27.12.09

A moçada está saindo

ANDREI BASTOS

Foi bonito de se ver. Na semana que antecedeu o Natal fui duas vezes ao shopping comprar presentes e tive gratas surpresas. Depois de batalhar por uma vaga reservada para pessoas com deficiência, todas ocupadas, tive que esperar na fila para usar o banheiro adaptado e vi muitas cadeiras de rodas circulando pelos corredores e lojas.

Não é à toa que o símbolo de acessibilidade mais difundido e conhecido é uma cadeira de rodas. Claro que outras pessoas, com outras deficiências, também foram às compras, mas a idéia de um espaço acessível conquistado é facilmente passada pela imagem dos cadeirantes circulando com facilidade.

Mais do que uma simples inclusão nos templos do consumo, esta nossa maior afluência aos shoppings resulta da irreversível elevação da nossa autoestima, tanto por conquistas de natureza pessoal como política. Nossa determinação e luta constante fizeram com que chegássemos à atual situação e vão nos levar mais longe ainda. A porta do consumo é a mais fácil de ser aberta, pois a chave é o dinheirinho nada desprezível de 25 milhões de brasileiros e seus familiares.

É preciso que tenhamos clareza em relação a esse poder econômico, significativamente aumentado por nossa inclusão cada vez maior no mercado de trabalho, e saibamos usá-lo para efetivar todas as outras conquistas já consolidadas nas leis. Se associarmos essa compreensão às questões de direitos do consumidor e de que somos tão pagadores de impostos quanto os outros, a despeito de isenções fiscais plenamente justificadas que nos atendem, potencializaremos nossa força política na luta pela cidadania plena.

Por outro lado, também sabemos que usuários de vagas reservadas em shoppings ainda representam uma minoria entre nós e que, por isso, devemos fazer com que a acessibilidade desse comércio de luxo seja implementada em todas as construções e transportes das cidades. Afinal, nenhum dos sorridentes cadeirantes “consumistas” deve ter chegado de ônibus. Mas, de qualquer maneira, foi bonito de se ver porque a diferença foi grande “em relação ao mesmo período do ano anterior”, marcando 2009 como o ano em que muitos cadeirantes saíram da toca.

Na minha última incursão consumista, ao sair do elevador me deparei com um congestionamento de cadeiras de rodas. Foi divertido porque, sem perceber, de repente estávamos num papo solto como se fôssemos velhos conhecidos, rindo e brincando com nossas cadeiras e muletas, e atrapalhando o trânsito, é claro. Foi quando um jovem e bem humorado cadeirante do grupo, olhando para a confusão, expressou o que percebíamos ao dizer que “a moçada está saindo”.

É isso mesmo: estamos saindo para a vida, para o mundo, e tudo indica que 2010 será o ano em que provocaremos congestionamentos também nas avenidas, ruas e pontos de ônibus, lutando por acessibilidade para todos. Vocês já imaginaram o impacto que apenas dois ou três cadeirantes podem provocar se tentarem pegar, ao mesmo tempo, o mesmo ônibus adaptado sobre chassi de caminhão? É primeira página na certa.

Fica o aviso para governantes incompetentes e máfias do transporte coletivo: a moçada está saindo e vai ganhar as ruas. Feliz 2010 acessível!

***

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Cidade insensata

23.12.09

Crianças da Mangueirinha realizam fantasia do Natal

Papai Noel envolvido pelo carinho das crianças

21 de dezembro seria um dia comum para as 102 crianças do Programa Raízes Locais na Mangueirinha, em Duque de Caxias/RJ, se não fosse pelo acontecimento inesperado da primeira visita de Papai Noel.

Em meio à distribuição dos muitos presentes, doados pela Academia Curves, Papai Noel declarou: “vivi uma das maiores emoções da minha vida ao sair do frio do Polo Norte e encontrar o calor do clima e do amor dessa comunidade. O melhor presente foi ver a felicidade nos olhos das crianças que realizavam a fantasia do Natal”.

Nota da redação: Não contem pra ninguém, mas Papai Noel é Leonardo Leal, colaborador da Terra dos Homens.

21.12.09

Cidade insensata

O Globo, Opinião, 21/12/2009:

Cidade insensata

ANDREI BASTOS

Conheci Lahiry Romero outro dia e fiquei muito impressionado. Tendo aprendido a nadar há apenas nove anos, ela ocupa o terceiro lugar no ranking brasileiro da sua categoria, já quebrou recorde nacional e ganhou cerca de 200 medalhas e troféus. Para conseguir tudo isso, é claro que Lahiry treina quase todos os dias, faz musculação e cuida da alimentação, embora não dispense o chopinho no fim de semana, pois ninguém é de ferro. O bom humor de quem está sempre de bem com a vida é a marca registrada dessa atleta de 81 anos que, evidentemente, não tem dificuldade para andar em nossas cidades e em nossos transportes coletivos sem acessibilidade.

Já a ex-ginasta Luísa Parente, outra pessoa que irradia grande alegria de viver, e dispensa maiores apresentações, eu conheço há mais tempo e igualmente me impressionou bastante. O preparo de atleta duas vezes olímpica lhe deu condições de também enfrentar sem dificuldade a falta de acessibilidade no Rio de Janeiro e no Brasil quando grávida. Cá entre nós, sempre achei que Luísa seria capaz de fazer uma pirueta no quinto mês de gestação.

Da mesma forma, Alarico Moura, ciclista amputado de uma perna há 28 anos, hexacampeão brasileiro, não tem problemas para superar os obstáculos da falta de acessibilidade nas ruas, prédios e transportes. Sem fugir à regra dos vencedores, Alá é muito querido por sua força de vontade e alto-astral e, com seu visual moderno de piercing, barbicha e tatuagens, não gosta de ser chamado de senhor, apesar dos mais de 60 anos de idade.

Ou seja, queridos idosos, gestantes, pessoas com deficiência ou com mobilidade reduzida: todos devemos ser atletas para vencer as dificuldades criadas pela falta de consciência e incompetência dos nossos governantes, que muitas vezes são os primeiros a desrespeitar as leis.

De outra forma, chega de dizer que a falta de acessibilidade resulta de longo e tenebroso inverno obscurantista e que a sociedade precisa ser conscientizada. Já sabemos o que é preciso ser feito, as leis e suas regulamentações estão aí, assim como as normas da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), e o que falta para acabar com a desfaçatez é uma verdadeira vontade política, que começa na firme cobrança de direitos pela cidadania, pois todos precisam e se beneficiam do alto grau de civilização que um mundo acessível proporciona.

As ferramentas para a construção desse mundo também já estão aí. O desenho universal e a tecnologia que atende às necessidades específicas de pessoas com deficiências sensoriais e intelectuais, como cegos, surdos, paralisados cerebrais e com síndrome de Down, já estão mais do que suficientemente desenvolvidos para aplicação e uso imediatos. E tais recursos ampliam o conceito de acessibilidade para muito além do mundo físico das cidades, veículos e objetos, atingindo a comunicação, a literatura, o teatro, o cinema e a televisão.

Acessibilidade é tudo isso e serve para tirar as pedras do caminho, tanto nas calçadas como na insensatez humana.

ANDREI BASTOS é jornalista e integra a Comissão de Direitos Humanos da OAB-RJ.

Inclusão na mídia

Blog Audiodescrição, 18/12/2009:

Deficientes reafirmam seus direitos de inclusão na mídia

Propostas para garantir o acesso dos deficientes à informação e à cultura chegam com grande aprovação no relatório final da I Conferência Nacional de Comunicação.

Diversas propostas que garantem a Língua Brasileira de Sinais (Libras) e legendas, audiodescrição e braile tornando possível o acesso de surdos e cegos às informações por meio da televisão e do cinema foram reafirmadas na Confecom.

Estes direitos já são assegurados pelas leis brasileiras, contudo, não vêm sendo cumpridas desde a aprovação.

Também foi garantida a adoção nas escolas de softwares livres voltados para deficientes.

Outras medidas que garantem a participação dos deficientes em medidas de controle público como a implantação da figura do intérprete da Libras nas áreas de comunicação dos órgãos públicos visando facilitar o diálogo com os deficientes auditivos nos eventos públicos.

Fonte: PULSAR Brasil

20.12.09

Papai Noel cadeirante

ANDREI BASTOS

Chegou o Natal e a agitação é grande no Polo Norte com os preparativos de última hora para a longa viagem do Papai Noel cadeirante. Finalmente o novo trenó de rodas, mais largo, ficou pronto e o bom velhinho faz um test drive pelos céus do Ártico. 2009 foi um ano de grandes comilanças nos muitos feriados e a gula deixou sua marca na aposentadoria do antigo veículo, incompatível com as novas medidas do nosso Noel.

Muitas outras coisas também mudaram, no mundo glacial, que diminuiu por causa do aquecimento do planeta, e no mundo tropical, que tem vivido períodos de grande turbulência climática pela mesma razão. Diante disso, a equipe multidisciplinar de engenheiros natalinos inclusivos, formada por profissionais com deficiências físicas, sensoriais e intelectuais, lançou mão da tecnologia mais avançada e construiu um trenó de rodas cheio de recursos de navegação acessíveis e movido a solidariedade humana, a energia mais limpa e poderosa que existe na Terra.

Com a aprovação no test drive, os presentes começam a ser carregados e logo se descobre que será necessário atrelar vários contêineres, pois a lista de pedidos é gigantesca neste Natal. Coçando a longa barba branca, Noel conclui que o aumento se deve às conquistas da luta pelos direitos humanos e manda juntar a cada presente um exemplar da versão para crianças da Convenção da ONU sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência.

Apesar da enorme quantidade de presentes, nenhum deixou de ser analisado pela equipe técnica de acessibilidade do Polo, também multidisciplinar, que verificou qualidade, sustentabilidade e adequação às determinações de acessibilidade da Associação Ártica de Normas Técnicas (AANT). Cada criança com deficiência da Terra receberá o presente que pediu devidamente aprovado e com o selo da Organização Natalina Deficiências e Acessibilidade (ONDA).

Feliz da vida com o sucesso da organização deste Natal, ao menos dentro das fronteiras do Ártico, nosso querido velhinho agora dedica todo o seu brilhantismo intelectual de PCC (Paralisado Cerebral Criativo) à elaboração de uma estratégia de enfrentamento e superação dos tristes problemas de preconceito, discriminação e falta de acessibilidade que vai encontrar na viagem, como estranheza diante do seu “Ho, ho, ho!” mal pronunciado, exclusão total das crianças com deficiência pobres, não aceitação por pais de crianças atendidas por seu colega sem deficiência, desrespeito a vagas de estacionamento reservadas, ruas e prédios públicos e privados sem acessibilidade e, pior de tudo, chaminés estreitas…

Mesmo com esses obstáculos a vencer, é com a alegria pelas conquistas de emancipação das pessoas com deficiência já obtidas somada às 2.009 alegrias das comemorações pelo nascimento de um menino que se tornou apóstolo de uma inclusão absoluta que nosso Papai Noel cadeirante vai à luta. Ou melhor, pois é verdade e estamos em clima natalino: vai correr o mundo distribuindo presentes de amor e solidariedade. A nós, simples humanos com deficiência, cabe incorporar esses presentes à nossa vida, sonhar com um Natal inclusivo de verdade e, como ninguém é de ferro, cair de boca nos comes e bebes da festa!

19.12.09

Coluna do Milton

ATÉ A POESIA AJUDA A ENTENDER BOLHAS

Milton Coelho da Graça

Como diria nosso Vinicius: “bolhas, melhor não tê-las, mas, se não tê-las, como sabê-las?”

A bolha é, na Economia, um sinal de que a confusão vem aí, mas o problema é que ela se confunde com a sensação de que tudo vai muito bem, melhor do que se esperava. Preços, lucros e ações sobem, o PIB desperta alegrias gerais – quem vai se preocupar em levar a sério qualquer sintoma de “exuberância irracional”, na enxurrada de números simpáticos que governos, empresários, corretores, analistas e até economistas em geral confiáveis espalham diariamente (minutariamente nestes tempos de internet)?

A bolha está por ali, disfarçada em papéis de várias naturezas – até dinheiro vivo – mas o real significado de suas letras e números deixa de ser buscado no meio da alegria geral. Alguém se lembra de dívidas durante o carnaval?

Por que se importar com problemas antigos e difíceis se temos soluções fáceis no estilo Chacrinha? Atraso tecnológico e ineficiência na gestão (“não estamos conseguindo exportar, é por causa da China, precisamos é de proteção”); dívidas de empresas médias e pequenas (“não faz mal, lá na frente a gente recupera”); dívidas pessoais com juros extorsivos (“o povo está consumindo mais”); mais analfabetos funcionais e educação deficiente em todos os níveis (“o número de matrículas é cada vez maior”).

Não pensem que me refiro apenas ao aqui e agora, ao Brasil de hoje. Várias peças desse joguinho “verdade/conversa fiada” recheiam o passado e o presente de muitos países. Grécia, Irlanda, Islândia, México, os países bálticos e vários outros são as estrelas do momento.

Em todos esses casos, a bolha do falso progresso estava ali, bem no meio da alegria, mas ninguém lhe prestou muita atenção.

Como todos sabemos, o dólar se desvaloriza porque os Estados Unidos se viram forçados a baixar o juro a zero e abrir a torneira produtora de dinheiro para salvar bancos, estimular a produção industrial, segurar a queda do emprego e aliviar o desespero dos pendurados em hipotecas. A Europa também fez isso em menor grau. O Brasil não abriu a torneira, preferiu reduzir impostos, abrir o guichê do BNDES para grandes empresas, estimular o consumo. Tudo isso sempre em nome de estancar a crise, mas sem ir fundo na correção das causas mais remotas.

Talvez a situação mereça a releitura de um sábio que ajudou a construir a saída de uma grande crise, mas decidiu, certamente tarde demais, dar um freio na ilusão de que dinheiro resolve tudo.

“A moeda vem sendo ameaçada substancialmente pelos gastos desmedidos do setor público. O aumento desenfreado dos gastos públicos aniquila qualquer tentativa de um orçamento equilibrado, leva as finanças públicas à beira da falência, apesar do aumento imenso da carga tributária. (…) Não há receita, por mais genial e refinada, nem sistema de técnica financeira e monetária, nem organização e medidas de controle que sejam suficientemente eficientes para deter efeitos arrasadores.”

Este é um pequeno trecho do comunicado (agosto de 1937) do presidente do Banco Central da Alemanha nazista, Hjalmar Schacht, ao ministro da Economia, Hermann Göring. Schacht havia sido o cérebro da luta contra a inflação e da restauração financeira do país desde agosto de 1934, nomeado por Adolf Hitler. Foi ele, quem através de medidas bem próximas a algumas adotadas pelo nosso Plano Real usou a moeda saneada para um gigantesco programa de obras de infra-estrutura. Mas começou a pisar no freio quando o governo decidiu investir pesadamente na indústria armamentista, propaganda do regime etc.

Schacht acabou preso em 1944, envolvido em atentado contra Hitler, sendo o único dos conspiradores não executados. Quando a guerra acabou, continuou preso – agora pelos americanos – e só foi solto quatro anos depois. Escapou de ser condenado à morte como Göring, que se suicidou minutos antes de ser levado à forca.

Ninguém quer que isso volte a acontecer com presidentes de BCs ou ministros da Economia. Mas, por favor, prestem atenção às bolhas, como diria Vinicius, se fosse poeta-economista.

17.12.09

Crise em Copenhage

Caros Amigos,

Com apenas três dias para terminar, a Conferência de Copenhague está falhando.

Amanhã, os líderes globais irão chegar para um encontro inédito de 60 horas diretas de negociações. Os especialistas concordam que sem a pressão da opinião pública global por um acordo forte, o encontro não conseguirá impedir o aquecimento global catastrófico de 2 graus.

Clique abaixo para assinar a petição por um Acordo pra Valer - a campanha já conta com um número surpreendente de 11 milhões de apoiadores - vamos transformá-la na maior petição da história nas próximas 72 horas! Os nomes serão lidos diretamente na Conferência de Copenhague - assine no link abaixo e envie este alerta para todos os seus contatos!

http://www.avaaz.org/po/save_copenhagen

A equipe da Avaaz está se reunindo diariamente com os negociadores em Copenhague e iremos providenciar uma entrega espetacular da petição aos líderes a medida que eles forem chegando. Os nomes serão colocados em um muro gigante de caixas e serão lidos um a um. Com a maior petição da história, os chefes de estado não terão dúvida de que o mundo inteiro está atento ao que está acontecendo.

Milhões de pessoas assistiram pela televisão a vigília da Avaaz dentro do encontro, onde o Arcebispo Desmond Tutu disse a centenas de delegados e crianças reunidas:

“Marchamos em Berlim e o muro caiu.
“Marchamos pela África do Sul e o apartheid caiu.
“Marchamos em Copenhague - e vamos conseguir um Acordo pra Valer.”
Copenhague busca o maior mandato da história para deter a maior ameaça que a humanidade já enfrentou. A história será escrita nos próximos dias. Como nossos filhos vão se lembrar deste momento? Vamos lhes dizer que fizemos tudo o que podíamos.

http://www.avaaz.org/po/save_copenhagen

Com esperança,

Ricken, Alice, Ben, Paul, Luis, Iain, Veronique, Graziela, Pascal, Paula, Benjamin, Raj, Raluca, Taren, David, Josh e toda a equipe Avaaz.

***

SOBRE A AVAAZ

Avaaz.org é uma organização independente sem fins lucrativos que visa garantir a representação dos valores da sociedade civil global na política internacional em questões que vão desde o aquecimento global até a guerra no Iraque e direitos humanos. Avaaz não recebe dinheiro de governos ou empresas e é composta por uma equipe global sediada em Londres, Nova York, Paris, Washington DC, Genebra e Rio de Janeiro. Avaaz significa “voz” em várias línguas européias e asiáticas. Telefone: +1 888 922 8229

Para entrar em contato com a Avaaz, escreva para info@avaaz.org. Você pode nos telefonar nos números +1-888-922-8229 (EUA) ou +55 21 2509 0368 (Brasil). Se você tiver problemas técnicos visite http://www.avaaz.org

16.12.09

Contra anistia a torturadores

Associação Juízes para a Democracia:

DIGA NÃO À ANISTIA PARA OS TORTURADORES, SEQUESTRADORES E ASSASSINOS DOS OPOSITORES À DITADURA MILITAR.

Se você concorda conosco, clique aqui e assine a petição que será enviada para os ministros do Supremo Tribunal Federal e para o Procurador Geral da República.

Nelson Werneck Sodré


13.12.09

Nossos esquecidos

ANDREI BASTOS

O Natal está chegando, com essa coisa de festa consumista e confraternização universal ao mesmo tempo. Mas, confraternização universal até que ponto, gente boa? Quando ultrapassamos as grades e muros das “cidadelas” dos bem-nascidos, que a cada dia ficam mais vulneráveis e menores diante das não-cidades formadas pelas favelas e pelas comunidades pobres, ficamos assombrados com a invisibilidade total das pessoas com deficiência dos lugares além-fronteiras.

Depois que passei a priorizar e promover a interseção da questão da pessoa com deficiência com a da criança, diante da constatação óbvia de que a efetividade do combate ao preconceito e à discriminação é praticamente absoluta na infância, tenho participado de muitas atividades fora da área das deficiências. Juntando a tal posicionamento o fato de que a Convenção da ONU sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência contempla as mais pobres dessas pessoas, estabeleci meu foco nas chamadas comunidades de baixa renda com a difícil equação deficiência/criança/pobreza.

Com essa “mala cheia de ilusões”, circulei pelas vielas da Maré, no Rio de Janeiro, e de Mangueirinha e Nova Campina, em Duque de Caxias, assuntando a exclusão social e os direitos humanos em seus múltiplos aspectos - da reintegração familiar e comunitária de crianças em situação de rua à violência praticada por polícia, tráfico e milícia contra cidadãos de bem, que ficam acuados e silenciados.

Nessa trajetória, estive presente em reuniões, manifestações e debates, sempre concorridos e de grande qualidade. Porém, assim como aconteceu na primeira audiência pública do Plano Nacional pela Primeira Infância no Rio de Janeiro, quando deixei mesa e platéia intrigadas ao me inscrever em todos os grupos temáticos porque era a única pessoa com deficiência participante, eu também me vi sozinho em todas essas ocasiões.

Diante disso, fiz duas perguntas. Uma, de mim para mim, questionando a própria luta pela inclusão das pessoas com deficiência que, em geral, fala para quem já está dentro dela, reforçando a idéia de gueto e podendo explicar a ausência de outros companheiros comigo. A segunda pergunta, para os militantes dos outros segmentos de excluídos, indagando se por acaso não existiam paraplégicos, surdos, cegos, paralisados cerebrais ou pessoas com síndrome de Down nas favelas, pois eu não tinha visto ninguém assim em nenhuma reunião ou viela.

Pois é, gente boa - é aí que o bicho pega! O pessoal começou a balbuciar, tentando se lembrar do garoto que queimou os olhos com algum produto e ficou cego, da menina com Down ou mesmo do rapaz que caiu da moto e ficou paralítico, mas todos tinham sumido na poeira das suas histórias.

É por essas e outras, Papai Noel, que aproveito este texto para pedir por todas as crianças, jovens e adultos com deficiência esquecidos nos labirintos de barracos, em meio aos ratos das palafitas ou adormecidos em cubículos precários nas pirambeiras.

Para nós, bem-nascidos da Zona Sul carioca, ou de qualquer outra “cidadela”, é muito fácil trabalhar e construir belos discursos contra o preconceito e a discriminação ou a favor das cotas no mercado de trabalho e da educação inclusiva. Difícil é combinar tais práticas com a luta contra a pobreza ou com a formulação de normas da ABNT para a acessibilidade nas favelas.

Com muita fé, desejo o Natal mais feliz possível para os nossos esquecidos!

***

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Onde viver é uma triste rotina

“Isso é demência”

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Regra e exceção

Que inclusão é essa?

PCD no Brasil

Resolução CNE/CEB nº 04/2009

Nosso Povo - IBGE

Seminário da Rede Rio Criança




10.12.09

Uma estátua equestre para Lula

O Estado de S. Paulo, 10/12/2009:

Uma estátua equestre para Lula

Demétrio Magnoli

Tirando a espuma, o filme Lula, o Filho do Brasil não passa de mais uma versão da fábula do indivíduo virtuoso que, arrostando a adversidade extrema, luta, persevera e triunfa montado apenas nos seus próprios esforços. Como cada um encontra aquilo que procura, o fiel extrai dessa fábula uma lição singela sobre a intervenção misteriosa da providência, enquanto o doutrinário liberal nela encontra o argumento clássico em defesa do princípio do mérito individual. Nenhuma das interpretações se amolda ao pensamento de esquerda, que se articula ao redor das noções de circunstância histórica e sujeito social. Lula, o Filho do Brasil é uma narrativa avessa ao programa do PT.

A espuma é vital. O livro homônimo de Denise Paraná, inspiração original do filme, apresenta Lula como personificação de um ator coletivo que é a classe trabalhadora. A obra mais cara da história do cinema brasileiro rejeita a metáfora esquerdista, substituindo-a por outra, nacionalista. Lula é o Brasil do futuro, que emerge purificado do pântano do sofrimento - eis a mensagem de Lula, o Filho do Brasil. Já se escreveu abundantemente sobre as óbvias finalidades eleitorais da hagiografia produzida pela família Barreto. Mas passou-se ao largo do seu sentido político profundo: o filme condena o PT à vassalagem.

No Palácio de Versalhes, uma imagem que simboliza a França abençoa o leito real de Luís XIV. As monarquias absolutas foram modernas no seu tempo, pois produziram um imaginário nacional. O maior dos soberanos Bourbon completou a tarefa de subordinação da nobreza ao poder central, suprimindo os privilégios políticos dos senhores e convertendo-os em cortesãos. Quando se curvavam diante do rei, os nobres domesticados estavam reverenciando a França. Lula, o Filho do Brasil funciona como instrumento de domesticação do PT, impondo a seus dirigentes e militantes a obrigação de se curvar diante de Lula. Não há, porém, nada de moderno nisso.

A República é a nação sem a figura do soberano, cujo lugar passa a ser ocupado pelo povo. As tiranias republicanas, nas suas modalidades fascistas, comunistas ou caudilhistas, desviam-se patologicamente desse modelo despersonificado da nação. Elas têm um pendor irresistível a erguer estátuas de líderes vivos, que cumprem o papel de lugares de culto. Lula, o Filho do Brasil é a coisa mais parecida com uma estátua equestre de Lula que se pode produzir no Brasil do século 21. Mas, como as instituições políticas da democracia estão de pé, o culto ao líder vivo não se espraia além de um círculo restrito formado essencialmente pelo partido que dele depende.

O PT original viu-se a si mesmo como um projeto coletivo de transformação do Brasil. Lula seria apenas uma face, relevante, mas circunstancial, da caminhada redentora do povo trabalhador. O livro de Denise Paraná inscreve-se nessa visão e, não por acaso, termina com a prisão de Lula em 1980: depois dela começaria uma outra história, que é a do PT. Na ala esquerda petista, enxergou-se Lula como um inconveniente inevitável, mas passageiro, na senda da revolução socialista. No outro extremo do partido, num passado não tão distante, dirigentes como José Genoino e Antonio Palocci procuraram alternativas mais “presidenciais” à figura rombuda do sindicalista do ABC. Todos eles fracassaram, nos planos prático e simbólico. Lula, o Filho do Brasil salta diretamente da prisão de Lula para a festa da posse na Presidência, colocando entre parêntesis a história inteira do PT. O filme chegará ao público juntamente com a homologação da candidatura de Dilma Rousseff, ungida por Lula na base do dedazo, nome que os mexicanos deram à indicação presidencial dos sucessores nos tempos da hegemonia do PRI.

Na vida real, o “filho do Brasil” nutriu desprezo completo pelos partidos e correntes de esquerda, algo bem documentado em depoimentos e entrevistas. Indignado com a mistificação cinematográfica dos Barretos, César Benjamim relatou, em artigo publicado pela Folha de S.Paulo, que Lula se gabou durante a campanha presidencial de 1994 de ter tentado currar um “menino do MEP”, preso político com quem dividiu uma cela no Deops. O filme é uma curra consumada: a violação da narrativa canônica do PT e sua substituição por uma história de cartolina na qual a redenção se identifica com a trajetória do líder providencial.

Lula, o Filho do Brasil tem todos os traços de cinema oficial. A obra foi financiada por empresas com vultosos contratos públicos e sua versão final acolheu sugestões provenientes do entourage presidencial. Segundo os que o viram, é um mau filme, mesmo se analisado nos seus próprios termos. Ele não provoca uma empatia firme nem desata turbilhões emocionais. Dificilmente terá impacto eleitoral significativo. Mas, antes ainda da estreia formal, cumpre a função mais sutil de domesticação simbólica dos petistas.

Na corte de Luís XIV, um sistema sofisticado de regras de precedência e de etiqueta regulava as relações entre o soberano e os nobres cortesãos. No seu conjunto, aquelas regras tinham a finalidade de atestar continuamente a fidelidade à figura real, que personificava a França.

A primeira pré-estreia de Lula, o Filho do Brasil, destinada a ministros, diretores de fundos de pensão e altos dirigentes petistas, obedeceu a um improvisado sistema similar. Programam-se sessões especiais para intelectuais, artistas, sindicalistas e militantes, já convocados a “prestigiar” o filme. Todos, cada um a seu momento, devem fazer a genuflexão diante da nova ordem da história.

Golbery do Couto e Silva, o “mago” da ditadura militar e da abertura política, profetizou certa vez que Lula cumpriria a missão histórica de destruir a esquerda no Brasil. Se vivo, ele daria um jeito de assistir escondido ao espetáculo proporcionado pelo público de uma dessas pré-estreias voltadas para a corte petista.

*Demétrio Magnoli é sociólogo e doutor em Geografia Humana pela USP.

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Por que agora?

Os filhos do Brasil

9.12.09

Manifesto: Publicidade Infantil Não


MANIFESTO pelo fim da publicidade e da comunicação mercadológica dirigida ao público infantil

Em defesa dos diretos da infância, da Justiça e da construção de um futuro mais solidário e sustentável para a sociedade brasileira, pessoas, organizações e entidades abaixo assinadas reafirmam a importância da proteção da criança frente aos apelos mercadológicos e pedem o fim das mensagens publicitárias dirigidas ao público infantil.

A criança é hipervulnerável. Ainda está em processo de desenvolvimento bio-físico e psíquico. Por isso, não possui a totalidade das habilidades necessárias para o desempenho de uma adequada interpretação crítica dos inúmeros apelos mercadológicos que lhe são especialmente dirigidos.

Consideramos que a publicidade de produtos e serviços dirigidos à criança deveria ser voltada aos seus pais ou responsáveis, estes sim, com condições muito mais favoráveis de análise e discernimento. Acreditamos que a utilização da criança como meio para a venda de qualquer produto ou serviço constitui prática antiética e abusiva, principalmente quando se sabe que 27 milhões de crianças brasileiras vivem em condição de miséria e dificilmente têm atendidos os desejos despertados pelo marketing.

A publicidade voltada à criança contribui para a disseminação de valores materialistas e para o aumento de problemas sociais como a obesidade infantil, erotização precoce, estresse familiar, violência pela apropriação indevida de produtos caros e alcoolismo precoce.

Acreditamos que o fim da publicidade dirigida ao público infantil será um marco importante na história de um país que quer honrar suas crianças.

Por tudo isso, pedimos, respeitosamente, àqueles que representam os Poderes da Nação que se comprometam com a infância brasileira e efetivamente promovam o fim da publicidade e da comunicação mercadológica voltada ao público menor de 12 anos de idade.

CLIQUE AQUI PARA ASSINAR O MANIFESTO.

Dia Mundial de Combate à Corrupção

Jornal do Brasil, Anna Ramalho, 09/12/2009:

Alô, alô

Hoje, 9 de dezembro, é o Dia Mundial de Combate à Corrupção. Mais de 119 países assinaram a Convenção da ONU, que entrou em vigor em 2005. Por incrível que pareça, o Brasil é signatário.

8.12.09

Cia. Marginal no Dia dos Direitos Humanos

Cia. Marginal comemora o dia dos Direitos Humanos na Alerj e na Maré

Em comemoração ao aniversário de 61 anos da Declaração Universal dos Direitos Humanos, no dia 10 de dezembro de 2009, a Cia. Marginal apresentará no Plenário Barbosa Lima Sobrinho, dentro do evento de homenagem ao dia dos Direitos Humanos, realizado pela Comissão de Direitos Humanos e Defesa da Cidadania da Assembléia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj), a performance “Fragmentos”, que propõe uma costura criativa de uma série de fragmentos de antigos trabalhos do grupo, que compartilham a abordagem de um mesmo tema: a violência.

No dia 11, o grupo de se apresenta em frente a Redes de Desenvolvimento da Maré (Redes), na comunidade Nova Holanda. A performance tem o objetivo de atingir, especialmente, o público jovem que participa dos projetos promovidos pela Instituição.

A Cia., que é dirigida pela atriz e antropóloga Isabel Penoni há cinco anos, tem formação na Maré e desenvolve suas atividades na Nova Holanda – uma das 16 comunidades que compõem a Maré. Ela teve origem no projeto Viver com Arte, financiado pelo Instituto Ayrton Senna e desenvolvido pela Redes de Desenvolvimento da Maré, agora parceira do grupo. Esses artistas têm a missão de construir soluções de sustentabilidade para a realização de projetos de pesquisa, criação e produção teatral e de atuar em diferentes espaços, contribuindo para a difusão artística na cidade do Rio de Janeiro.

Marginais premiados

Entre as premiações que o grupo já ganhou está o prêmio Funarte de Teatro Myriam Muniz, em 2006, que resultou na montagem do espetáculo “Qual é a nossa cara?”. Atualmente, o grupo recebe patrocínio da Secretaria de Cultura do Estado do Rio de Janeiro para a manutenção de suas atividades de formação, e acaba de ser contemplada com o prêmio de Apoio a Pequenos Eventos Culturais / MinC. Esse prêmio possibilitará a realização de uma nova temporada daquele espetáculo.

Ao longo de 2009, o grupo promoveu ainda uma série de ações voltadas para a divulgação de seu repertório, formação de platéia e consolidação de parcerias. A performance “Fragmentos” – na qual o grupo costura criativamente uma série de retalhos de antigos trabalhos seus, todos compartilhando, entretanto, a abordagem de um mesmo tema: o da violência – foi apresentada em uma série de eventos ao longo do ano, entre eles: o Primeiro Encontro pela Vida e Por Outra Política de Segurança Pública (UFRJ - 08/08/2009), o 15º Curso Anual do Núcleo Piratininga de Comunicação (NPC - 13/11/2009), o V Seminário de Psicologia e Direitos Humanos (CRP – 05/11/2009) e o I Seminário de Educação da Maré (UFRJ – 07/11/2009).

Serviço:
Cia. Marginal apresenta: Fragmentos
Data: 10 de dezembro, quinta-feira.
Horário: 9h às 13h
Local: Alerj - Rua Primeiro de Março, s/n - Praça XV - Rio de Janeiro
Data: 11 de dezembro, sexta-feira.
Local: Redes de Desenvolvimento da Maré, Rua Sargento Silva Nunes, 1012 – Nova Holanda
Horário: 18h

Contato:
Viviane Couto
Comunicação da REDES
www.redesdamare.org.br
3104-3276/9308-5269

Elaboração de projetos para patrocinadores


Curso Intensivo de Elaboração de Projetos para Empresas Patrocinadoras

Consultor Mário Margutti - Presidente do Instituto Cidade Viva, organização especializada em pesquisa e capacitação de produtores culturais.

• Dias 11 e 12 de dezembro de 2009

• Local: Espaço Cultural Tocando em Você

• Horários: 18h às 21h (11/12 – Sexta) e 9h às 13h (12/12 – Sábado)

No sábado, horário opcional das 13h às 16h - Valor do curso com desconto para grupos.

Mais informações:

Simone Colucci - (21) 9242-8769

5.12.09

Onde viver é uma triste rotina

Área de lazer de crianças e jovens, até recentemente (Foto: Andrei Bastos)

O Globo/Extra, Baixada, 05/12/2009:

Onde viver é uma triste rotina
Integrante da Comissão de Direitos Humanos da OAB-RJ faz alerta sobre condições de abrigo em Duque de Caxias

Por Dandara Tinoco
dandara.tinoco@oglobo.com.br
dandara.tinoco@extra.inf.br

A Casa Abrigo Betel fica em uma localidade chamada Ilha, no bairro Nova Campina, em Duque de Caxias. E os 38 adultos e nove crianças e adolescentes que vivem ali parecem mesmo estar num pedaço de terra perdido em alto-mar. Afinal, encontram-se isolados, praticamente incomunicáveis. Os abrigados pela instituição filantrópica têm problemas como paralisia cerebral, síndrome de Down e autismo. Andrei Bastos, jornalista e integrante da Comissão de Direitos Humanos da seção Rio de Janeiro da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-RJ), chama a atenção para as más condições do local:

- A instituição funciona como um depósito de gente. Não há atividades para estimular o desenvolvimento cognitivo dos abrigados. Além disso, remédios psicotrópicos, como Gardenal e Haldol, são aplicados de forma indevida em pessoas com autismo e síndrome de Down, por exemplo. Os funcionários mostram desconhecimento em relação às diferenças entre as deficiências.

Porém, Bastos esclarece que não acha o fechamento do local uma boa solução:

- Nosso objetivo não é pedir a interdição da casa. Os internos não são maltratados e há higiene, o problema é a falta de recursos técnicos.

Segundo o integrante da Comissão de Direitos Humanos da OAB-RJ, a ideia é enviar um dossiê sobre o abrigo para a secretária estadual de Direitos Humanos, Benedita da Silva:

- Pediremos à secretária que promova um intercâmbio entre a casa e instituições que tratam portadores de deficiência com funcionários capacitados. Há outros passos importantes, como equipar o local com recursos tecnológicos, para que os abrigados possam fazer fisioterapia.

A assistente social Flávia Azevedo, coordenadora do projeto “Justiça móvel para a primeira infância”, vinculado à Organização de Direitos Humanos Projeto Legal”, também questiona o tratamento aplicado na Casa Abrigo Betel:

- Os adultos e as crianças não têm convivência familiar ou comunitária. Suas habilidades não são exploradas. Falta acesso a políticas sociais.

‘O trabalho caiu no nosso colo’, afirma diretora

A Casa Abrigo Betel foi fundada há nove anos pela pedagoga Maria José Cavaleiro, diretora da instituição, que tem registros nos conselhos municipais de Assistência Social e de Direitos da Criança e do Adolescente de Duque de Caxias. Ela explica que, em 2000, o trabalho não era voltado para pessoas com deficiências.

- A associação tinha vários projetos. Em 2000, a Fundação para Infância e Adolescência (Fia) nos procurou dizendo que precisava de um lugar para abrigar portadores de deficiência. Nós tínhamos esse local, que, na época, era um galpão. A Fia o aprovou e trouxe pessoas. Esse tipo de trabalho não era o objetivo que tínhamos traçado, ele caiu no nosso colo - diz Maria José.

Hoje, o abrigo tem cerca de 50 funcionários, a maioria voluntários. Um deles é o filho da diretora, Daniel Cavaleiro, um dos coordenadores da instituição. De acordo com Maria José, ele cumpre todas as exigências no que diz respeito ao tratamento para pessoas com deficiência. Ela afirma, no entanto, que manter a instituição é uma tarefa difícil:

- Temos convênios municipais, estaduais e federais, mas todos só ajudam com alimentação e material de higiene. Fazemos muito com recursos próprios e doações. A partir do momento que assumimos essa responsabilidade, temos de correr atrás.

Maria José relata que um psiquiatra e um clínico geral visitam o local uma vez por mês para examinar crianças, adolescentes e adultos. Ela nega que os medicamentos usados não sejam adequados.

- Cada um tem seu tratamento específico. Não sei os nomes dos remédios que tomam e o que cada um tem porque não sou médica. Quando abrimos, a Fia mandou tudo misturado para a gente - diz, referindo-se à variedade de deficiências. - Estamos tentando focar um determinado perfil de problema motor ou psíquico.

Por que agora?

Folha de S. Paulo, 04/12/2009:

Por que agora?

CÉSAR BENJAMIN
ESPECIAL PARA A FOLHA

DEIXO de lado os insultos e as versões fantasiosas sobre os “verdadeiros motivos” do meu artigo “Os Filhos do Brasil”. Creio, porém, que devo esclarecer uma indagação legítima: “por quê?”, ou, em forma um pouco expandida, “por que agora?”. A rigor, a resposta já está no artigo, mas de forma concisa. Eu a reitero: o motivo é o filme, o contexto que o cerca e o que ele sinaliza.

Há meses a Presidência da República acompanha e participa da produção desse filme, financiado por grandes empresas que mantêm contratos com o governo federal.

Antes de finalizado, ele foi analisado por especialistas em marketing, que propuseram ajustes para torná-lo mais emotivo.

O timing do lançamento foi calculado para que ele gire pelo Brasil durante o ano eleitoral. Recursos oriundos do imposto sindical - ou seja, recolhidos por imposição do Estado - estão sendo mobilizados para comprar e distribuir gratuitamente milhares de ingressos. Reativam-se salas pelo interior do país e fala-se na montagem de cines volantes para percorrerem localidades que não têm esses espaços. O objetivo é que o filme seja visto por cerca de 5 milhões de pessoas, principalmente pobres.

Como se fosse pouco, prepara-se uma minissérie com o mesmo título para ser exibida em 2010 pela nossa maior rede de televisão que, como as demais, também recebe publicidade oficial. Desconheço que uma operação desse tipo e dessa abrangência tenha sido feita em qualquer época, em qualquer país, por qualquer governante. Ela sinaliza um salto de qualidade em um perigoso processo em c urso: a concentração pessoal do poder, a calculada construção do culto à personalidade e a degradação da política em mitologia e espetáculo. Em outros contextos históricos isso deu em fascismo.

O presidente Lula sabe o que faz. Mais de uma vez declarou como ficou impressionado com o belo “Cinema Paradiso”, de Giuseppe Tornatore, que narra o impacto dos primeiros filmes na mente de uma criança. “O Filho do Brasil” será a primeira - e talvez a única - oportunidade de milhões de pessoas irem a um cinema. Elas não esquecerão.

Em quase oito anos de governo, o loteamento de cargos enfraqueceu o Estado. A generalização do fisiologismo demoliu o Congresso Nacional. Não existem mais partidos. A política ficou diminuída, alienada dos grandes temas nacionais. Nesse ambiente, o presidente determinou sozinho a candidata que deverá sucedê-lo, escolhendo uma pessoa que, se eleita, será porque ele quis. Intervém na sucessão em cada Estado, indicando, abençoando e vetando. Tudo isso porque é popular. Precisa, agora, do filme.

Embalado pelas pré-estreias, anunciou que “não há mais formadores de opinião no Brasil”. Compreendi que, doravante, ele reserva para si, com exclusividade, esse papel. Os generais não ambicionaram tanto poder. A acusação mais branda que tenho recebido é a de que mudei de lado. Porém os que me acusam estão preparando uma campanha milionária para o ano que vem, baseada em cabos eleitorais remunerados e financiada por grandes grupos economicos. Em quase todos os Estados, estarão juntos com os esquemas mais retrógrados da política brasileira. E o conteúdo de sua pregação, como o filme mostra, estará centrado no endeusamento de um líder.

Não há nada de emancipatório nisso. Perpetuar-se no poder tornou-se mais importante do que construir uma nação. Quem, afinal, mudou de lado? Aos que viram no texto uma agressão, peço desculpas. Nunca tive essa intenção. Meu artigo trata, antes de tudo, de relações humanas e é, antes de tudo, uma denúncia do círculo vicioso da extrema pobreza e da violência que oprime um sem-número de filhos do Brasil. Pois o Brasil não tem só um filho.

Reitero: o que escrevi está além da política. Recuso-me a pensar o nosso país enquadrado pela lógica da disputa eleitoral entre PT e PSDB. Mas, se quiserem privilegiar uma leitura política, que também é legítima, vejam o texto como um alerta contra a banalização do culto à personalidade com os instrumentos de poder da República. O imaginário nacional não pode ser sequestrado por ninguém, muito menos por um governante.

Alguns amigos disseram-me que, com o artigo, cometi um ato de imolação. Se isso for verdadeiro, terá sido por uma boa causa.

CÉSAR BENJAMIN, 55, militou no movimento estudantil secundarista em 1968 e passou para a clandestinidade depois da decretação do Ato Institucional nº 5, em 13 de dezembro desse ano, juntando-se à resistência armada ao regime militar. Foi preso em meados de 1971, com 17 anos, e expulso do país no final de 1976. Retornou em 1978. Ajudou a fundar o PT, do qual se desfiliou em 1995. Em 2006 foi candidato a vice-presidente na chapa liderada pela senadora Heloísa Helena, do PSOL, do qual também se desfiliou. Trabalhou na Fundação Getulio Vargas, na Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, na Prefeitura do Rio de Janeiro e na Editora Nova Fronteira. É editor da Editora Contraponto e colunista da Folha.

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Leia também:

Os filhos do Brasil

Coluna do Milton

ALÔ ALÔ, BOLHAS. CRIADORES DA CRISE SOMOS NÓS MESMOS

Milton Coelho da Graça

Paul Krugman, Nobel de Economia de 2008, mais uma vez ganhando um dinheirinho no Brasil como palestrante no encerramento da ExpoManagement, disse anteontem em São Paulo que vai vender todos os seus investimentos (poucos, segundo ele próprio) no Brasil. Por que? Ele receia os riscos que o país correndo ao se tornar “o queridinho” dos investidores internacionais. E aconselha muita cautela para não repetir as crises do México (1994) e Argentina (2004), também precedidas por alegria geral do mercado.

O real está valorizado demais, alerta Krugman, “porque os mercados estão perdendo o contato com a realidade”, o fluxo exagerado de capitais estrangeiros cria “o risco de formação de bolhas domésticas.”.

Certo, Mr. Krugman. Economista que refuta princípios básicos do neoliberalismo, mas, até para continuar a receber convites para palestras, tem o cuidado de não bater com muita força em teclas dolorosas para a sensibilidade dos ouvintes. Por exemplo, Krugman em momento nenhum menciona o fato fundamental de que uma boa parte (provavelmente a maior) desse fluxo de investimentos é de origem brasileira: saiu daqui – sabe Deus como! – e volta para aproveitar a deliciosa atração que o Brasil oferece com uma das mais altas taxas reais de juros em todo o mundo.

Krugman há muito tempo deixou de acreditar no dogma da absoluta racionalidade no comportamento das forças de mercado. Mas tem o cuidado de usar a palavra “bolha” para definir como surpresa e/ou novidade algo que Karl Marx explicou há mais de um século: valor e preço são dois conceitos diferentes.

Marx definiu valor de uma mercadoria como a quantidade de trabalho socialmente necessário para a produção dessa mercadoria.

O preço de um Big Mac é diferente em cada país e até independe das cotações cambiais. Mas a revista-ícone do mundo capitalista – The Economist – a considera a melhor “moeda” para a comparação entre economias de diferentes países. Por que? Porque, seja onde for, o Big Mac resulta da mesma quantidade de trabalho socialmente necessário para produzi-lo. E o que é “trabalho socialmente necessário”: é trabalho qualificado pelo nível de conhecimento tecnológico que, pelo menos teoricamente, é adotado em todo o mundo pela rede McDonald.

Por razões facilmente compreensíveis, nem The Economist nem a rede Mcdonald explicam que essa idéia foi de Marx. Krugman também não vê motivo para falar sobre isso em suas palestras. Da mesma forma como os neoliberais – que com ele têm incansáveis embates e tertúlias acadêmicas – acham imprudente ir fundo na discussão das razões da crise. Crescente concentração da riqueza pela apropriação do avanço científico e tecnológico, desemprego e conseqüente queda no rendimento da maioria das famílias etc. – tudo fica reduzido a uma só palavra – “bolha” – síntese da surpreendente e inexplicável queda dos preços dos ativos, sejam eles máquinas, prédios, matérias primas ou dinheiro e outros papéis.

Sabemos todos o que significa “bolha”, em linguagem popular brasileira. Paul Krugman, no aviso de que pretende vender seus ativos em reais porque tem medo de “bolha”, na verdade também está se referindo a nós – os verdadeiros “bolhas” em toda essa história.

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“Um estadista é um político a serviço da nação. Um político é um estadista que coloca a nação a seu serviço.”

Georges Pompidou (1911-1974), Primeiro-ministro (1962-68) e Presidente da França (1969-74).

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MELHOR HOMENAGEM AO SACRIFÍCIO: A VERDADE

O presidente Lula, na visita à Ucrânia, afirmou que espera assistir, ainda em seu mandato, o lançamento do foguete Ciclone, da base de Alcântara.

Estamos todos torcendo junto com ele. Mas também continuamos torcendo para que a Aeronáutica esclareça as razões das mortes de 21 dos melhores cientistas e técnicos aeroespaciais brasileiros na explosão do foguete VLS em agosto de 2003. Todos temos direito de saber se houve ou não quebra das normas de segurança. Há uma versão de que estavam na plataforma muito mais pessoas do que o recomendável. Por causa da iminente partida de um avião para São José dos Campos, que levaria muitos desses cientistas e técnicos para o descanso semanal com suas famílias, teria havido relaxamento das normas e aumento do número de vítimas.

Seria ótimo que a Aeronáutica homenageasse a memória das vítimas daquele desastre com a divulgação de toda a verdade.

4.12.09

A alegria da meninada é a rua

DARCY RIBEIRO *

Não existe menor abandonado em nenhum país civilizado. Isso é uma impossibilidade tão gritante que eu, muitas vezes, tive que explicar por que temos tantos. São “coisa” nossa.

Assim é, porque naqueles países a cada criança corresponde uma escola onde ela passa o dia inteiro. Se foge ou escapa, é devolvida pela polícia ou pelo juiz, que até pode prender os pais. Lá não há, pelas mesmas razões, meninos de rua, que são também coisa nossa. Uns e outros são gerados por nossa escola de turnos.

Quando as cidades brasileiras incharam, com os milhões de gente expulsas do campo pelo medo da aplicação, ali, da legislação trabalhista, em lugar de mutiplicarmos as escolas ruinzinhas que tínhamos, as desdobramos em turnos: dois, três e até mais.

Nossa escola primária, de pouquíssimas horas, se especializou, desde então, no atendimento a crianças das classes médias, que já chegam a ela bem preparadas para a alfabetização. Têm casa onde se lê e onde há uma pessoa já escolarizada que as ajuda nos estudos.

A criança popular, que não tem tal casa nem a tal ajuda, porque provém de uma família sem escolaridade prévia, vê-se condenada à reprovação.

Ao fim de longos anos, uns poucos conseguem concluir a 4ª série, que é quando efetivamente se alfabetizam. O que chamamos de alfabetizado é, na maioria dos casos, quem apenas desenha o nome, incapaz de escrever uma carta, ler um anúncio de jornal ou fazer uma conta. É um marginal da civilização letrada, sem qualquer capacidade de continuar aprendendo na escola ou por seu esforço.

O pior dessa história é que floresce no Brasil uma pedagogia tarada e vadia, segundo a qual o fracasso da criança pobre na escola é culpa dela própria. A escola não tem nada a ver com isso, nem tem que se comover.

Na verdade das coisas, a criança brasileira das favelas e das periferias das metrópoles é tão maltratada pelo sistema educacional que o governo lhe dá, que seu destino melhor é a rua.

Ruim é ficar em casa, curtindo fome, roubar na feira com risco de morte ou ir para o lixo procurar alguma porcaria comível. Muitíssimo melhor é a aventura da vida urbana em seu esplendor de luzes, vitrines, carros, passantes e sons, além da possibilidade de roubar alguém para comer e cheirar cola.

Melhor ainda é abraçar a carreira de “aviador” no tráfico, que ganha bom dinheiro para a família e vive, entre a criançada, o papel de herói até que seja cravejado de balas - pela polícia ou pelos traficantes.

* Em 09/1995

3.12.09

Hoje não é dia de festa

ANDREI BASTOS

Hoje, 3 de dezembro, é o Dia Internacional das Pessoas com Deficiência. Olhando pelo retrovisor da história, vemos uma longa estrada cheia de obstáculos que superamos, e que vai ficando para trás. As paisagens que estão à frente, e ainda desconhecemos, certamente serão mais bonitas e acolhedoras do que as do território inóspito que atravessamos desde o início de nossa luta por inclusão e emancipação.

Para indicar e clarear os novos caminhos que trilharemos, temos hoje a Convenção da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, uma lei internacional que, pela primeira vez, vigora de fato em um dia 3 de dezembro no Brasil, pois seu último ato de promulgação, o Decreto 6.949 da Presidência da República, ocorreu no dia 25 de agosto.

A bem-vinda Convenção da ONU veio coroar um processo que, em nosso país, começou com o ‘Imperial Instituto dos Meninos Cegos’, criado por D. Pedro II em 1854. De lá para cá, geralmente em sintonia com o movimento nas outras partes do mundo, as brasileiras e os brasileiros com deficiência, identificados pelo Censo 2000 do IBGE como 14,5% da população, vêm realizando conquistas cada vez mais definitivas.

Para ficar apenas na última década, por sua alta significação política, merecem destaque as leis federais 10.048, que nos dá prioridade no atendimento; 10.098, que estabelece normas gerais e critérios básicos para a promoção da acessibilidade, e o Decreto 5.296, que as regulamentou. Com esses dispositivos, o Brasil passou a ter uma das melhores legislações do mundo para pessoas com deficiência.

Infelizmente, ao mesmo tempo que ocupa um dos primeiros lugares nesse quesito, nosso país atravessa o samba e é um dos últimos no cumprimento das leis, de suas próprias leis. São inegáveis a disposição e a vontade política que as pessoas com deficiência sempre apresentaram, por exemplo, no combate às máfias do transporte coletivo, que ainda hoje desafiam a sociedade com suas patranhas, na rejeição ao “Estatuto do Coitadinho”, que parlamentares mal-intencionados tentaram lhes impingir, ou na denúncia dos criminosos dos Jogos Parapan-Americanos Rio-2007, que cometeram discriminação ao determinar tratamento diferenciado e inferior aos atletas com deficiência e deveriam ser responsabilizados pela morte do atleta argentino Carlos Maslup.

Apesar de essa garra fazer toda a diferença e marcar a trajetória da luta, existe o descumprimento das leis citadas acima e, o que é pior, ainda falta muito a ser feito para a conscientização da sociedade, particularmente no interior do País, onde as pessoas com deficiência ainda são tratadas como na Idade Média, com total obscurantismo. Avançamos muito nos principais centros urbanos, mas pouco ou nada fizemos por nossos pares nos grotões, e eles ainda são abandonados nas ruas pelas próprias famílias ou escondidos nos quartos dos fundos. Chegou a hora de levarmos o processo de inclusão para o interior brasileiro, para as favelas e comunidades pobres, fazendo verdadeiramente o que prega a Convenção da ONU, cujo texto prioriza as pessoas com deficiência pobres do planeta na África, na América Latina, na Ásia.

Finalmente, além do texto da Convenção e do que colocam muitas das questões específicas da deficiência, os números de censos e pesquisas que a abordam nos dizem com clareza que ela está diretamente relacionada à pobreza no mundo inteiro. É por isso que, hoje, não é dia de festa.

2.12.09

Blogueira condenada

O Globo Online, Digital, 02/12/2009:

Blogueira é condenada a pagar indenização por criticar atendimento em consulta médica

Clique aqui e saiba mais.

Pré-Vestibular Redes da Maré


Mídia e Censo 2010

“O papel da mídia e o impacto na opinião pública sobre os dados desagregados de gênero e raça no Censo 2010″

Debate e reflexão sobre o papel dos meios de comunicação de massa na produção de conteúdos e como a mídia sensibiliza a opinião pública a partir dos dados desagregados do Censo.

Dia: 9 de dezembro de 2009 (quarta-feira)
Horário: 19h às 21h30m
Local: Auditório do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Rio de Janeiro, à Rua Evaristo da Veiga 16, 17º andar - Centro

Participação: Programa Regional de Incorporação das dimensões de Gênero, Raça e Etnia nos Programas de Combate à Pobreza da Bolívia, Brasil, Guatemala e Paraguai. UNIFEM BRASIL E CONE SUL.

Produção: Comissão de Jornalistas Pela Igualdade Racial do Rio de Janeiro (Cojira-Rio) do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Município do Rio de Janeiro (SJPMRJ)
Coordenação: Cojira-Rio: Angélica Basthi, Miro Nunes e Sandra Martins
Informações: mironunes@hotmail.com

Cão-guia no TJ-RJ

Consultor Jurídico, 12/11/2009:

Prédio do TJ-RJ
Advogada consegue direito de circular com cão-guia

Por Fabiana Schiavon

Depois de uma petição e diversas reportagens na imprensa, a advogada Deborah Prates conseguiu que o presidente do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro permita sua entrada no tribunal com seu cão-guia, sem acompanhamento. Cega há três anos, Deborah foi impedida de entrar no prédio quando o desembargador Luiz Zveiter baixou uma portaria proibindo a entrada de cachorros no local.

No ofício, o desembargador dá a permissão à advogada de circular livremente, pelo tempo necessário no tribunal com seu cão-guia, sem a necessidade de ser acompanhada por seguranças do prédio. O documento informa que a decisão foi tomada por conta de o cachorro preencher as exigências da Lei 11.126/05, que permite a entrada de cãos-guia em qualquer estabelecimento. “O cão se encontra com a carteira de vacinação atualizada e ainda apresenta comprovação de treinamento”, diz o documento.

Deborah, ativa na sua profissão de advogada, já frequentava o local há mais de um ano com seu cão-guia antes da determinação. Ela decidiu encaminhar uma petição ao presidente do tribunal reclamando seu direito. A única coisa que conseguiu foi a permissão de entrar, mas escoltada por policiais. A justificativa de Zveiter era de que o cachorro poderia assustar os demais visitantes do tribunal.

A advogada insistiu no fato com base na lei que garante a entrada de cães-guia em lugares públicos ou privados de uso coletivo. A norma pune com multa quem impede a entrada dos cegos e seus cachorros. Pouco mais de uma semana depois que a revista Consultor Jurídico publicou a reportagem, o desembargador decidiu liberar a entrada livre da advogada acompanhada de seu cão.

Dia de salvar o clima

Caros amigos,

Chegou a hora de agir. Daqui a poucas semanas os líderes mundiais se reunirão em Copenhague para discutir um novo acordo climático global.

A maior ameaça? Que entre a politicagem e a burocracia, o mundo se esquece o que está em jogo.

Então o plano é o seguinte: durante as negociações, organizar vigílias à luz de velas em cada canto do planeta, dando assim uma face humana à crise climática. Será a maior mobilização climática já vista, um evento que os líderes mundiais e meios de comunicação não poderão perder.

Para começar, basta escolher um bom local para a vigília e cadastrá-lo no nosso mapa. Organizar o evento é mais fácil ainda - basta trazer algumas velas e distribuir mensagens (que serão disponibilizadas por nós) para as pessoas se revezarem na leitura. Demora menos de uma hora para organizar - e os membros da Avaaz na sua área serão convidados a participar.

O clima precisa de nós, vamos reagir à altura.

http://www.avaaz.org/po/real_deal_hosts

Faltam poucas semanas para o momento mais importante na luta contra o aquecimento global. Nós não esperamos, nem admitimos, nada menos do que é necessário para salvar o nosso planeta.

Veja como cada evento vai fazer a diferença:

Pressão nacional - nas negociações globais cada país faz a diferença, para melhor ou para pior. O problema é que na maioria das vezes as negociações internacionais não são acompanhadas ao nível nacional. Portanto, eventos locais mostrarão aos governantes que no/em Brasil nós estamos atentos, e contamos com o poder de um movimento internacional coordenado para identificar e denunciar os países que boicotarem o progresso.

Mídia internacional - para gerar uma história para a mídia internacional é preciso colocar o mundo em ação. Precisamos mostrar aos jornalistas que este não é só mais um protesto: é um dia de ação global coordenado e em escala maciça. Nós já demonstramos que isto funciona – a nossa Hora de Acordar Global e o dia de ação 350, geraram uma enorme cobertura da imprensa internacional este ano. Durante as negociações de Copenhague o interesse da mídia será ainda maior. Milhares de vigílias em todo o planeta irão dar à este evento a escala que precisamos para ter um impacto midiático.

Registro fotográfico - Fotos das vigílias ao redor do mundo serão impressas e entregues aos negociadores e líderes globais em Copenhague. Eles são a prova de que pessoas do mundo todo esperam uma solução ambiciosa para o nosso planeta: um acordo climático pra valer. As fotos da ação serão colocadas na Internet para milhões de membros da Avaaz verem e também serão distribuídos para a mídia internacional.

O clima não pode esperar – todos nós podemos fazer a diferença.

http://www.avaaz.org/po/real_deal_hosts

Obrigado por fazer parte disso tudo,

Alice, Ricken, Ben, Taren, Iain, Graziela, Sam, Milena, Paul, Luis, Julius, Lisa e toda a equipe Avaaz

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SOBRE A AVAAZ

Avaaz.org é uma organização independente sem fins lucrativos que visa garantir a representação dos valores da sociedade civil global na política internacional em questões que vão desde o aquecimento global até a guerra no Iraque e direitos humanos. Avaaz não recebe dinheiro de governos ou empresas e é composta por uma equipe global sediada em Londres, Nova York, Paris, Washington DC, Genebra e Rio de Janeiro. Avaaz significa “voz” em várias línguas européias e asiáticas. Telefone: +1 888 922 8229

Para entrar em contato com a Avaaz, escreva para info@avaaz.org. Você pode nos telefonar nos números +1-888-922-8229 (EUA) ou +55 21 2509 0368 (Brasil). Se você tiver problemas técnicos visite:
http://www.avaaz.org