa, mais ela provocava, paradoxalmente, o desejo do diferente. A literatura de viagem configura, no fundo, uma evasão do mundo pasteurizado, do modo de vida único. Pode ser um documento histórico ou científico; um relato de aventura ou um diário pessoal - mas é sempre uma descrição singular, intransferível, subjetiva quase ao extremo. Há livros absolutamente extraordinários, os quais revelam, muitas vezes, que a grande viagem é aquela que o autor faz em torno de si mesmo - através dos outros. O primeiro livro que destacaria - e que possui, justamente, um tom irresistivelmente intimista - é Caminhada, de Herman Hesse. Trata-se de uma travessia de uma parte dos Alpes, mais exatamente dos Alpes alemães por parte do Autor. É um livro de reflexão filosófica sobre a solidão e também a imensidão da natureza. O desejo de locomoção e a vida sedentária dos campônios alpinos. É maravilhosamente ilustrado, pelo próprio Hesse. De certa forma, segue no rastro do célebre Devaneios de um caminhante solitário, de Jean-Jacques Rousseau, outra obra-prima do gênero. Um dos inspiradores da Revolução Francesa - que iria colocar forças incontroláveis em movimento pelo mundo afora - Rousseau era, paradoxalmente, um homem só. “O homem nasce livre, porém em todos lados está acorrentado” – o filósofo pregava uma espécie de retorno ao estado natural - daí talvez a sua modernidade. Henry David Thoreau, que passaria dois anos de sua vida sozinho no lago Walden, era um partidário dessas idéias. Seu livro Walden, datado de 1854, descreve seu isolamento, justamente - e sua busca pela autossuficiência - em uma floresta norte-americana, tornando-se por assim dizer a bíblia da geração beatnik um século depois. Era uma figura mística, solteirão convicto, cultíssimo. “Eu fui à Floresta porque queria viver livre. Eu queria viver profundamente, e sugar a própria essência da vida… expurgar tudo o que não fosse vida; e não, ao morrer, descobrir que não havia vivido” - puro Rousseau, como se vê. Lugares exóticos sempre atraíram os viajantes. Penso em Viagens, de Marco Polo - clássico dos clássicos -, e também em Viagem pela África, de Paul Theroux, além do ótimo Nos Mares do Sul, de Robert Louis Stevenson. E penso igualmente em Viagem ao Tibet, da orientalista francesa Alexandra David Neel (não tenho certeza se existe tradução desse livro em língua portuguesa) e em Viagem a Portugal, José Saramago. Há muitos e muitos outros relatos fascinantes, como o estupendo Patagônia, de Bruce Chatwin, autor precocemente desaparecido e o não menos estupendo Sob o sol da Toscana, de Frances Mayes, um livro de cultura, assim como Os vienenses, de Paul Hofmann. A fazenda africana, de Isac Dinesen, pseudônimo de Karen Blixen, é outra obra que me fascina, a meio caminho entre a memorialística, o relato de viagem e a ficção. A outra Europa, do alemão Hans Enzensberger, Um ano na Provence, do inglês Peter Mayle e Mil dias na Toscana, de Marlena de Blasi são três outros livros que podemos ler com imenso proveito e prazer. De Sérgio Paulo Rouanet aprecio o ensaio A razão nômade, que busca contextualizar os livros de viagem, com uma elegância intelectual rara. E eu nem quero citar A carta de Pero Vaz de Caminha… Em matéria de livros de viagens, teve até um relato sobre o México - quase um guia turístico, pela precisão -, elaborado pelo português José Agostinho Baptista, que simplesmente nunca estivera por lá, na terra de Emiliano Zapata e David Alfaro Siqueiros. Trata-se de uma viagem imaginária.

No fundo, talvez todas as viagens o sejam.

* Historiador

18.3.11

Dia Internacional da Síndrome de Down

21/3 – Dia Internacional da Síndrome de Down 2011
Inclusão Acontecendo – Amplie este Exemplo

O Brasil comemora o Dia Internacional da Síndrome de Down no próximo 21/3 com extensa programação. Usando o tema “Inclusão Acontecendo – Amplie este Exemplo”, é a sexta vez que a data, criada para celebrar a vida das pessoas com síndrome de Down e chamar atenção da sociedade para a importância da inclusão total, é celebrada no país.

Por quê 21/3?

O Dia Internacional da Síndrome de Down foi instituído pela Down Syndrome International como o dia 21 de Março, com o objetivo de contribuir para conscientização da população e para formar cidadãos com síndrome de Down auto-determinados, produtivos, incluídos na sociedade, com melhor qualidade de vida.

A data foi escolhida porque se escreve 21/3 (ou 3/21), o que faz alusão aos 3 cromossomos número 21n que as pessoas com síndrome de Down carregam. A ideia do dia partiu do geneticista Stylianos E. Antonarakis, da Universidade de Genebra, e foi defendida em 2005 no Congresso Internacional de Síndrome de Down em Mallorca, na Espanha. A primeira comemoração da data foi em 2006.

No Brasil, o Dia Internacional da Síndrome de Down é celebrado desde 2006. Em 2007, houve muita repercussão na mídia pela participação do jogador de futebol Romário, que tem uma filha com síndrome de Down, Ivy, e pela novela Páginas da Vida, que contava a história de uma menina com síndrome de Down, a Clara, vivida pela atriz Joana Mocarzel.

CaminhaDown domingo na praia do Leblon – Rio/RJ

A Caminhadown, organizada pelo grupo RJDown, reúne várias gerações de pessoas com Down, assim como pais, amigos, parentes e profissionais que convivem com esta turma que só faz aumentar sua participação na sociedade: são estudantes, artistas, atletas, trabalhadores…

Inclua-se nessa!

Caminhadown do RJDown:
Ponto de encontro: Jardim de Alah
Horário: 15 horas
Dia: 20 de março, domingo.

Fonte: Inclusive

17.3.11

Vera Roitman no Verão da Cultura

Vera Roitman participará da exposição Arte Agora, do projeto Verão da Cultura

O evento, nos dias 19 e 20 de março, é uma realização da Secretaria de Cultura do Estado do Rio de Janeiro e, além de seminários, performances e palestras, apresentará exposições em que Vera Roitman participa com uma colagem de suas últimas pinturas em um painel de 2,70m x 1,00m. A curadoria das exposições é de Marco Antonio Teobaldo, que já incluiu um desenho de Vera numa outra exposição (Street Art), no Centro Cultural da Justiça Federal, ano passado.

O Verão da Cultura tem curadoria de Heloisa Buarque de Holanda. Clique aqui para mais informações.

Durante os dois dias de evento, o público está convidado a levar doações de livros infantis e brinquedos para as crianças vítimas da tragédia na Região Serrana. O Instituto Ler e Abraçar organizará a coleta.

11.3.11

Reencontro

Blog Pra lá de Balzac, 11/03/2011:

Reencontro

RENÉE DURÃO

Entrei e procurei aquela mesa no fundo do restaurante, um lugar um pouco mais reservado, mas de onde eu poderia ver a porta de entrada. Percebi que as pessoas me viram entrar e comentavam. Estou acostumada com o sucesso, digamos assim. O garçom demorou bastante a se apresentar. Quando veio, não conseguia me encarar. Desviava o olhar para minhas unhas de cor púrpura, meus cabelos descoloridos e meu decote bem ventilado. E começou a paranóia.

Será que exagerei, caprichando demais para aquele tão esperado reencontro? Até tentei o comedimento, mas não escapo de ser eu mesma. Gloriosa! Será que ele iria gostar? Iria, desta vez, me perdoar? Superaria o que passamos? O coração tão forte me atordoava.

Duas mesas adiante, um homem me encarava à frente de sua mulher gorda e filha pequena. Fingi que não via, mas quando lancei meu infalível olhar de ave de rapina ele sorriu e piscou. Adoro o jogo de sedução, do mistério e atração da conquista, porém detesto os canalhas. Ele se levantou para ir ao toalete e, na passagem, deixou um pedacinho do guardanapo de papel com um telefone. Vigiei e, na volta, coloquei sorrateiramente no caminho minha perna caprichadamente bem depilada para a ocasião e o canalha levou um tombo feio. A mulher veio em socorro e a filha começou a chorar, enquanto eu sacava o espelhinho e reforçava o batom. Vitória! Mas a nóia voltou.

Uma bebidinha e relaxar? Aice ti de pêssego, amém. Um petisco que deixa a espera mais macia. As opções: frango à passarinho. Huuum, não sei. Filé à peritivo!!?? “Garçon! Batata frita!” O enrustidinho acenou um OK lá de longe.

E o coração na boca. Jorge dissera que o avião sairia de Congonhas às cinco e que estaria aqui por volta das sete. Pontual, educadíssimo, recatado e tímido. Entendo. Eu o amo.

As batatas chegaram quando a porta se abriu e ele entrou. O tremor das mãos e nas pernas, o frio na barriga e flashes do passado: a revelação, negação, preconceito, conflito e separação. Vidas em cidades diferentes.

De terno escuro, cabelos bem penteados, alto, porte atlético, olhos negros e firmes e mão forte que portava uma rosa. Como eu, chamou a atenção dos comensais. Eu não sabia se me levantava, se gritava ou mesmo se desmaiava. Jorge, por sorte, me achou logo. E veio.

Sentou-se, olhou à sua volta, pigarreou, demorou, mas me encarou com doçura. Apresentou a rosa quando as lágrimas já borravam toda minha maquiagem. Molhavam meus lábios que nada conseguiam articular quando ele disse baixinho. “Oi pai.”

10.3.11

BlindTube

Blog da Audiodescrição, 09/03/2011:

BlindTube oferece entretenimento acessível a pessoas com deficiência

Está no ar, desde 20 de outubro de 2008, o BlindTube, site de entretenimento com acessibilidade que oferece, entre outras opções, exibição de filmes a pessoas com deficiência, seja ela visual, auditiva ou motora.

Todo mundo gosta de cinema… No entanto, para muitas pessoas, certos detalhes, no momento da exibição, fazem toda a diferença para curtir o filme plenamente.

Além de colunas, entrevistas etc, o BlindTube oferece às pessoas com deficiência a experiência do cinema. Deficientes visuais têm à sua disposição o recurso da audiodescrição. Na audiodescrição, ouvimos, nos intervalos dos diálogos, tudo aquilo que não dá para perceber somente através da audição: as cenas sem diálogo, as reações silenciosas, os cenários, os figurinos, as paisagens, os tipos físicos etc. Tudo é descrito com uma técnica específica, dentro de padrões e critérios internacionais.

Pessoas com deficiência auditiva dispõem da legendagem caption, na qual símbolos indicam tudo o que está acontecendo no som do filme. Os ruídos, a música, quem está falando.

Pessoas com deficiência motora podem navegar utilizando apenas o teclado, sem precisar do mouse.

Quem preferir, pode assistir ao filme sem utilizar nenhum desses recursos. O BlindTube oferece filmes de curta metragem de todos os gêneros, estilos e temáticas. O objetivo dos organizadores é levar diversão, cultura e arte com acessibilidade a todas as pessoas.

Fonte: Núcleo de Design Gráfico Ambiental - Departamento de Design e Expressão Gráfica – UFRGS

8.3.11

Onde está o Damasio?

Diário de S. Paulo, BOM DIA, 04/03/2011:
Onde está o Damasio?
Sem achar delegado que bateu em cadeirante, Justiça ameaça mandá-lo para trás das grades: isso, se achar ele
João Paulo Sardinha / São José
O Damasio mora aqui, senhor? Não mora? Obrigada. Ultimamente, o desafio da oficial de Justiça Andréa Márcia Lopes é encontrar o delegado Damasio Marino, acusado de agredir o cadeirante Anatole Morandini, de 35 anos, no dia 17 de janeiro deste ano. A oficial tenta a todo custo notificar o delegado para que ele apresente a sua defesa sobre o caso. Mas e cadê o delegado Damasio, minha gente?
Para a Justiça, ele sumiu do mapa. Andréa esteve no 6º DP (Distrito Policial), na Corregedoria, no 7º DP, no antigo endereço de Damásio… e nada! Nem cheiro do delegado.
A 4ª Vara Criminal de São José intimou o delegado ontem. Se não apresentar o seu endereço corretamente em 24 horas, ele terá prisão preventiva decretada. Vai parar atrás das grades. Onde está Damasio?
Forcinha
O BOM DIA dá uma dica à oficial de Justiça. Que tal ir à Seccional de São José, no Jardim Satélite, zona sul da cidade. De acordo com a polícia, é bem possível que ele esteja lá, exercendo funções administrativas. Afinal, foi afastado depois de se envolver numa briga com um cadeirante, por causa de uma vaga de estacionamento. Quem garante que ele está lá é a delegada Juliana Puccini.
“O Damasio não quer se manifestar. Mas ele está aqui no horário normal de expediente”, garantiu a Juliana, assistente da Delegacia Seccional.
O advogado de Damásio, Luiz Antonio Lourenço da Silva, também aconselhou a Justiça a dar uma passadinha na Delegacia Seccional. “O juiz (Carlos Gutemberg de Santis) já sabe onde encontrar. Ele está todos os dias na Seccional de São José. Pode ser encontrado no horário normal. Não tem motivo para essas notícias”, afirmou.
Domicílio
Em seu despacho, de Santis deu o ultimato: “Diante da dificuldade em localizar o acusado, bem como do esclarecimento por ele prestado quando questionado acerca de seu domicílio, determino sua intimação para que informe o endereço onde poderá ser encontrado”, disse o juiz em seu despacho.
Se a Justiça de São José não acha o Damasio, por que o delegado não resolve dar uma ‘mãozinha’ à oficial de Justiça por conta própria? Simples assim. Apareça, Damasio!
***
Veja/Leia também:

6.3.11

Lugar de Curió é na gaiola

DOL - Diário Online (Diário do Pará), 06/03/2011:

Ex-motorista se diz ameaçado por Curió

O ex-motorista do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) em Marabá, Valdim Pereira de Souza, que nos anos 70, durante a guerrilha do Araguaia - movimento que pregava uma revolução das massas camponesas para derrubar a ditadura militar implantada no país em 1964 -, colaborou com os militares, recolhendo ossos humanos de guerrilheiros mortos pelo Exército, prestou na semana passada em Marabá um depoimento em que acusa o coronel Sebastião Curió de usar pessoas a ele ligadas para ameaçá-lo de represálias caso colabore com o Grupo Tocantins, que busca localizar corpos dos insurretos que ainda estariam enterrados na região. Curió teve intensa participação, como major do Exército, na repressão ao movimento guerrilheiro.

Souza já recebeu várias ameaças para ficar calado. Em dezembro do ano passado, em três ligações telefônicas para seu celular, ele foi aconselhado a “fechar a boca para não dizer besteiras”. Em uma das ligações, enfrentou quem o ameaçava: “Olha, nós não temos mais nada a perder”. A mãe do motorista também atendeu a um telefonema ameaçador em Macapá, onde o motorista morava: a voz advertia para ter muito cuidado com o que andava falando.

Em depoimento gravado num vídeo, cuja cópia foi obtida com exclusividade pelo DIÁRIO, Souza afirma que, para ele, Curió está por trás das ameaças. O motorista diz que fala com conhecimento de causa, porque já trabalhou para Curió por sete anos, entre 1976 e 1983, quando o ex-patrão comandou com mão de ferro o garimpo de Serra Pelada. “O Curió é corajoso e me disse certa vez que quem fala muito morre”, contou, revelando que o ex-agente do SNI queria que Souza fizesse coisas que não gostava, como seguir e escutar pessoas, inclusive amigos do motorista. E dizia para ele que “inimigo bom é inimigo morto”.

LIMPEZA

Um dos quatro ouvidores do Grupo de Trabalho do Tocantins e ex-representante do Pará junto ao Ministério da Defesa, no Programa Federal Comissão da Verdade, Paulo Fonteles Filho, que há vários anos luta para encontrar os corpos de guerrilheiros que militavam no PC do B, integrando uma força-tarefa de agentes federais, pediu a ex-soldados e outros militares das Forças Armadas, que hoje colaboram com o governo federal para localizar as vítimas, que denunciem as ameaças que também estariam sofrendo.

Para Souza, as ameaças não podem ficar impunes. Ele diz que ainda há militares, principalmente do 52º Batalhão de Infantaria de Selva, de Marabá, que tentam negar que no quartel daquela unidade do Exército pessoas foram torturadas. Ele afirma que os ex-militares que colaboram com o Grupo Tocantins estão sendo vigiados.

Ossos recolhidos ao DNER

Em 1976, segundo o depoimento de Souza, ele participou da “Operação Limpeza”, denominação militar para o resgate de corpos e ossadas de guerrilheiros mortos na região. “Não tínhamos o direito de saber o que fazíamos, apenas cumprir a nossa obrigação e as determinações superiores”, revela. O trabalho dele era dirigir uma caminhonete do Incra. Era um carro descaracterizado, com placa fria. Foi várias vezes a Castanhal da Viúva, mas percorria também localidades como Bacaba, São Geraldo, São Domingos, Brejo Grande e Palestina.

A missão era trazer para a sede do antigo Departamento Nacional de Estradas e Rodagens (DNER), em Marabá, vários sacos amarrados com um cordão. Os sacos pesavam cerca de 100 quilos e dentro, soube depois, por servidor do próprio DNER conhecido por “Pé na Cova”, havia ossos humanos. O cheiro era insuportável. Os homens do Exército que comandavam a operação eram o doutor Luchini (Sebastião Curió) e os sargentos Santa Cruz e Ribamar.

PROIBIÇÃO

Quem participava da “Operação Limpeza” era proibido de perguntar o que havia dentro dos sacos. Souza declarou que fez quatro viagens para transportar os sacos com as ossadas. Hoje, ele relembra, quem colaborou com o Exército “mal consegue levantar da cama, já morreu ou está muito doente, sem nada”. E desabafa: “não fizemos isso de livre e espontânea vontade, mas de livre e espontânea pressão”.

Sebastião Curió foi procurado pelo DIÁRIO em Curionópolis para apresentar sua versão do relato feito por seu ex-motorista, mas não foi localizado. A informação era de que ele morava em Brasília. Não foi possível localizá-lo na capital federal. (Diário do Pará)

5.3.11

Relatório mundial sobre deficiência

Inclusive, 03/03/2011:

Relatório mundial sobre deficiência

No próximo dia 9 de junho de 2011, na sede da Organização Mundial da Saúde – OMS, em Genebra, Suíça, ocorrerá o lançamento internacional do WORLD REPORT ON DISABILITY (Relatório Mundial sobre Deficiência) com a presença de autoridades internacionais e estatais, celebridades com deficiências e representantes de organizações científicas, organizações não-governamentais e organizações profissionais que lidam com pessoas com deficiências.

O RELATÓRIO MUNDIAL SOBRE DEFICIÊNCIA é um documento que resume as mais importantes evidências científicas sobre o tema, com recomendações para ações de apoio à Convenção dos Direitos das Pessoas com Deficiências (2006). Após o lançamento, haverá uma sessão técnica para explicar como podem ser implementadas as recomendações feitas.

A OMS informa que pessoas com deficiências são as que mais sofrem desvantagem social e econômica e têm seus diretos negados em muitos países. Cerca de 80% das pessoas com deficiências vivem em países de baixa renda. Apesar deste problema ser vultuoso, há pouca informação científica disponível. O RELATÓRIO MUNDIAL SOBRE DEFICIÊNCIAS aborda a necessidade de se ter dados confiáveis e se desenvolver pesquisas de melhor qualidade. O documento é uma atualização sobre o que aconteceu nos últimos trinta anos e explora as evidências atuais incluindo as diferentes situações de discriminação e barreiras, oferecendo uma análise de diversas experiências que contribuíram para melhorar a vida de pessoas com incapacidades quanto à saúde, reabilitação, serviços de apoio, infra-estrutura, transporte, educação e emprego.

Quatro pequenos filmes sobre pessoas com deficiências vivendo na Tanzânia, Líbano, Reino Unido e Bolívia foram produzidos para sensibilizar a população mundial sobre os desafios de ser deficiente. Os filmes estão disponíveis no portal da OMS, no canal WHO do YouTube e por meio de links no Facebook.

A Fonoaudiologia internacional estará oficialmente presente por meio da diretoria da International Association of Logopedics and Phoniatrics – IALP, que contribuirá na disseminação dessas informações. Solicitamos aos fonoaudiólogos que repassem essa mensagem às suas listas e ajudem a mobilizar o interesse internacional para remover as barreiras de participação das pessoas com deficiência na sociedade.

Esperamos que as deficiências na comunicação sejam dignamente reconhecidas como possíveis impedimentos à sociabilização e ao pleno desenvolvimento humano e que o referido documento nos ajude na luta pelo acesso da população aos serviços fonoaudiológicos. Alinhada com as tendências internacionais, a SBFa, no presente ano, propôs como lema do 19o Congresso Nacional e 8o Congresso Internacional de Fonoaudiologia, “Comunicação como um direito de todos”. Organize sua agenda para estar presente nesse marco histórico.

Maiores informações sobre o documento da OMS em:
http://www.who.int/disabilities/world_report/en/index.html

You Tube:
http://www.youtube.com/user/who#grid/user/50649F9C524CBAC4

Facebook:
http://www.facebook.com/WorldHealthOrganization?v=wall

Mara Behlau - Presidente da SBFa

3.3.11

Dez! Nota Dez!

Blog Soluções Sustentáveis, 03/03/2011:

Cristiane Mega, da Soluções Sustentáveis, realizando análise de postos de trabalho na Ferrovia Centro Atlântica

A Soluções Sustentáveis não é escola de samba, mas já tirou duas notas 10 na avaliação que a Vale faz periodicamente dos seus fornecedores. Segundo o IDF – Índice de Desempenho do Fornecedor da companhia, nas duas vezes em que fomos avaliados, o índice que alcançamos foi 100, a nota máxima.

Os objetivos do IDF da Vale são desenvolver um relacionamento mais transparente com o mercado, prover informações para contratações mais adequadas, com fornecedores que tenham bom desempenho, premiar os de melhor desempenho e renovar a base de fornecedores. O Índice é composto pelos indicadores de pontualidade (50%), conformidade (40%) e competitividade (10%).

Livro sobre audiodescrição para download

Blog da Audiodescrição, 02/03/2011:

O livro “Audiodescrição - Transformando Imagens em Palavras” está disponível para download

Caros leitores,

Finalmente, já podemos disponibilizar nosso livro “Audiodescrição - Transformando Imagens em Palavras” para download nas versões DOCX e PDF.

Muito em breve, esperamos poder também disponibilizá-lo em outras versões.

Clique aqui para download da versão preferida.

1.3.11

Weliton Prado não é da minha turma

Esses caras não se emendam e continuam a tentar descolar votos das pessoas com deficiência. Agora é um tal de Weliton Prado, deputado federal do PT/MG, que apresentou um Projeto de Lei anacrônico, apensado ao mais anacrônico ainda Estatuto do “Portador de Necessidades Especiais”. Ô Weliton, vai procurar tua turma!

A propósito dessa excrescência, vejam o alerta oportuno de Romeu Kazumi Sassaki:

Olá, todos:

O PL 127/2011 (de Weliton Prado) foi apensado ao PL 7.699/2006 (de Paulo Paim), que se refere ao tal do Estatuto do “Portador de Necessidades Especiais” (termo que lá consta). Tal apensamento é muito preocupante para o nosso movimento, por diversos motivos. Cito cinco:

1. Conforme explicita a ementa do PL 127/2011, este “dispõe sobre a obrigatoriedade da reserva de locais apropriados para a acomodação de portadores de deficiência física em estádios esportivos de todo o território nacional”. Tudo bem quanto ao aspecto da “obrigatoriedade”, por entendermos que ele é compatível com a “exigência de acessibilidade arquitetônica”. A preocupação é com a ideia de “reserva de locais”, por mais “apropriados” (acessíveis) que sejam estes locais (entenda-se “assentos, lugares para se sentar”) para acomodação de pessoas com deficiência (não apenas “deficiência física” e muito menos com a terminologia “portadores de”). É coisa do passado essa ideia de se delimitar um “gueto” (mesmo que seja acessível) em cada estádio esportivo, um gueto reservado exclusivamente aos frequentadores com deficiência. Hoje exigimos acessibilidade em vários setores de cada estádio, garantindo à pessoa com deficiência o direito de escolher em qual setor deseja acomodar-se.

2. O PL 127/2011 foi apensado ao PL 7.699/2006, este já debatido, defendido e combatido, passando por tentativas de “aperfeiçoamento” que ao final foram frustradas por estarem muito distantes da enorme abrangência conceitual do texto da Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência. Esta Convenção, já ratificada com valor constitucional pelo Congresso Nacional, eliminou a anacrônica necessidade de um estatuto da pessoa com deficiência. Precisamos, sim, adequar os conceitos e as terminologias das legislações (atuais e futuras) em conformidade com os conceitos e as terminologias adotados pela Convenção.

3. Na indexação do PLS 6/2003, que é o original do PL 7.699/2006, ainda constavam terminologias já ultrapassadas naquela época, tais como: portador de deficiência, pessoa portadora de deficiência, o deficiente físico, o deficiente mental, o deficiente auditivo, o deficiente visual.

4. Nessa indexação, aparece a visão monocular como um tipo de deficiência. A questão “visão monocular é ou não é deficiência” é polêmica. Por um lado, o Conade já se manifestou que a visão monocular não é deficiência para os fins de aplicação da legislação pertinente a pessoas com deficiência. Por outro lado, alguns juízes declararam que candidatos com visão monocular são pessoas com deficiência em concursos públicos.

5. Devido ao fato de que o novo PL foi apresentado no início deste mês (3/2/2011) e está correndo como prioridade no regime de tramitação, precisamos agir rápido.

Abraços
Romeu

Deu Soluções no jornal Extra

Extra, coluna Extra, Extra!, de Berenice Seara, 27/02/2011:

JOGO RÁPIDO

A Soluções Sustentáveis está com vagas de emprego em empresas para pessoas com deficiência. Informações: http://www.solucoessustentaveis.com/ ou 3553-8045.

Blocos carnavalescos de pessoas com deficiência

BLOCO GARGALHADA

O Bloco Gargalhada (http://www.blocogargalhada.com/), que há sete anos promove a inclusão de surdos no carnaval, este ano vai “incluir” uma galera muito especial do Grupo Anjos de Visão - uma comunidade que congrega pessoas com diversas deficiências.

O “homenageado” de 2011 será o Tiririca - a grande piada séria de 2010. A letra do samba foi feita por um cego e a “rainha” da bateria - a gargalhete - é uma Drag Queen surda.

A concentração será na Associação Atlética Vila Isabel, a partir das 13h do dia 6, domingo, e o desfile será às 16h, pela Av. Vinte e Oito de Setembro.

Contatos: Yolanda Braconnot (Presidente do Bloco) - (21) 9979-9397; Sandra Braconnot (Assessoria de Comunicação) - (21) 9608-8810.

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SENTA QUE EU EMPURRO

Dia 4 de março (sexta-feira); Concentração às 18h, na Rua Artur Bernardes, em frente ao nº 26 A, Catete, Rio de Janeiro. Saída às 20h.

Percurso: Rua Artur Bernardes, pequeno trecho da Rua Bento Lisboa, Rua Dois de Dezembro, finalizando em frente ao Restaurante Paraíso do Chopp.

As camisetas estão à venda por R$ 15,00. Informações: 3235-9290 (Ana Cláudia/Amanda).